Governo manterá esse ano redução na mistura do álcool à gasolina

São Paulo – O governo manterá até o fim deste ano a redução de 25% para 20% na mistura do álcool anidro à gasolina – que entra amanhã (01) em vigor – e, dificilmente, deverá liberar entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão pedidos pelos usineiros para o financiamento dos estoques do combustível.

As duas medidas são encaradas como uma punição aos produtores de álcool pelo não-cumprimento do acordo de janeiro, que estabeleceu teto de 1,05 real no preço praticado nas usinas e pela falta de garantia de abastecimento na entressafra de cana-de-açúcar.

Para evitar novas altas da gasolina, o governo mostrou que pode ainda reduzir a Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) incidente sobre o combustível. Como o dinheiro para o financiamento da estocagem de álcool vem de recursos da Cide, os usineiros seriam penalizados duplamente: deixariam de vender mais álcool e pagariam a conta pela arrecadação menor.

"Para dar a garantia (de abastecimento de álcool) ao consumidor brasileiro, e até por uma questão de postura, o governo quer examinar com mais profundidade o assunto. Seguramente, a mistura vai (ficar em 20%) pelo menos até o final do ano, com a possibilidade de continuar", afirmou hoje o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Em 2003, quando também houve a redução na mistura, a intervenção durou cinco meses. Com a redução de agora, seriam retirados do mercado entre 1,2 bilhão e 1,5 bilhão de litros de álcool, o suficiente para um mês de abastecimento.

Rodrigues, que avalizou a negociação de janeiro entre governo e setor produtivo, admitiu estar chateado com o rompimento do acordo e criticou os produtores de álcool. "O não-cumprimento (do acordo), menos de dois meses depois, mostra que não houve seriedade", disse.

"Isso me chateou muito", completou. Rodrigues afirmou ainda ser esse o mesmo sentimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o qual conversou na semana passada, logo após os preços do álcool dispararem nas usinas.

Para o ministro, há "um claro movimento especulativo" em relação às ameaças de desabastecimento atreladas às altas nos preços do álcool nos postos. Rodrigues conta que, em janeiro, o governo recebeu garantias de que a oferta de álcool estava compatível com a demanda. No entanto, na reunião da semana passada, os usineiros afirmaram que, "surpreendentemente", a compra prevista de álcool pelas distribuidoras para todo o mês de fevereiro, tinha sido consolidada em 12 de janeiro.

"Não vou fazer aqui suposição de quem é a especulação, mas alguém está especulando com isso a partir da premissa repetida pelos produtores de que a oferta está equilibrada com a demanda", afirmou.

O ministro admitiu que a especulação no setor colabora ainda para que surjam notícias sobre o desabastecimento nos postos. Mas, pelos cálculos do governo, até maio, quando todas as usinas do Centro-Sul estarão produzindo, serão ofertados 2,4 bilhões de litros de álcool, soma de 1,6 bilhão de litros de estoques e de, no mínimo, 800 milhões produzidos.

Não estão incluídos nessa conta os 100 milhões de litros que serão economizados com a redução da mistura do anidro à gasolina. O consumo de álcool entre março e abril deve ser de 2 2 bilhões de litros.

"Na hipótese mais conservadora, a oferta e a demanda estão tranqüilamente equilibradas. Não há razão para faltar álcool, pois o estoque é suficiente", garantiu o ministro. Rodrigues participa amanhã da abertura da safra 2006/2007 de cana, na unidade da Cocamar em São Tomé (PR). Ele estima que a moagem no Centro-Sul do Brasil deva crescer nesta safra 10% ante à passada, graças ao aumento da área plantada com cana entre 7% e 8%, ao crescimento na produtividade da cultura em decorrência das boas condições climáticas e ainda ao aumento da capacidade de produção das usinas.

"Com isso, após o gargalo de oferta estreita ser ultrapassado, a partir de maio, nós vamos ter excedentes de etanol e oferta tranqüila; com a redução na mistura, podemos ter muito mais estoques de passagem no ano que vem de tal forma que a nossa expectativa é de que esse quadro não se repita", concluiu.

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