Especialistas discutem situação de moradores de rua em BH

Os recentes crimes contra moradores de rua, principalmente os assassinatos ocorridos em São Paulo, foram o tema predominante hoje na abertura do 3º Festival Lixo e Cidadania, em Belo Horizonte. O evento reúne pesquisadores, representantes de entidades não-governamentais e associações de catadores de materiais recicláveis de várias partes do País.

Os ataques no centro da capital paulista, que culminaram na morte de seis pessoas e ferimentos em outras nove, foram repudiados. Maria Antonieta da Costa Vieira, doutora em antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e integrante do Fórum de Estudos sobre a População de Rua, classificou o episódio de uma “barbárie” e disse que é necessário pensar políticas sociais específicas para essa população. “Que não são simplesmente colocar essas pessoas em albergues e em instituições fechadas, mas políticas que efetivamente dêem condições de que essas pessoas tenham direitos ao trabalho, à moradia, à saúde”.

Na mesma linha, Maria Regina Emanoel, representante do Fórum Nacional de Estudo sobre População de Rua, cobrou ações mais “realistas”. Segundo ela, a atenção à população de rua não pode se resumir à “prestação de serviço básico e essencial”. “Mas numa política mais ampliada, complementar, onde o albergue é uma necessidade, mas não pode ser o fim. Ele tem de ser o meio”, disse. “Normalmente, quando você fala em população de rua ou você quer confinar, ou diz que precisa tratar do alcoolismo e do problema mental. Nós temos de perceber que a população de rua tem um perfil muito mais vasto. Nós temos de olhar a população no seu conjunto e buscar resposta à sua especificidade”.

Ela lembrou que a violência contra os moradores de rua não é uma exclusividade de São Paulo e ocorre em muitas cidades do País. Na última semana, três moradores de rua foram assassinados em Belo Horizonte num período de três dias.

Segundo Maria Regina, na maioria das vezes, a polícia não está preparada para lidar com essa população, o que resulta numa “abordagem repressora”. “O povo da rua, pela vivência na rua, ele se torna irreverente, ele se torna um pouco debochado e isso nos incomoda. Isso incomoda a sociedade e muito mais o policial, que em princípio está preparado para lidar com a ordem mas não está preparado para lidar com a desordem”, observou.

De acordo com Maria Antonieta não há estimativas de quantas pessoas vivam nas ruas no Brasil. O certo, afirma, é que em São Paulo essa população é formada por mais de 10 mil pessoas.

“Tristeza”

Inês Pereira de Lima, de 47 anos, que morou durante um ano e meio nas ruas da capital paulista, participou da solenidade de abertura e disse que levava ao encontro um sentimento de “tristeza” pelos crimes. Inês disse que atualmente reside em uma moradia provisória no centro de São Paulo, mas também criticou os albergues da prefeitura, que, segundo ela, “não são uma maravilha como dizem”.

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