Perda

Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos

Foto: José Cruz / Agência Brasil.

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, figura emblemática da esquerda latino-americana, faleceu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. Sua morte ocorreu após meses de luta contra um câncer de esôfago, encerrando uma vida marcada por ideais progressistas e um estilo de vida simples que cativou admiradores em todo o mundo.

Mujica ganhou projeção internacional em 2012, durante a Conferência Rio+20, ao questionar os padrões de consumo globais. “O que acontecerá no dia em que os indianos tiverem a mesma proporção de carros por família do que os alemães?”, indagou ele, alertando sobre os riscos ambientais do consumismo desenfreado.

Governante do Uruguai de 2010 a 2015, Mujica se destacou por sua abordagem inovadora em questões como a legalização da maconha e o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sua gestão também foi marcada pela redução significativa da pobreza no país, de 32,6% em 2006 para 8,1% em 2018.

Mesmo como presidente, Mujica manteve seu estilo de vida despojado. Recusou-se a morar na residência oficial, preferindo seu modesto sítio nos arredores de Montevidéu. Seu icônico Fusca azul e a decisão de doar dois terços de seu salário para projetos sociais reforçaram sua imagem de político diferenciado.

A trajetória de Mujica foi marcada por contrastes. Ex-guerrilheiro do movimento Tupamaros nos anos 1960, ele passou 13 anos preso durante a ditadura militar uruguaia. Após a redemocratização, abraçou a política institucional, tornando-se deputado em 1995 e, posteriormente, presidente.

Amigo próximo do ex-presidente Lula, Mujica manteve laços estreitos com o Brasil. Seu último encontro com Lula ocorreu em março deste ano, durante a posse do presidente uruguaio Yamandú Orsi. Em dezembro de 2024, Lula visitou Mujica em seu sítio, concedendo-lhe o grande colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

Apesar de sua orientação política, Mujica não hesitava em criticar governos de esquerda que considerava autoritários. Em sua última entrevista à Folha, em maio de 2024, ele afirmou que Venezuela e Nicarágua “brincam com a democracia”.

Enfrentando a doença com serenidade, Mujica declarou em janeiro ao jornal Búsqueda: “Estou morrendo”. Em sua derradeira conversa com a Folha, refletiu sobre a mortalidade: “A morte é talvez o que dá valor à vida. (…) Nossa maneira de lutar contra a morte é uma luta impossível que sempre perderemos, mas lutamos com amor.”

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