Higiene bucal é importante para a saúde dos animais

A saúde começa pela boca. Por isso, o tratamento dentário não deve ser exclusividade dos seres humanos. Problemas bucais também podem interferir na qualidade de vida dos animais, que anualmente devem ser levados ao consultório veterinário para verificação da arcada dentária.

A preocupação com os dentes dos bichinhos deve começar cedo. Assim como as crianças, cães e gatos possuem dentes de leite, que começam a cair no terceiro ou quarto mês de vida. Nesse período, os proprietários devem começar a acostumar os animais à escovação. "Existem escovas especiais, pasta de dente e mesmo dedeiras voltadas aos bichos. Porém a limpeza também pode ser realizada com gaze", diz a veterinária Jaqueline Vedolin, responsável pela clínica Mimos & Dengos, em Curitiba. "A pasta de dente comum nunca deve ser usada, pois possui flúor. O produto pode ser ingerido pelo animal e resultar em gastrite".

Tanto nos caninos quanto nos felinos, a dentição definitiva fica completa por volta do sétimo mês de vida. Quando isso acontece, a escovação deve ser realizada duas vezes por semana nos cães e uma vez a cada quinze dias nos gatos. "Os gatos geralmente rejeitam mais a escovação e salivam bastante com a pasta de dente. Então, o mais aconselhável é que a limpeza seja feita com gaze ou dedeira e apenas com água", orienta a veterinária.

Aos cães, também é aconselhável fornecer brinquedos especiais que auxiliam na retirada do cálculo dentário (tártaro) e ração seca. Alimentos comuns favorecem o aparecimento de cáries.

Cães

O tártaro pode ocorrer em todos os animais, independente de raça, e causar doenças em outros órgãos, como problemas de fígado e coração. Porém, existem alguns males específicos, cujos tratamentos são parecidos aos do homem. Segundo a veterinária Maria Izabel Valduga, que atende na Odontocão, também em Curitiba, os cães pequenos têm predisposição a permanecerem com os dentes de leite. Assim, é comum haver dupla dentição (os dentes definitivos nascem sem que os de leite tenham caído). "Os definitivos ficam mais para dentro, gerando feridas e até perfurações no céu da boca. A única solução é extrair os de leite e fazer – muitas vezes através de aparelhos ortodônticos – com que os definitivos se ajeitem".

Nos cães de grande porte, são freqüentes as fraturas dentárias geradas pelo fornecimento de ossos naturais. Ao roer os ossos, os animais acabam quebrando os dentes. Se a fratura for superficial, pode haver restauração. Caso contrário, é necessário fazer extração e, muitas vezes, tratamento de canal. O tratamento dentário de cães pode variar de R$ 200, no caso de uma limpeza, até R$ 2 mil, quando é necessário realizar implante. Tudo é feito com anestesia geral.

Gatos

Nos gatos, é comum a síndrome odontoclástica ou lesão de reabsorção do colo do dente felino, quando o dente é reabsorvido pelo organismo como se fosse um corpo estranho. O problema, que pode ocorrer na coroa ou na raiz do dente, gera muita dor e tem causas ainda desconhecidas. Em fase inicial, pode ser tratado com restauro. Porém, na maioria das vezes, a doença continua atacando por baixo da restauração e a única solução acaba sendo a extração.

Pela arcada se sabe a idade do cavalo

Os dentes dos cavalos nunca param de crescer e se desgastar. Dessa forma, os animais necessitam de auxílio veterinário constante e têm a idade avaliada pela arcada dentária. No início da vida, os eqüinos possuem 24 dentes de leite, que começam a cair, em média, aos dois anos e meio de idade. A dentição definitiva é composta por 40 a 44 dentes.

"Os novos dentes crescem de dois a três milímetros por ano. Dependendo da raça do cavalo, só param de crescer após 25 ou 27 anos. Os animais vivem de 25 a 30 anos", explica o médico veterinário Luís Mário Pires de Souza, que trata dos animais no Jockey Club do Paraná.

Soltos na natureza, os cavalos costumam pastar entre 20 e 22 horas por dia e os dentes acabam se desgastando sozinhos. Domesticados, eles pastam menos e, conseqüentemente, o desgaste acaba não sendo o mesmo. Isso resulta em dentes pontiagudos, capazes de machucar ou mesmo cortar as bochechas dos animais.

"Os ferimentos interferem na condução do cavalo, que é feita pela boca através do freio ou bridão", diz Luís. "Para que isso não aconteça, os dentes do animal precisam estar sempre sendo lixados. O procedimento é realizado com a ação de sedativos e medicamentos para eliminar a dor. Dura de 40 minutos a uma hora".

O aparecimento de tártaro e cáries é considerado pouco comum em eqüinos. Eles podem ser alimentados com torrões de açúcar sem causar muitos prejuízos à saúde bucal. Entretanto, os cavalos são grandes vítimas de problemas de oclusão, quando os dentes superiores não são bem encaixados com os inferiores. "Geralmente a correção também é feita através de lixa. Porém, em alguns casos é necessária a utilização de aparelhos ortodônticos. Eles são feitos com placas de nylon e derivados de plástico". (CV)

Fraturas são comuns em carnívoros

Para os animais carnívoros -como os grandes e pequenos felinos, as raposas, lobos, cachorros-do-mato, entre outros -, uma boa dentição é imprescindível. Com grande força nas mandíbulas, eles dependem dos dentes para rasgar e mastigar a carne que os alimenta.

Por isso, no Passeio Público e no Jardim Zoológico de Curitiba, a preocupação com a saúde bucal dos bichos também é constante. Assim como os animais domésticos, os silvestres podem vir a ser vítimas de inúmeros problemas odontológicos, que interferem em seu bem-estar e disposição física.

Um dos males mais comuns entre as espécies mantidas em cativeiro é a fratura dentária proveniente de um comportamento adquirido por muitos indivíduos: roer as grades que os cercam. "Quando é possível, fazemos a restauração do dente quebrado. Caso contrário, o jeito é realizar extração e o animal infelizmente ficará com um dente a menos", afirma a médica veterinária do Passeio Público, Luciene Popp.

As infecções periodontais também são comuns entre os silvestres. Elas são causadas principalmente por pedaços de alimentos que ficam alojados entre a gengiva e o osso do animal. Diante da situação, que geralmente causa bastante incômodo à vítima, é necessário anestesiar o bicho, retrair a gengiva e realizar limpeza. Se a infecção atinge a raiz do dente, é preciso fazer extração.

"Outra coisa que nos preocupa bastante são as cáries. Nos zoológicos, é comum que erroneamente as pessoas alimentem os animais, jogando salgadinhos, pipocas e outros alimentos para eles. Isto prejudica muito os animais, desequilibrando a alimentação e contribuindo com o surgimento das cáries. Quando elas aparecem, o tratamento é muito semelhante ao realizado em seres humanos". (CV)

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