Cúmplices espirituais no assassinato do casal paulista

O crime ocorreu em outubro de 2002. Suzane von Richthofen, então com 19 anos, ajudou a planejar com antecedência de seis meses e facilitou a execução dos próprios pais. Contou com a participação do namorado e do irmão deste, que cometeram o duplo assassinato com barras de ferro enquanto o casal dormia. O motivo teria sido a proibição do namoro. Mas outros ingredientes se fizeram presentes como o uso de drogas e uma mal disfarçada cobiça pela herança. A moça, criada com muito carinho e nunca antes demonstrara qualquer tipo de desequilíbrio mental ou desajuste social, após o crime, revelou-se de uma frieza impressionante. O julgamento dos três está marcado para o mês de junho.

Um psiquiatra atribuiu o ato da jovem a fatores como paixão exacerbada, drogas e deficiências da educação. Somados poderiam levar ao absurdo de exterminar os próprios pais. Uma análise espiritual da questão leva-nos não só a endossar tal opinião como avançar além. Allan Kardec faz notar a necessidade da educação integral do ser humano e não somente a intelectual. Não basta fornecer às crianças e jovens boas escolas particulares e com instrução de alta qualidade. Suzane cursava o primeiro ano de Direito e fala três idiomas. Nada disto impediu o seu lamentável desvio de conduta.

Os mentores espirituais e Kardec, ele próprio notável especialista em pedagogia, ex-discípulo de Pestalozzi, esclareceram que o indivíduo precisa receber a educação física, intelectual, social e principalmente moral. Às vezes, a superproteção ou, inversamente, o excesso de liberdade pela incapacidade de se impor limites já caracteriza a falta de parâmetros na formação do caráter de um filho.

Quanto ao uso de drogas, a que sabidamente era dado o rapaz, razão alegada pelos pais para a proibição do namoro, e também por ela, dispensa maiores comentários. Todos sabemos quanta desgraça social elas têm provocado. Vícios, doenças, criminalidade contra indivíduos e o patrimônio público e elevadíssimo número de lesões corporais e assassinatos. Drogado, um indivíduo comete atos completamente injustificáveis e que ultrapassam largamente as suas próprias regras morais. Mas acontece que o crime de São Paulo foi premeditado.

O terceiro motivo citado pelo especialista foi a paixão desvairada. A paixão violenta e arrebatadora provoca verdadeira cegueira psíquica e moral. Sentimentos de posse, desejo incontrolável, egoísmo elevado ao mais alto grau, são capazes de causar muitos danos físicos e morais ao indivíduo. A razão fica um tanto quanto embotada e prevalece o instinto biológico, a atração sexual premente, etc. Embora esta seja a causa de muitos crimes passionais, mesmo entre pessoas maduras, a imensa maioria controla e supera tais arroubos não permitindo que interfiram tão profundamente em suas personalidades a ponto de se transformarem em impulsos patológicos.

Cada um destes fatores tem sua força e peso no resultado final. Arriscaríamos, porém, conjecturar sobre a possibilidade de uma interferência de outra natureza, mais sutil, invisível e nem por isso menos real e perigosa. Estamos nos referindo às chamadas obsessões, processos de influência espiritual perniciosa, por período de tempo significativo e que podem causar desde pequenos incômodos físicos como cefaléia, irritabilidade, insônia e depressão leve até sintomas muito mais graves, inclusive a loucura.

Não raro, determinados indivíduos, após cometer crimes hediondos, alegam que estavam possuídos pelo demônio, termo impróprio diante dos conhecimentos espíritas, pois a origem de todos os seres é a mesma, denotando somente uma condição temporária de extremo atraso moral daquele espírito. Algumas vezes apelar para esta justificativa não passa de esperteza para fugir à responsabilidade do ato e, mesmo que autêntica, não serve como atenuante. A influência maligna só se instala se a vítima, no caso o criminoso, deixar-se arrastar pelas tentações, ceder às sugestões negativas dos elementos exógenos.

Muitos dos nossos atos resultam da indução de agentes espirituais inferiores. Depende de nós, pela sintonia mental, atrair ou repelir este cerco negativo. Para contrabalançar, há os espíritos bondosos que nos emprestam proteção e orientam no sentido de práticas equilibradas. Este jogo de influências está bem resumido na questão 459 de O Livro dos Espíritos, que esclarece ser a influência dos espíritos bons e maus maior do que supomos, sendo que, ?freqüentemente, eles é que nos dirigem?. A escolha é nossa por pensamentos, atos e sentimentos.

As obsessões ocorrem não só de espíritos desencarnados sobre os chamados vivos, mas também destes para aqueles, entre dois desencarnados e finalmente de um encarnado sobre outro. No caso em pauta, possivelmente, além de eventuais falhas no processo de educação da jovem, da paixão descontrolada pelo namorado e uso de drogas, um quarto fator, uma obsessão espiritual, tenha se manifestado. Aliás, os três fatores anteriores funcionariam, eles próprios, como campo aberto a esta ação de natureza espiritual. Principalmente os dois últimos seriam verdadeiras portas escancaradas à entrada de entidades que, tendo ou não razões especiais para agredir (vingança, afinidade, desejo gratuito de praticar o mal, oportunidade pela fraqueza alheia), reforçaram ou até determinaram a deliberação de executar os pais. A paixão patológica com o exercício de um domínio absoluto por parte do rapaz implicaria por si só também numa obsessão.

Quanto às vítimas, difícil arriscar sobre as razões para o seu fim trágico. Simplista o raciocínio de que pela justiça de Deus necessariamente eles teriam que sofrer este tipo de agressão. Deus ter permitido pelo livre arbítrio humano não significa ter desejado, ser de sua vontade, a prática do crime. Teriam eles alguma culpa muito grave desta ou de uma vida pretérita para expiar? É possível. Apenas possível. Se é verdade que nada acontece por acaso e não há nenhum ato que não cause conseqüência, não é menos verdade que muitas coisas que aos olhos dos homens são consideradas desgraças, sob o prisma do espírito imortal podem receber outras interpretações. Uma certeza, porém. Os três autores do crime, quer venham a ser penalizados mais ou menos intensamente pela justiça terrena, não se subtrairão à perfeita justiça divina. O momento e a forma deste processo é que ignoramos.

Coluna de responsabilidade da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná.

E-mail: adepr@adepr.com.br

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