Ministro quer antecipar explicações ao Congresso

Sob pressão crescente, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quer antecipar sua ida ao Congresso para dar explicações sobre a quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa – que desmentiu o ex-ministro Antonio Palocci, ao declarar que ele freqüentava uma mansão alugada em Brasília por amigos de Ribeirão Preto.

"Quando marcarem, eu vou. Mas quero apressar para esta semana. Se não marcarem minha ida ao Congresso, vou dar uma entrevista coletiva", disse o ministro sem querer dar maiores esclarecimentos sobre o caso ou responder às críticas que está recebendo.

Depois de passar o fim de semana, o ministro voltou na noite de hoje à Brasília e deve se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã de amanhã, na reunião de coordenação política, realizada habitualmente às 9h30 no Palácio do Planalto. O ministro já conversou com Lula na tarde de sábado por telefone, depois que a revista Veja divulgou que Bastos tinha ido à casa Palocci no último dia 23, levando o advogado criminalista Arnaldo Malheiros.

"Já falei sobre isso na nota", respondeu o ministro, referindo-se ao texto divulgado por seus assessores para tentar rebater a revista.. Na nota, ele dizia que no encontro foram tratados "alguns aspectos genéricos da questão (quebra do sigilo)", sem citar quais aspectos seriam estes. "Vou falar isso no Congresso ou em uma coletiva que vou dar amanhã", insistiu.

Segundo o ministro da Justiça, ele não tratou, na conversa com o presidente Lula, da proposta de antecipação de ida ao Congresso, porque isso só foi decidido posteriormente. "Não falei com ele sobre minha disposição de antecipar a ida ao Congresso. Isso eu decidi depois e amanhã vou conversar com ele" comentou o ministro da Justiça, se referindo à reunião de coordenação no Planalto.

Defesa

Coube ao ministro das Relações Institucionais e coordenador político do governo, Tarso Genro, a defesa veemente de Márcio Thomas Bastos. "Eu não tenho nenhuma dúvida de que Márcio Thomaz Bastos merece toda a nossa confiança e está tendo um excelente comportamento", declarou Tarso, acrescentando "a presença dele em uma reunião como esta é perfeitamente normal para se informar" já que o ministro da Justiça "tem uma função técnica, jurídica e política.

"Não vejo nenhum problema nesta reunião e nem do comportamento do ministro Márcio neste período todo", insistiu Tarso, atribuindo às acusações ao ministro às "disputas políticas". Para ele, se o ministro Márcio foi lá "foi como membro do governo, para ouvir o ministro da Fazenda, a respeito de um fato que estava sendo acusado, isso não interferiu em nada na sua conduta, em relação aos fatos anteriores".

Genro disse que conversou com o ministro Márcio sábado – dia da circulação da revista Veja dizendo que ele teria participado de uma reunião em que não só se discutiu problemas da quebra de sigilo do caseiro como se encontrariam algum funcionário da Caixa Econômica que aceitasse assumir a responsabilidade pelo crime.

"Conversamos sobre versões que estão na imprensa de que ele estaria sendo leniente, ou teria tido atitude complacente. E ele não só me afirmou que não teve nenhuma atitude leniente, nem complacente, como deixou absolutamente claro que tomou todas as atitudes mais duras inclusive, sem nenhum tipo de preocupação de proteger a quem quer que seja", desabafou Tarso assegurando que "o governo está absolutamente tranqüilo em relação aos debates que estão sendo travados em relação à conduta dele, na questão do ministro Palocci, já que ele tomou medidas no sentido de investigar os fatos, e, ao contrário do que ocorria em outros períodos, a Polícia Federal não foi, nem manipulada, nem orientada no sentido de proteger qualquer membro do governo". E completou: "ele teve um comportamento totalmente republicano a respeito dos fatos."

O ministro das Relações Institucionais, que participará da reunião de coordenação política do governo, está convencido de que os ataques a Bastos fazem parte da campanha eleitoral.

"É obvio que num momento como este que é, de fato, mas não de direito, um momento eleitoral, estas questões adquirirem um volume muito grande. E nós compreendemos que é um ano muito determinado pela disputa eleitoral, é um ano político muito forte e não tememos nenhum debate sobre isso e nem os esclarecimentos que o ministro vai prestar lá no Parlamento", afirmou Tarso.

"Este debate está muito impregnado do ano político, do processo eleitoral, em uma tentativa de desconstituição do governo Lula, que vem sendo muito atacado pela oposição", destacou Tarso.

"Nós recebemos isso com absoluta normalidade. Achamos que isso faz parte do debate político do ano e nós não estamos impressionados com o que está acontecendo", declarou, reiterando que tem "absoluta consciência da correção do ministro Márcio neste processo".

O ministro Tarso fez questão de lembrar também que o ex-ministro Palocci, em momento algum admitiu que tenha participado do processo de quebra de sigilo do caseiro.

"É a palavra dele contra a do Mattoso (ex-presidente da CEF, que acusou Palocci de ter participado do processo)", observou Tarso. "Palocci não admitiu até agora que tenha violado qualquer sigilo. Não admitiu nem para o Márcio, nem para ninguém, nem para a Polícia Federal e esse ponto de partida para examinar o que está acontecendo é muito importante", completou, depois de lembrar que o ministro da Justiça "tomou medidas duras para fazer investigação o que, provavelmente, colaborou até para que se tomasse a decisão a respeito da permanência do ministro Palocci".

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