Escola do tamanho do mundo

A internet é ao mesmo tempo uma fonte de armazenamento e distribuição de informações e um canal de comunicação entre as pessoas.

Esta dupla natureza tem conseqüências importantes para a Educação. Muitos professores vêem a internet somente como uma grande biblioteca, a qual eles próprios e seus alunos visitam para obter textos, sons e imagens. Esta é uma abordagem pobre, que demonstra o distanciamento desses professores do que está acontecendo à sua volta

Seus alunos, com seus orkuts, msns e skypes sabem muito bem que a internet é antes de tudo um novo meio de comunicação, que permite trocas comunicativas abertas entre pessoas do mundo inteiro, num piscar de olhos.

Muitos professores ainda não perceberam o potencial transformador de um canal de comunicação aberto, sem controle central, acessível, barato, divertido e fácil de usar.

Para realizarmos este potencial, no entanto, teremos de ultrapassar de vez a noção de que ensinar é somente transmitir informações e depois testar o que o aluno reteve ou melhor, o que não reteve.

Infelizmente, muitos ainda tomam seus alunos com vasos vazios e pensam que sua função é ?encher os alunos de conhecimento até o gargalo? ou pior, fazem uma linha na metade dos vasos e se satisfazem em enchê-los somente até os 50% ou 60%. Para estes, é preciso mostrar que o mundo mudou e que informações, por si mesmas, não significam conhecimento e não levam a ações efetivas de transformação da realidade.

Como fonte de informações, com certeza a internet é muito rica. É evidente que oferece de tudo: bibliotecas clássicas inteiras, museus virtuais, publicações científicas, notícias de todo tipo lado a lado com bobagens e inutilidades, consumismo e futilidade, pornografia e violência.

Mais uma razão para que o trabalho educativo não seja focado nas informações em si mesmas, mas sim no processo de construção de significados e de valores, no qual a informação é apenas um dos componentes.

Se nossos alunos estiverem preparados para triar as informações de que necessitam, separando o importante do trivial, o essencial do superficial, o significativo do ilustrativo, não precisaremos nos preocupar se acessam ou deixam de acessar sites com conteúdos que julgamos inadequados ou perigosos. Afinal, são eles que devem decidir o que serve e o que devem descartar: é claro que não poderemos fazer isso por nossos alunos e filhos a vida toda.

Cada vez mais o papel do professor será o de auxiliar os alunos a fazer sentido das informações que recebem. Num mundo inundado de informações fragmentadas e desconexas, o professor encontra seu lugar nas atividades em que motiva e incentiva os alunos a construir pontes, ligações e hierarquias entre as informações, a contextualizá-las, a abordá-las segundo uma perspectiva ética, adicionando valores à miríade de registros e dados aos quais têm acesso pelos mais diversos meios.

Aí então podemos construir verdadeiramente uma escola sem paredes e sem fronteiras. Uma escola do tamanho do mundo.

Antonio Simão Neto (simao@interfacesonlime.com.br) é do Instituto Interfaces. 

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