Madoff não conseguiria montar fraude no Brasil, diz FT

O investidor Bernard Madoff não teria conseguido colocar em prática seu esquema fraudulento de pirâmide no Brasil, afirmou o jornal britânico Financial Times (FT) na edição de hoje. Segundo o periódico, a regulamentação mais apertada do setor financeiro brasileiro resulta em uma postura cautelosa, mas com efeitos benéficos para a estabilidade do sistema em meio à crise. A reportagem que aponta os pontos positivos da regulação do Brasil faz parte da cobertura do FT sobre as novas regras para o sistema financeiro, que foram anunciadas hoje pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

“Jamais haveria um Madoff brasileiro”, diz o diretor de Novos Negócios da BM&FBovespa, Paulo Oliveira, em entrevista ao jornal britânico. O FT lembra que, em muitos países, os reguladores e as bolsas exigem que as instituições informem somente a posição líquida dos clientes. Mas, no Brasil, as corretoras são obrigadas a passar informações sobre todas as transações de todos os investidores, identificados por uma conta numerada. “Madoff, que inventava negócios e não era obrigado a apresentar provas, ficaria perplexo”, afirma o jornal. “Esse é apenas um dos muitos aspectos da regulação no Brasil, que ajudou o país a evitar o pior da crise econômica global.”

Para o FT, nem todos os pontos da regulamentação brasileira foram projetados e alguns são resultado da demora para uma modernização antes da crise. No entanto, agora oferecem lições. Um ponto questionável, segundo o jornal britânico, são os elevados depósitos compulsórios impostos aos bancos. Enquanto muitos países já removeram essa obrigação, no Brasil os compulsórios representam cerca de 30% de todos os depósitos, um nível “extraordinariamente alto”.

Mesmo assim, argumenta o periódico, quando a crise se abateu sobre o Brasil no ano passado, o Banco Central conseguiu liberar rapidamente R$ 100 bilhões dos compulsórios para assegurar que os bancos teriam recursos suficientes. O FT cita ainda os elevados juros no Brasil, uma herança do passado de instabilidade econômica que acabou sendo útil na crise, pois deu espaço de manobra suficiente para o BC reduzir as taxas e estimular a atividade.

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