Frio já preocupa veterinários

Ainda falta mais de um mês para o início do inverno. Porém, o ar gelado percebido nos inícios de manhã e finais de tarde de Curitiba já está fazendo com que biólogos e médicos veterinários do Passeio Público e do zoológico comecem a se preocupar com a saúde e o bem-estar dos animais que vivem em cativeiro nos períodos de frio intenso.

Segundo a veterinária Luciane Popp, existem alguns bichos, como bisões, capivaras, cervos e camelos, que são adaptados ao frio e quase não sofrem com as baixas temperaturas. Entretanto, outros, como primatas e determinadas espécies de aves, necessitam de atenção especial.

Luciane: alguns animais são adaptados ao frio.

?Assim como os seres humanos, os animais sentem frio e podem adoecer quando lhes faltam cuidados e proteção. No inverno, os principais problemas costumam ser os distúrbios respiratórios, que podem atingir narinas, olhos e ouvidos ou mesmo pulmões e sacos aéreos (no caso das aves)?, explica Luciane.

Na grande maioria das vezes, o primeiro sinal de que o animal está doente é a falta de apetite. Depois, vem a apatia, os olhos lacrimejantes e presença de secreção nas narinas. Nos mamíferos, é comum a verificação de pêlos arrepiados e aumento da freqüência cardíaca. Entre as aves, as penas ficam arrepiadas e é percebido um balançar da cauda que indica que o animal está fazendo força para respirar.

Tanto no zôo quanto no passeio, os tratadores dos animais fazem vistorias diárias nos recintos para verificar se todos os moradores estão bem. Quando um indivíduo doente é identificado, os profissionais técnicos são acionados e o bicho começa a ser tratado, dentro da própria jaula ou em setores de isolamento. Muitas vezes, o tratamento envolve o uso de antibióticos, antiinflamatórios ou mesmo realização de inalação.

?Há bastante tempo isso não acontece no zôo e no Passeio Público, mas alguns animais podem vir a morrer devido ao frio. No inverno, é comum encontrarmos animais de vida livre, como marrecos, com a saúde bastante deteriorada. Quando isto ocorre, também os recolhemos e os tratamos antes de devolvê-los a seus habitats naturais?, comenta.

Cuidados

Lucimar do Carmo/O Estado
Nos mamíferos, é comum ver pêlos arrepiados e aumento da freqüência cardíaca.

No zoológico, a maior atenção é voltada aos primatas. Nos períodos de frio, eles recebem alimentação complementar, onde é reforçado o consumo de proteínas. A chimpanzé Imperatriz, que é o animal mais velho do zôo, com quase 40 anos de idade, recebe, além da alimentação normal, pão, mel e leite em garrafinha. Estes produtos são fornecidos pela manhã, junto com carnes cozidas, verduras e escarola. No final da tarde, o cardápio é composto por frutas.

Outros macacos, como o macaco-prego e o macaco-aranha, recebem como complemento apenas o mel e o pão. Isto porque geralmente eles não possuem a mesma desenvoltura da chimpanzé para tomar leite em garrafa. ?Imperatriz possui uma casa aquecida, mas quando está muito frio também fornecemos cobertores para que ela possa se aquecer. Fazíamos o mesmo com Jhony, o chimpanzé macho que vivia no zôo de Curitiba e que há pouco tempo foi levado para o Estado de São Paulo?.

Já as aves, além de rações balanceadas, passam a ingerir uma maior quantidade de gorduras. Os pássaros mais sensíveis, como por exemplo os papagaios e araras, passam a receber sementes com alto poder calórico, como nozes e castanhas. Além disso, os ninhos costumam receber uma quantidade extra de palha ou capim seco e as gaiolas podem ser protegidas com cortinas de plástico, o que também acontece com os recintos de pequenos primatas, como sagüis e micos-leões. As cortinas servem para evitar que os animais fiquem diretamente expostos ao vento. ?Nos recintos dos pequenos primatas, embora tenham casinhas de madeira fechadas, muitas vezes também são colocadas lâmpadas para que seja produzido maior calor?, informa a bióloga do zoológico da capital, Maria Lúcia Faria Gomes.

Cavalos também estão recebendo tratamento especial

Embora os cavalos sofram bem menos com o frio do que com o calor, eles também costumam receber tratamento especial quando as temperaturas começam a baixar. A informação é do médico veterinário do Jockey Club do Paraná, José Ronaldo Garotti.

?Os cavalos são originários da América do Norte e são acostumados com temperaturas bem menores que as verificadas no sul do Brasil. Por isso, eles se incomodam mais com o calor, quando podem adquirir endoparasitas e ectoparasitas, e com mudanças bruscas de temperatura. Mesmo assim, alguns cuidados são necessários durante o frio?, afirma.

Entre os animais mantidos em pasto, é necessário verificar a qualidade da pastagem, que pode se tornar muito seca e menos nutritiva. Quando isto acontece, é necessário plantar algo próprio para o frio e fornecer um suplemento alimentar através de ração.

?Também é importante dar continuidade ao manejo de vermífugos e realizar vacinação contra a gripe eqüina, que é provocada por vírus, e o garrotilho, que é causado por bactéria e gera infecção das vias aéreas superiores. Tudo isso faz com que o status imunológico do animal seja preservado e o aparecimento de problemas dificultado?.

Já entre os cavalos que vivem em estábulos e normalmente são utilizados para corrida, hipismo, baliza, provas com tambores e reprodução, a vacinação é ainda mais importante. Isto porque, quando um grande número de indivíduos é mantido num mesmo ambiente, as chances de as doenças serem transmitidas são muito maiores.

?A proliferação de doenças respiratórias costuma ser bastante rápida. Já aconteceram surtos de gripe eqüina que impediram campeonatos e geraram uma série de problemas em jockey clubs brasileiros?, explica José Ronaldo. Como os cavalos em estábulos geralmente já recebem rações, não costumam haver mudanças na alimentação. Para preservar o bem-estar dos animais, alguns proprietários e tratadores gostam de protegê-los com capas, que mais parecem cobertores, durante a noite e o início da manhã. O procedimento é comum no Jockey do Paraná, sendo que muito cavalos já podem ser vistos com o agasalho. (CV)

Casal de onças vai debutar nas baixas temperaturas

Os felinos, um macho e uma fêmea, estão em exposição desde março e já demonstram estar bem adaptados ao novo habitat.

No inverno deste ano, duas novas habitantes serão uma preocupação a mais para os funcionários do zoológico da capital. Duas onças-pintadas (Panthera onca) foram trazidas de Manaus, no último mês de janeiro, e pela primeira vez terão que se adaptar às baixas temperaturas normalmente observadas em Curitiba.

Os felinos, um macho e uma fêmea, estão em exposição desde março e, de acordo com a bióloga Maria Lúcia Faria Gomes, já demonstram estar bem adaptados ao novo habitat. ?Assim que o frio ficar mais intenso, vamos começar a observar o comportamento das onças e verificar o que pode vir a ser preciso para que elas se sintam melhore.?

Como os demais animais, as onças também estão sujeitas a serem vítimas de problemas respiratórios. Por isso, o que pode vir a ser feito, caso existam problemas, é o fechamento do recinto com cortinas de plástico, a colocação de tablados de madeira dentro das jaulas e o fornecimento de cobertores para que os bichos possam se aninhar. (CV)

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