Dependência

Trigo brasileiro deve ser de melhor qualidade

Dependente do trigo importado, o Brasil tem que se preocupar não apenas em produzir mais, mas melhor. A afirmação foi feita ontem pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), o ex-ministro do Desenvolvimento Sérgio Amaral, que esteve em Curitiba participando de reuniões com produtores de trigo do Paraná e representantes do governo.

Segundo Amaral, mesmo que o País se torne auto-suficiente na produção de trigo – a produção anual é de aproximadamente 5 milhões de toneladas, enquanto a demanda brasileira é o dobro disso -, continuará precisando importar parte de outros países.

“Durante muito tempo o Brasil produziu trigo com proteína mais baixa. O Paraná já produz com alta proteína, mas a indústria ainda precisa dessa mistura que vem de fora”, apontou Amaral. Segundo ele, trigo com baixa proteína pode ser utilizado na fabricação de biscoitos, mas não de pães.

“Mesmo países como a França, grande produtora, costumam importar trigo de outras procedências”, completou Roland Guth, empresário do ramo e membro do conselho deliberativo da Abitrigo. A entidade defende ainda que a farinha de trigo ganhe particularidades, como adequada para crianças, para gestantes.

Sobre a adição de fécula de mandioca à farinha de trigo, para reduzir a dependência brasileira, Amaral disse que não é contra, “desde que não seja obrigatória.” Segundo ele, a fécula de mandioca, mesmo em quantidade reduzida, altera o sabor e a textura dos derivados de trigo.

Problemas

Entre os problemas que afetam a cadeia produtiva do trigo, Amaral citou gargalos como o do transporte. “É inadmissível que o preço do frete entre Paranaguá e Recife seja bem maior do que entre Buenos Aires e Recife. O resultado disso é o encarecimento do produto, dificuldades para distribuição”, afirmou.

No caso do milho, exemplificou, o frete entre Paranaguá e Rotterdam (Holanda) custa US$ 34 a tonelada. Já entre Paranaguá e Recife, o preço é US$ 82. “Não sei quanto é o frete do trigo, porque nos últimos cinco anos não foi trigo de Paranaguá para Recife”, comentou Guth.

Outro problema é a venda da farinha argentina no Brasil. “Não somos contra a farinha importada. O problema é que ela vem subsidiada. Ela vem custando US$ 230 a tonelada quando deveria custar US$ 360. Além disso, o imposto de exportação do trigo na Argentina é de 28%, enquanto a farinha era de 10% e agora passou para 18%; não há razão para diferenciar o imposto do trigo da farinha”, comentou. Segundo ele, há farinha de trigo argentina que entra de forma ilegal no Brasil.

Sobre a prorrogação da isenção da TEC (Tarifa Externa Comum) na importação do trigo de países fora do Mercosul – medida que, segundo entidades como a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), prejudica os produtores brasileiros -, Amaral procurou amenizar.

“A argumentação das entidades é legítima; a safra já começou a ser colhida e já houve queda nos preços. É preciso encontrar um meio termo: à medida que a safra seja colhida, a importação pode reabrir, se necessário”, apontou.

A Camex (Câmara do Comércio Exterior) tem até o dia 31 de agosto para decidir se prorroga ou não a isenção. “Tem que haver compreensão e vontade dos dois lados”, disse Amaral.