NA ASSEMBLEIA

Produtores de tabaco criticam medidas restritivas da Anvisa

Duas medidas sugeridas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fechar ainda mais o cerco à cadeia do tabaco têm provocado revolta no setor produtivo da atividade. Até o fim do mês, a população brasileira pode opinar sobre as propostas de restringir a adição de substâncias corretivas ao cigarro (o que aumentaria o vício) e de limitar a exposição do produto e a comunicação das empresas nos postos de venda.

Quem não está gostando nada da história são os produtores familiares e sindicatos do setor. Terceiro maior produtor de tabaco do Brasil, o Paraná tem 180 municípios – do total de 399 – que são produtores de tabaco. “Já fazemos a diversificação, mas culturas como feijão e soja dão prejuízo. A única alternativa viável economicamente para esse perfil de produtor é o tabaco”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Irati, Mesaque Kecot Veres.

Em Irati, vivem 1,2 mil produtores rurais que, só no ano passado, levaram uma renda de R$ 46 milhões para a cidade por causa do tabaco. O sindicato argumenta que, com produção de milho, feijão e soja, que demandam um custo maior de produção, o prejuízo na região foi de R$ 10,5 milhões. “O custo para produzir em um hectare de tabaco é de R$ 12,1 mil, enquanto a venda fica em R$ 14 mil, resultando em um lucro de R$ 2 mil”, exemplifica o presidente do sindicato.

Entraves

Um dos grandes entraves para incentivar o produtor a trocar de atividade a ser plantada é que, enquanto há limitações, burocracia e dificuldade para que se consiga apoio governamental para plantar feijão, milho ou soja em pequenas propriedades, as grandes empresas privadas que comercializam o cigarro dão suporte e pagam mais, argumentam os pequenos produtores. “A gente não obriga ninguém a fumar. A plantação de 25 mil pés de fumo é renda garantida”, diz o produtor de tabaco Paulo Slociak, do município de Prudentópolis (sudeste do Paraná).

Todo o setor marcou presença em peso na manhã desta quarta-feira (23) para audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná (audiências sobre o assunto têm sido feitas em diversos estados). Para o representante do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco presente no evento, Sérgio Rauber, as medidas da Anvisa restringindo a produção legal de tabaco vão contribuir para aumentar o contrabando de cigarro no País, que hoje já corresponde a um terço do comércio total. “Vamos ficar no mesmo patamar do cigarro que chega contrabandeado do Paraguai”, diz Rauber.

Ainda segundo o representante do Sinditabaco, no Brasil ainda não há pesquisa científica que embase que o vício ao cigarro aumenta com os ingredientes adicionados. O cigarro fabricado no Brasil é misturado, com adição de açúcar e outros produtos. Para o setor produtivo, o processo é feito para corresponder “às expectativas de sabor dos consumidores”.

O receio do setor é que a Anvisa possa começar a aplicar rapidamente as medidas, caso sejam aprovadas pelas consultas públicas, que terminam no próximo dia 31.