Irlanda rejeita o Tratado de Lisboa da União Européia

A Irlanda rejeitou em referendo o Tratado de Lisboa da União Européia, num duro golpe para governo irlandês e para o bloco europeu. De acordo com os resultados oficiais da votação, que ocorreu na quinta-feira, 53,4% dos eleitores irlandeses rejeitaram o tratado, enquanto 46,6% votaram a favor.

Com o resultado, a Irlanda assume a responsabilidade de que seus 4 milhões de habitantes – que representam menos de 1% da população de 490 milhões do bloco – emperraram um tratado considerado vital para o futuro político da UE. O Tratado de Lisboa tem o objetivo de substituir a Constituição européia, projeto rejeitado pela França e Holanda em referendos em 2005. Entre os principais pontos do tratado estão a criação de um presidente da UE com mandato de dois anos e o fortalecimento da figura do responsável pela política externa.

A derrota foi especialmente humilhante para o primeiro-ministro Brian Cowen, que assumiu o cargo há poucas semanas, após a decisão de Bertie Ahern de renunciar. "A derrota criou uma situação difícil, que não terá solução simples", disse. Cowen terá de explicar, na semana que vem, durante reunião da UE em Luxemburgo, porque a campanha do governo irlandês falhou.

Cowen terá de justificar também porque um dos países que mais se beneficiou da estrutura da UE votou contra o avanço do grupo. Desde que tornou-se parte do bloco em 1973, a Irlanda recebeu ? 40 bilhões da UE.

Como único país do bloco que submeteu o voto a referendo (uma vez que o tratado exigiria alterações em sua Constituição – nos demais países a aprovação será feita ou foi feita pelos Parlamentos), o governo irlandês lançou uma forte campanha para aprovação do tratado. Os três principais partidos do país apoiaram o bloco do "sim".

A campanha do "não" foi comandada pelo partido de ultradireita católica Sinn Fein e por grupos radicais de esquerda, que criticam duramente a influência da Europa no âmbito nacional irlandês.

Um dos principais motivos apresentados para a derrota foi a dificuldade dos irlandeses de entender do que se tratava o tratado.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, disse nesta sexta-feira que o processo de ratificação do Tratado de Lisboa da União Européia continuará, apesar da decisão dos eleitores irlandeses. Muitos políticos europeus criticaram os irlandeses pela rejeição ao tratado. Os governos da Alemanha e da França lamentaram em comunicado conjunto a decisão dos eleitores irlandeses e disseram que ela será respeitada, mas a reunião do Conselho Europeu, em 19 e 20 de junho, voltará a discutir a questão.

"Essa eleição não deve ser vista como um voto contra a União Européia," disse Barroso aos repórteres. "Eu acredito que esse tratado está vivo. Dezoito países integrantes do bloco já aprovaram o Tratado de Lisboa e a Comissão Européia acredita que as ratificações que faltam devem ser feitas."

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