Dos enigmas às charadas – Capítulo 5

As palavras cruzadas nasceram na cela de número 132 de uma penitenciária na Cidade do Cabo, para onde fora transferido Victor Orville, condenado na Inglaterra pelo homicídio culposo de sua esposa em acidente de automóvel, por direção perigosa. Caçula do enigmismo, ainda não completou seu primeiro século.

Atualmente o cruzadismo tradicional sofre a selvagem competição das cruzadas diretas, registradas no Instituto de Propriedade Industrial e veiculadas pelo grupo Coquetel ou sob sua licença.

Nos moldes tradicionais, permitem criatividade na exposição dos conceitos, fugindo do rígido texto dos dicionários e admitem as variações conhecidas como crescentes, sem esquema, herméticas, cruzadas em branco; apenas indicando a quantidade de casas mortas a serem distribuídas no diagrama.

O cruzadismo aumenta a sinonímia, expande o vocabulário e fornece conhecimentos gerais; mas sofre o desgaste das definições repetitivas de palavras curtas.

A imprensa ingressou na França em 1605, quando começou a circular a folha Mercúrio Francês, cujas edições desapareceram em 1664. Após dois retornos, desapareceu em definitivo em 1825.

Nas páginas daquele jornal, em 1698, surgiu o charadismo, com raiz milenar no enigma de Édipo.

Com o socorro de Ueniri, relacionamos célebres charadistas brasileiros: José de Alencar, Raimundo Correia, João Ribeiro, Olavo Bilac, Mário de Alencar, Medeiros e Albuquerque, Humberto de Campos, Francisco Cândido Xavier.

Por fim, os amantes do enigmismo se libertavam das figuras, dos símbolos, do imprescindível talento para o desenho; bastavam vocabulário, sinonímia e engenho na elaboração dos problemas.

Porém, todas as charadas baseadas em sílabas de palavras devem observar as regras gerais para sua construção. O conceito (ou total) e as chaves (ou parciais) devem ser perfeitamente verificáveis nos dicionários.

As chaves devem observar a sua forma silábica em concordância com as regras gramaticais, em nenhuma hipótese se partindo as sílabas.

Ainda, as chaves e conceitos serão sempre grifados; quando se reportam a termos de acepção diferente do enunciado, serão também colocados entre aspas ("") e serão destacados entre asteriscos (**) quando forem afixos, designação gramatical comum dos prefixos e sufixos.

Cada charada deve ser montada apresentando um pensamento perfeito, na expressão e na forma gramatical, seja em prosa, seja em verso; texto próprio ou de terceiro, aqui respeitando-se o original.

Lembrando o obrigatório atendimento às regras gerais, vão breves comentários sobre a forma de elaboração de dez modalidades de charadas. A cada vez, um exemplo prático com a decifração; seguido de trabalhos com numeração seqüencial, para deleite e exercício do leitor, com as soluções no final da reportagem.

A mais antiga espécie de charada é conhecida atualmente com as denominações de novíssima e adicionada. Adotaremos o derradeiro, pois ela consta de duas ou mais chaves, com indicativo do número de sílabas, cujos sinônimos serão somados (adicionados) na ordem em que estiverem no enunciado, para formarem o conceito.

Adicionada (AB + CD = ABCD)

Quando o mau PATRÃO vier a MORRER, nenhum criado irá se AFLIGIR (2,2).

Solução: AMO (sinônimo de patrão, com duas sílabas) + FINAR (sinônimo de morrer, com duas sílabas) = AMOFINAR (afligir).

01 – Teve um trieste FIM por absoluta falta de JUÍZO; morreu em lamentável acidente por ser EXIBICIONISTA ao dirigir veículo (2,2).

02 – Carregava um LONGO PATIM DE METAL PARA ANDAR SOBRE A NEVE, uma GRANDE QUANTIDADE de ataduras e talas e uma PEQUENA QUANTIDADE de algodão. Era um amante dos esportes de inverno, prevenido mas ESQUISITO (2,1,2).

03 – Bastante CALOR e PEQUENA QUANTIDADE de cerveja é a receita para transformar alegre festa em qualquer COISA ENFADONHA (2-2).

Com fundamento nas figuras gramaticais correlatas e com mecânica de montagem baseada na SUBTRAÇÃO de uma sílaba inicial, média ou final, temos as charadas aferéticas, sincopadas e apocopadas; todas com duas chaves grifadas e algarismos indicativos dos números de sílabas.

Aferética (ABC, BC)

Trata-se de um MEDICAMENTO antiquíssimo, já conhecido e largamente usado desde o tempo MEDIEVAL (4,3).

Solução: REMÉDIO (sinônimo de medicamento, com quatro sílabas). Excluindo-se a sílaba inicial, temos MÉDIO (sinônimo de medieval, com três sílabas).

04 – Para fazer o CAIXILHO usou madeira especial e RESISTENTE (3,2).

05 – O comando ordenou: manter a posição, RESISTIR a qualquer custo e COMBATER sem tréguas o inimigo (3,2).

06 – O DESPERDÍCIO do precioso tempo é bastante "COMUM" entre os preguiçosos (4,3).

SOLUÇÕES:

1 – CABOTINO; 2 – ESQUIPÁTICO; 3 – ESTOPADA; 4 – MOLDURA/DURA; 5 – IMPUGNAR/PUGNAR; 6 -MALBARATO/BARATO.

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