Ler e guardar

Profundas e ao mesmo tempo inquietadoras as notas de abertura da coluna Et Cetera, na edição de ontem deste O Estado do Paraná, à vista da análise percuciente da conduta do governador Roberto Requião, em sua primeira entrevista coletiva após a eleição de domingo. Uma coluna para ler e guardar.

No mínimo, o que haverá de ser reservado dos referidos comentários, que em momento algum solaparam a dignidade do cargo ou faltaram com o respeito devido à autoridade, é que – infelizmente – não houve, da parte do governador, manifestação à altura da vitória obtida duramente, cuja microscópica diferença de votos deveria ensejar reflexões não meramente periféricas, mas, a bem da verdade, reconhecimento compenetrado de que a metade dos votos válidos rejeitou o atual estilo.

Infinitamente mais sábio foi o presidente da República, que sequer festejou a massa mirabolante de 21 milhões de votos de diferença em relação a Geraldo Alckmin, aproveitando os momentos de euforia para propor pacto geral e irrestrito, incluindo os partidos da oposição, diante da necessidade de concertar, – o termo deriva da bem-sucedida experiência chilena -, um projeto de ação que acabe de vez com as diferenças sociais e econômicas persistentes no Brasil.

O governador, mesmo pondo nos devidos termos a simplória razão alegada pelos conciliadores de plantão, e até a lembrança do desgaste emocional dos últimos dias da campanha, não esteve em seus melhores momentos na coletiva de segunda-feira, ironizando e desrespeitando empresários e órgãos importantes da comunicação social, além de desmerecer o trabalho profissional de quantos ali estiveram para registrar declarações. Em anotação oportuna da coluna, não raras vezes Requião avocou a condição de jornalista, profissão jamais exercida, agravante na avaliação dos colegas tratados com tanta rispidez e escassa urbanidade.

A atuação do governador mereceu manifestações de repúdio de organizações de empresários e trabalhadores em comunicação do ?Caribe à Terra do Fogo?, para tomar de empréstimo uma expressão onipresente em seu vocabulário. A sociedade, tanto a parcela que votou em Requião quanto a outra, que deu preferência ao senador Osmar Dias, provavelmente ficaria melhor servida com palavras mais sensatas e aproveitáveis. Et Cetera acertou na mosca: só a claque aplaudiu.

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