Maioria comprometida

A reunião das bancadas do PMDB e do PT no Senado instalou uma carapaça no mandato do presidente Renan Calheiros, com o conveniente beneplácito de parlamentares da base governista. Aí se localizam os 46 senadores que votaram ?não? ou escolheram a vereda mascarada da abstenção. Todavia, na câmara alta, o grupo não possui votos suficientes para aprovar a proposta de ampliação da cobrança da CPMF.

Para concretizar o desiderato do qual o governo não abre mão, o remédio é acertar as pontas com a oposição, por seu turno, picada nos brios pelo gibão de couro providenciado pela maioria comprometida para acobertar o pusilânime comportamento do rei do gado, que passou a se referir à antiga namorada como ?gestante?, e a chamar a filha de ?criança?.

O exemplo mais gritante vem da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), à vontade para escancarar a vacuidade de sua formação política num cenáculo historicamente marcado pela trajetória de homens ilustres como Arthur Bernardes, Raul Pilla, Nereu Ramos, Paulo Brossard, Teotônio Vilella e Franco Montoro, entre tantos outros.

Para amenizar a bofetada desferida contra a face vilipendiada dos ideais republicanos, a senadora arrogou-se a condição de hermeneuta da atual conjuntura para assegurar que nas bancadas do DEM e do PSDB ?também houve traições?, refutando a tese de que a maior parcela de culpa pela absolvição de Renan deve, por justa razão, ser atribuída ao PT.

Os senadores da oposição, democratas e tucanos em maior número, atraindo para a fração inconfidente os votos de consciência aninhados nas bancadas do PDT e do PSB, ademais da inflexibilidade de indomados da estirpe de Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e Eduardo Suplicy, prometem a obstrução dos trabalhos legislativos dentro dos limites regimentais, enquanto Renan estiver na presidência.

O primeiro grande embate dar-se-á em torno da CPMF, tão imprescindível ao governo quanto o crucifixo para o ousado que se aventura a enfrentar um filhote do conde Drácula.

Na Câmara, a parada será fácil para o governo que, para esbanjar competência, escalou os mais ágeis parlapatões da Esplanada para entupir de argumentos a maioria parlamentar, cujo melhor papel é servir de vacas de presépio. No Senado, o bicho vai pegar…

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