Vendas da indústria do Paraná caíram 10,25% no semestre

Com a queda de 5,67% registrada em junho sobre maio, o faturamento real da indústria paranaense acumulou retração de 10,25% no primeiro semestre – comparado ao mesmo período de 2002. “Vai ser difícil fechar o ano com resultado positivo”, admitiu ontem o presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), José Carlos Gomes Carvalho, ao divulgar a análise conjuntural. Para ele, que projetava crescimento de 4% nas vendas industriais em 2003, “o governo teve que tomar medidas amargas e necessárias (alta dos juros, elevação do compulsório dos bancos e elevação do superávit primário), mas agora temos certeza que a dose foi muito forte”.

De acordo com a pesquisa da Fiep, nos seis primeiros meses do ano foram registradas quedas de 10,14% nas vendas dentro do Paraná, -11,53% nos negócios com outros estados e -6,36% nas exportações. Na avaliação de Carvalho, o desempenho ruim do setor industrial foi afetado pelas incertezas ocorridas na economia no segundo semestre do ano passado, por causa das eleições presidenciais. “Com o Lula liderando as pesquisas, a inflação, o risco-Brasil e o dólar dispararam”. Nesse ano, segundo ele, os três primeiros meses foram razoáveis para a indústria. “Mas com a inflação dando sinais de queda, a economia despencou. Em 40 anos como empresário já passei por muitas crises, mas essa sem dúvida é muito forte”.

“O governo estava certo nas medidas que tomou, mas errado na lentidão e falta de ousadia”, considera Carvalho, para quem a reativação da economia depende da redução da Selic, diminuição gradativa do compulsório bancário, investimento em programas de infra-estrutura, além da aprovação das reformas.

Indicadores

Dos 18 gêneros industriais pesquisados, apenas sete tiveram elevação no primeiro semestre. As maiores altas ocorreram em madeira (31,63%), couros, peles e produtos similares (17,91%) e vestuário, calçados e artefatos de tecidos (14,88%). Entre as quedas, os principais destaques foram: têxtil (-47,30%), perfumaria, sabões e velas (-39,76%) e material elétrico e de comunicações (38,04). “Quando a população compra 30% menos de alimentos é sinal de que já apertou todos os cintos. Trocou a escola particular do filho pela pública, não vai ao cinema, restaurante…”, exemplifica Carvalho.

Em contraposição, as compras industriais reais cresceram 17,10% no primeiro semestre, apesar da redução de 10,82% em junho comparado a maio. “Como vinha ocorrendo um crescimento permanente, continuamos comprando insumos, achando que viria o espetáculo do crescimento prometido pelo governo. Erramos”, avalia Carvalho. O segmento que mais ampliou o volume de compras foi couro, peles e produtos similares (249,57%), mecânica (101,86%), e matérias plásticas (92,50%). A maior diminuição foi verificada na indústria têxtil (-49,10%).

Outro dado positivo foi o incremento no nível de emprego: 7,55% no semestre e 0,26% no mês de junho em relação a maio. Os setores que mais ampliaram o quadro de funcionários foram: produtos farmacêuticos e veterinários (30,10%), química (24,26%), e produtos alimentares (20,91%). A massa salarial líquida apresentou incremento mensal de 9,73%. Já a utilização da capacidade instalada aumentou um ponto percentual, situando-se em 76%.

Setor “tecnicamente” está em recessão

A produção industrial brasileira ficou estagnada no primeiro semestre deste ano e registrou um ligeiro crescimento de 0,1%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No mês de junho, a indústria registrou o menor nível de produção desde dezembro de 2001, quando havia uma combinação de racionamento de energia com crise após o atentado terrorista de 11 de setembro, crise argentina e alta do dólar.

Os problemas para a indústria aumentaram no segundo trimestre do ano, que registrou uma queda de 2,1% na produção, contra uma alta de 2,5% no primeiro trimestre. A fraca demanda interna, resultado da política de juros altos, renda em queda e desemprego elevado, foi o principal fator para o desempenho ruim da indústria no período.

No mês de junho a produção da indústria teve queda de 2,6% em relação a maio e de 2,1% na comparação com o mesmo período de 2002.

Os setores que mais pressionaram a queda na indústria no semestre foram: farmacêutico (-16,2%), vestuário e calçados (14,8%), têxtil (-8,5%) e de material elétrico de comunicações (-6,9%).

O segmento de bens de consumo duráveis, como carros e eletrodomésticos, muito dependente da oferta e condições de crédito, teve uma redução de 4,5% no primeiro semestre. Já os semi-duráveis e não-duráveis, como roupas e alimentos, tiveram retração de 3,4% em sua produção.

Houve ainda uma queda nos bens de capital de 2,1% – o que indica que o setor está investindo menos em sua expansão. Apenas os bens intermediários, como o setor siderúrgico e de extração de petróleo, tiveram uma alta de 1,4%. Entretanto, de maio para junho o segmento registrou uma queda de 2,4% – a maior desde maio do ano passado.

De acordo com o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales, a fraca demanda interna já atinge o início da cadeia produtiva, que são os bens intermediários e bens de capital, e inibem os investimentos da indústria como um todo.

“O cenário de demanda não estimula o investimento e, com isso, há o adiamento dessa expansão e do aumento da capacidade de produção”, disse Sales.

Segundo o coordenador do IBGE, isso significa que a perda de ritmo, que antes estava concentrada apenas nos bens de consumo, está atingindo o segmento que representa cerca de 60% do total da indústria e já sente mais a provável queda das encomendas.

De acordo com o IBGE, o setor industrial vem registrando quedas desde dezembro de 2002 pelo indicador de média móvel trimestral. O indicador é calculado com base na média dos últimos três meses.

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