Câmara de gás faz parte do passado

?Quando se fala em câmara de gás, as pessoas lembram logo de Auschwitz (campo de concentração mantido pelos nazistas na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial) e associam a morte dos animais à matança de seres humanos promovida na época do holocausto. Este foi um dos motivos que nos fez decidir fechar de vez as portas da câmara?, explica o coordenador do centro, Cláudio Eduardo Feitosa.

A câmara de gás começou a ser usada em São José logo que o Centro de Controle de Zoonoses foi inaugurado, no ano 2000. Com o método, os animais eram pré-anestesiados, através de um composto de xilazina e cetamina, e levados para um espaço onde respiravam um gás letal, o CO (monóxido de carbono), proveniente do escapamento de um automóvel. Só no ano passado, 3.311 animais morreram no município por este sistema.

Com a eliminação da câmara, a eutanásia deixou de ser utilizada como medida de controle populacional de cães e gatos dentro do município. A suspensão da utilização do CO acabou provocando mudanças também na metodologia de trabalho da carrocinha. Até julho deste ano, eram capturados todos os animais encontrados nas ruas, estivessem eles saudáveis ou não. Atualmente, só são pegos os bichos visivelmente doentes ou que tenham histórico de agressão aos seres humanos.

?Quando utilizávamos a câmara de gás, uma média de quatrocentos animais eram capturados mensalmente pela carrocinha. Eles ficavam alguns dias à espera de seus donos antigos ou de novos donos para adotá-los. Caso estas pessoas não aparecessem, eram sacrificados com o gás letal?, comenta Cláudio. ?Hoje, a média de animais apreendidos pela carrocinha é de apenas 150 ao mês.?

Alguns animais, principalmente aqueles que ainda são filhotes, continuam sendo destinados à adoção. Apenas os animais comprovadamente doentes e em estado terminal são levados para eutanásia, que agora é realizada com injeção de cloreto de potássio, substância que provoca parada cardíaca. ?A utilização da injeção é mais cara para o município do que a utilização da câmara de gás. Porém, apesar do custo maior, a mudança tem valido a pena, pois o novo método é visto com melhores olhos pela população e tem sido bem aceito.?

O aumento dos custos financeiros está relacionado com a quantidade de anestésico dada aos animais antes dos procedimentos. A eutanásia com cloreto de potássio exige uma dose bem maior, que também aumenta conforme o tamanho do animal. Com a câmara de gás, era utilizada uma dose mínima recomendada pelos fabricantes dos medicamentos, que equivalia a R$ 1,70 por animal. A injeção exige dose cirúrgica, sendo gastos cerca de R$ 4,00 por cão ou gato. ?Também realizamos, quando solicitado, o procedimento em animais que possuem proprietário. Porém, exigimos que o dono providencie um atestado de médico veterinário comprovando que o bichinho está doente e não tem recuperação?, finaliza.

Centro faz campanha de castração

Com a intenção de que cada vez menos animais sejam abandonados nas ruas e acabem necessitando de eutanásia, o Centro de Controle de Zoonoses de São José deve iniciar, no próximo mês de janeiro, uma campanha de castração em parceria com o curso de Medicina Veterinária da PUCPR.

?A realização de castrações vai direto na causa da superpopulação de animais nas ruas, que é a reprodução descontrolada?, informa o médico veterinário do centro, José Edivaldo Bonacin. ?Através das cirurgias, é possível fazer uma intervenção direta na parte reprodutiva dos animais sem a necessidade de sacrificá-los.?

A campanha deve acontecer de bairro em bairro, sendo realizado o cadastramento dos animais encontrados nos locais. Posteriormente, as castrações serão disponibilizadas gratuitamente aos proprietários de animais que tiverem interesse. ?Nos animais machos, poderão ser feitas a retirada dos testículos ou a vasectomia. Nas fêmeas, as opções são a retirada dos ovários e do útero ou apenas dos ovários.? (CV)

Preocupação também com cavalos de carrinheiros

Outro programa de bastante destaque mantido pelo Centro de Controle de Zo- onoses de São José dos Pinhais, feito em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), é o que visa melhorar as condições de trabalho de cavalos utilizados por carrinheiros em atividades no município.

A partir das próximas semanas, representantes do centro devem se reunir com representantes de empresas fabricantes de carroças e do Detran-PR para tentar padronizar as carroças utilizadas no município. A intenção é de que os veículos deixem de ter um eixo e passem a ter dois.

?Puxar uma carroça de um eixo é bem mais desgastante aos cavalos, pois além da força de tração eles precisam fazer força para conseguir se equilibrar e manter no chão. Com a carroça de dois eixos, eles só precisam se esforçar para fazer a tração. Vai ser muito bom se conseguirmos adotar a mudança?, explica Cláudio Eduardo Feitosa.

Periodicamente, o centro também convida os carrinheiros a comparecerem em suas instalações e preencherem um cadastro informando detalhes sobre a saúde, os cuidados e condições de trabalho de seus animais. Na ocasião, os cavalos passam por exame clínico gratuito. ?É feito exame de sangue e de fezes, através do qual pode ser identificada a possível presença de parasitas. Além disso, os animais recebem uma dose de vermífugo, também fornecida de forma gratuita.? (CV)

1,3 mil animais mortos por mês em Curitiba

Pessoas dedicadas à defesa dos animais em Curitiba estão, há um longo período, batalhando para que, a exemplo de São José dos Pinhais, a utilização da câmara de gás seja banida também no Centro de Controle de Zoonoses e Vetores da capital. No local, são sacrificados cerca de 1,3 mil animais a cada mês. Todos são capturados pela carrocinha ou entregues por seus donos.

?A própria forma como a carrocinha captura os cães, laçando-os de qualquer jeito, já é uma violência. Depois, animais saudáveis são colocados em um mesmo ambiente com bichos doentes e agressivos, enfrentando muita angústia e estresse?, diz a presidente da organização não governamental SOS Bicho, Rosana Vicente Gnipper.

Segundo a presidente, na cidade de São Paulo, onde a câmara de gás também não é mais utilizada, o centro de zoonoses local realizou uma pesquisa com a população e constatou que a maioria das pessoas não quer que os animais sejam deixados soltos na rua. Porém, também não aceitam que eles sejam sacrificados. Rosana acredita que a pesquisa realizada na capital paulista reflita também a realidade verificada em Curitiba, embora na cidade não tenha sido feita consulta popular semelhante.

?A maior parte da população curitibana ainda não sabe da existência da câmara de gás. Como acontece em São Paulo, os moradores da cidade se preocupam com o fato de os animais viverem abandonados nas ruas e acham que eles devem ser capturados. Porém, muita gente ainda acredita que os cachorros são pegos pela carrocinha e levados para um abrigo onde ficam esperando para serem adotados. Se as pessoas soubessem que na verdade eles são mortos, ficariam bastante revoltadas?, acredita.

Na opinião de Rosana, os cães, assim como os gatos, conseguem pressentir a morte. ?Basta ter um pouquinho de sensibilidade para saber que os animais capturados pela carrocinha e levados para o centro de zoonoses são vítimas de grande sofrimento. A câmara de gás não é um método eficiente de controle populacional e muito menos de controle de zo-onoses?, declara. ?Por tudo isso, a SOS Bicho vem exigindo o fim das mortes de animais sadios pela câmara de gás.?

Centro

O coordenador do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores de Curitiba, Eric Koblitz, afirma que a câmara de gás é um método de eutanásia recomendado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e que não causa dor aos animais. De acordo com ele, é inviável para Curitiba seguir o exemplo de São José dos Pinhais e eliminar a câmara. ?Não temos como fazer isso, pois o volume de animais capturados na capital é muito grande. O que fazemos é tentar minimizar o número de cães sacrificados investindo em campanhas de castração para controle populacional?. (CV)

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