Grupo era tratado como escravo em fazenda no interior do RS

A promessa de trabalho, salário diário de R$ 15, transporte, moradia e
alimentação se transformou num drama para 35 moradores de Wenceslau Braz, no
Paraná. Eles aceitaram a oferta de agenciadores e acabaram colhendo alho, feijão
e batata na condição de escravos numa fazenda de São Francisco de Paula, no Rio
Grande do Sul, a cerca de 900 quilômetros de suas casas.

A exploração do
grupo, que contava com sete menores de idade, durou 40 dias e só foi descoberta
na semana passada quando a Polícia Civil gaúcha recebeu uma denúncia dos
trabalhadores. Eles estavam revoltados com as atitudes de um capataz que
comandava a colheita com um rifle calibre 22 nas mãos. Ele havia espancado um
adolescente incapacitado, pelo cansaço, de acompanhar o ritmo de colheita
exigido do grupo, com jornadas de 14 horas diárias e sem descanso
semanal.

Os policiais foram à propriedade rural, no distrito de Tainhas,
na noite de 4 de maio e encontraram os trabalhadores abrigados num galpão
insalubre, sem instalações sanitárias e sem espaços adequados para o repouso
noturno. Também constataram que o sistema de débito descontaria do grupo até
instrumentos usados na colheita, como tesouras, além de toalhas e sabonetes,
todos entregues a preços abusivos pelo armazém da fazenda.

Diante de
tantos descontos, o salário seria insignificante se fosse pago nas condições
impostas pelos capatazes. A situação dos trabalhadores era agravada pelas
proibições a eventuais saídas da propriedade e pela falta de previsão de
qualquer ajuda, inclusive para buscar atendimento, em caso de doença.

O
capataz Reginaldo de Oliveira Batista foi preso no ato e seu irmão Fábio de
Oliveira Batista é procurado pela polícia. O empresário Luiz Carlos Berti,
arrendatário que cultiva os 30 hectares da fazenda, disse que não tinha
conhecimento das irregularidades, atribuindo a culpa aos capatazes, responsáveis
pela contratação da mão-de-obra.

Mas fez um acordo com o Ministério
Público e com a Delegacia Regional do Trabalho. Fez os registros em carteira de
trabalho e pagou os salários e a viagem de volta a Wenceslau Braz, feita em
ônibus fretado, na segunda-feira.

O regime de exploração da mão-de-obra
surpreendeu a conselheira tutelar Denise Silvestrin de Souza, de São Francisco
de Paula. Ela diz que é chamada com freqüência para coibir outro tipo de
irregularidade, o uso da mão-de-obra infantil, remunerada, nas lavouras de
batata, mas não lembra de casos de aliciamento de trabalhadores para um regime
semelhante ao da escravidão. Diz que o esquema fragiliza o trabalhador que está
longe de casa porque ao perceber que caiu num golpe ele já está endividado, sem
dinheiro, e numa terra distante, onde é desconhecido e, por isso, tem
dificuldade para pedir ajuda.

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