Indústria de suco amplia crise no setor

Ribeirão Preto – A crise entre a indústria processadora de suco de laranja, a maior do mundo, e os citricultores teve hoje (5) um novo capítulo. A Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus) informou que está se desligando da Câmara Setorial da Citricultura, órgão do Ministério da Agricultura que deveria ser o foro de discussão do setor, mas que só acirrou a briga entre citricultores e indústria desde quando foi instalada, em julho de 2004.

"O Ministério da Agricultura anunciou a gestão da Câmara e delegou seus membros diretores sem consulta à indústria", disse Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus, numa referência ao fato de o presidente da entidade ser Flávio Viegas, também presidente Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus). "Infelizmente, nas reuniões da Câmara não havia pauta nem agenda e a instituição só ampliou o embate entre os dois lados", afirmou o presidente da Abecitrus.

Garcia disse que, enquanto a indústria levava às reuniões do setor preocupações com doenças, pesquisas, barreiras externas e luta por uma pressão política, os produtores, liderados por Viegas, insistiam em discutir relações já conturbadas de preços pagos pelas processadoras, o que só ampliou a polêmica entre ambas as partes. "Infelizmente, é uma pena tomarmos essa decisão porque a Câmara seria uma instituição excelente para que pudéssemos lutar por problemas comuns. Mas não estamos dispostos a ampliar o embate", disse Garcia.

Já Viegas, presidente da Câmara e da Associtrus, considerou lamentável a decisão da indústria de deixar as discussões, mas disse não estranhá-la. "Na verdade, a indústria sempre foi ausente nas discussões do grande tema da cadeia citrícola que é, sim, a relação dela com os produtores", afirmou Viegas. "A indústria queria discutir fitossanidade, que é um assunto para a Câmara Setorial da Fruticultura, da qual nós fazemos parte."

Viegas afirmou ainda que a atitude da indústria sempre foi colaborar pela "destruição da citricultura, concentrando poder e não se abrindo para discussão com produtores". Na sexta-feira, Viegas divulgou um artigo no qual fez duras críticas à Abecitrus e à posição da entidade das indústrias de abandonar as discussões para a retomada de um contrato-padrão. Nesse tipo de contrato, as processadoras pagariam o produtor pela qualidade da fruta e não pelo peso, como ocorre atualmente. As críticas foram encaradas pela Abecitrus como a gota d’água da decisão tomada hoje, pois alegam que o contrato-padrão foi proibido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) atendendo a uma representação dos próprios produtores.

A briga entre a bilionária indústria de suco e os produtores segue na próxima semana. Na segunda-feira (12), em Jaboticabal (SP), a Câmara Setorial da Citricultura, já sem a indústria, volta a se reunir. Na terça-feira (13), o conselho do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), uma das principais entidades de pesquisa mundial do setor se reúne. Na pauta, a proposta de indústria, que também comanda o Fundecitrus de deixar o controle para os produtores, desde que se mude a forma de se arrecadar os fundos para mantê-lo.

Voltar ao topo