O pioneirismo de meu pai

Meu saudoso pai, Accácio Pedroso, era natural de Jaguariaíva, onde nasceu em 9 de abril de 1890, filho de Fortunato Pedroso de Almeida e Jesuína Pedroso de Almeida, sendo o mais novo de uma prole não muito grande.

Mas, para bem explicar quando, como e porque se dirigiu a Foz do Iguaçu, mister se faz que se volte aos tempos de sua Descoberta.

Valho-me, para tanto, de um histórico opúsculo, sob o título Descoberta da Foz do Iguassú e Fundação da Colônia Militar, dado a lume em 1938, de autoria do desbravador José Maria de Brito, que assim se apresenta, in verbis: ?Fui sargento da Expedição Militar que em 1888 veio do Rio de Janeiro para Guarapuava, sob o comando do bravo capitão e mais tarde general Bellarmino de Mendonça, para descobrir a foz do Rio Iguassú no Rio Paraná, tomar posse para o Brasil de toda a região que vae das Sete Quedas em Guayra até a Foz do Iguassú, até então praticamente sob o domínio da Argentina e do Paraguay e finalmente abrir vias de comunicação com o sertão do oeste paranaense e fundar colônias militares que tiveram por séde Foz do Iguassú, Xopim e Xanxerê?.

Aduz, então, que ?fazendo parte do destacamento do tenente José Joaquim Firmino, José Maria de Brito foi um dos descobridores da foz do rio Iguassú em 1889, através de uma picada de 60 léguas pelo sertão desconhecido e só habitado por animais selvagens, feras bravias e bugres que nunca antes tiveram contacto com civilizados?.

E, como esclarece mais adiante, ?Apesar de todos os contratempos, a turma exploradora atingiu seu objetivo, isto é, a Fóz do Iguassú, no dia 15 de julho de 1889 aos 7 meses e 20 dias de trabalho?.

De outra parte, informa, para a história, que a ?Colônia Militar da foz do Iguassú?, foi fundada em 22 de novembro de 1889, certo que, ?No dia 23 o 1.º tenente vice-director publicou a ordem do dia sob n.º 1?.

Pois bem.

Meu pai, cujo irmão Major Fulgêncio Pedroso se estabelecera em Foz do Iguaçu, à chamado deste, dirigiu-se àquela cidade, nos idos de 1906, valendo-se como meio de transporte, de uma diligência (ônibus da época), de Jaguariaíva até Guarapuava, onde o aguardava um paraguaio com duas mulas, utilizando destas para chegar a Foz do Iguaçu, pelas linhas do telégrafo.

Não se sabe, exatamente, quanto tempo durou a viagem.

Dedicando-se ao comércio, com seu irmão, em 1912 contraiu núpcias com Sara Sottomaior, filha de Ignácio de Sá Sottomaior e Rita Sottomaior, cuja família se originara de Curitiba, das cercanias da atual Rua 13 de maio.

O casal teve vários filhos, certo que alguns não sobreviveram, à exceção de Ignácio Reuther, Ruth, Luis Renato e Chrisóstomo Roberto.

O primeiro formou-se em Direito, ingressando na carreira do Ministério Público, falecendo há mais de vinte anos, quando exercia o cargo de promotor de Justiça em Paranaguá.

Ruth dedicou-se ao magistério e foi diretora do Grupo Escolar Bartholomeu Mitre, de Foz do Iguaçu, morrendo alguns anos atrás.

Este escriba, como é fato conhecido, fez carreira na magistratura, chegando à presidência do egrégio Tribunal de Justiça, aposentando-se em seguida.

Chrisóstomo Roberto foi funcionário do Departamento de Geografia, Terras e Colonizações, estando aposentado e residindo nesta capital.

Accácio Pedroso manteve, por muitos anos, uma casa comercial, onde vendia de tudo e que era abastecida com mercadoria advinda de São Paulo, via fluvial, a exemplo do que ocorria com outros comerciantes, como Cândido Ferreira, Marcelo Risden, Elfrida Engel Nunes Rios.

Mas, era sobretudo um nacionalista, reivindicando melhorias para a cidade junto às autoridades estaduais.

Chefe político, à época do Território Federal do Iguaçu, na administração do coronel Garcês do Nascimento, exerceu o cargo de prefeito municipal.

Com a substituição do então governador, foi nomeado inspetor de ensino de todo o território, o que implicava em demoradas viagens pelo interior, inspecionando as chamadas Escolas Isoladas, o que fazia por jeep e até a cavalo, levando consigo, sempre, discos com o Hino Nacional, Hino à Bandeira e Hino da Independência, o que revelava seu acendrado patriotismo.

Por implemento de idade, aposentou-se neste último cargo e, doente, aos 88 anos de idade, faleceu em Curitiba, sendo trasladado para o Cemitério Municipal de Foz do Iguaçu, onde repousa ao lado de sua esposa Sara, cujo óbito ocorrera em 1967. Foi agraciado, em vida, com o título de Comandante Honorário do Batalhão de Fronteiras.

Hoje é nome de rua e de escola, em Foz do Iguaçu e, também de um estabelecimento de ensino, em Cascavel. Essa, em resumo, a história de vida de um pioneiro, que ajudou a fundar o Oeste Paraná Clube e o ABC Futebol Club e que se doou, inteiramente, a Foz do Iguaçu, minha querida cidade natal!

Luís Renato Pedroso é desembargador jubilado, presidente do Centro de Letras do Paraná e vice-presidente do Movimento Pró-Paraná.

Voltar ao topo