Festival da tapioca

Um deputado federal do PSDB comunicou que está coletando assinaturas para a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a fim de investigar indícios de uso irregular do cartão corporativo distribuído pelo governo a ministros e altos funcionários federais.

Como um dos gastos irregulares apurados (menos de R$ 9) foi realizado pelo ministro do Esporte, Orlando Silva, numa tapiocaria da capital federal, afora a manifestação de desconforto com que a notícia foi recebida pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ele não perdeu a oportunidade de fazer piada: ?Por acaso, a comissão receberá o nome de CPI da Tapioca??

Na mesma linha, o ministro da Articulação Institucional, José Múcio Monteiro, enfatizou que não vê o menor sentido na instalação de uma CPI para investigar o uso dos cartões corporativos, até porque o próprio governo já tomou a iniciativa de fazer alterações nas condições de uso dos mesmos.

A Controladoria Geral da União (CGU), chefiada pelo advogado Jorge Hage, em breve baixará as normas para suspender o festival de gastos descontrolados e, não raro, abusivos, em restaurantes, locação de veículos e até em lojas de aeroportos.

A então ministra Matilde Ribeiro, das Políticas de Promoção da Igualdade Racial, foi a campeã de gastos em aluguel de carros, no ano passado, justificando a necessidade pela falta de estrutura da pasta e as muitas viagens pelo território nacional, incluindo áreas habitadas por remanescentes dos quilombos, onde somente se chega a bordo de veículos com tração nas quatro rodas.

Todavia, o exagero nos gastos tornou-se tão volumoso que alguns colegas de ministério chegaram a sugerir que Matilde tome a iniciativa de pedir exoneração do cargo, a fim de evitar mais um desgaste inevitável ao governo Lula. Foi o que ela fez anteontem. Justificou-se dizendo que foi mal-orientada pelos assessores de seu gabinete. Mas que as despesas foram legais e necessárias.

Os gastos com cartões, em 2007, chegaram a R$ 78 milhões, dos quais R$ 58 milhões foram sacados em dinheiro vivo, o que torna ainda mais difícil encontrar a justificativa das despesas. A função original dos cartões é facilitar a compra de equipamentos e material de uso nas repartições federais e despesas de viagem. Um exemplo vem do Ministério do Planejamento, que gastou R$ 34,4 milhões, segundo Paulo Bernardo, quase tudo para cobrir os deslocamentos dos pesquisadores do IBGE em trabalhos de campo.

Não há necessidade de CPI, mas o governo tem o compromisso de extirpar qualquer tipo de abuso.

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