Plano de vôo

É mínima a probabilidade de dois aviões de linha colidirem em pleno ar. Ao decolar, pilotos ?devem seguir? atentamente um plano de vôo, ?devendo ainda ser? acompanhados, à distância, eletronicamente, por controladores de vôo que podem auxiliá-los e alertá-los em casos de riscos. Foi o que certamente não aconteceu com o Boeing da Gol e o jato Legacy que se chocaram ao sobrevoarem o vasto céu da Amazônia, em setembro de 2006, matando 154 pessoas.

Tão importante quanto um plano de vôo é um plano de governo; forma que ele tem de saber para onde vai e como vai. Muitas turbulências e crises que o Brasil – essa gigantesca aeronave de mais de 180 milhões de passageiros – enfrenta, nos últimos anos, têm como causa a falta de diretrizes capazes de oferecer perspectivas seguras às empresas, às indústrias, aos trabalhadores e à população em geral. Nossa economia tem tido desempenhos digeríveis porque a economia mundial vai bem, literalmente empurrando-nos. Poderia estar melhor, contudo, se tivesse sido feita a reforma tributária, reduzindo a carga de impostos e simplificando mil e uma burocracias e obrigações absurdas que cercam as atividades econômicas. Não foram feitas também as vitais reformas trabalhista, sindical, administrativa e agrária – para citar as mais urgentes – e só recentemente foi aprovado um pacote voltado à infra-estrutura, o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), já que ampliação da produtividade pode decretar o colapso do sistema, caos total nas rodovias, ferrovias, portos, no sistema energético e na capacidade de oferta de mão-de-obra especializada.

Prioridade dentre as prioridades, a educação também não recebeu maiores atenções. Tem razão o homem de uma nota só, Cristovam Buarque, sem educação não há esperança. Vem da minha cidade, Londrina, um exemplo digno de louvor: moradora do Jardim Santa Fé, um bairro pobre, a catadora de papel Bernadete Rodrigues de Souza, fez de tudo para que o filho, que a acompanha nas andanças pelas ruas, estudasse. Klayton Rodrigues de Souza, 17 anos, que aprendeu a ler em livros encontrados nos lixos, é um dos aprovados em Enfermagem, no último vestibular da Universidade de Londrina. Para um país que tem mais de nove milhões de desempregados, é lamentável saber que mais de 26 mil postos de trabalho não serão preenchidos, ao longo desse ano, por falta de gente qualificada.

Feito esse longo prólogo, não pretendo apresentar aqui o ?plano de vôo? do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná, cuja direção acabo de assumir, mas apenas frisar que ele tem um, bem definido e claro, que será seguido à risca, decidido a não improvisar e a não apenas registrar e fiscalizar o exercício da profissão contábil, mas também se preocupando e se ocupando com a melhoria contínua dos seus serviços, com o desenvolvimento da classe, com os futuros profissionais, os estudantes, e com a sociedade. Em nosso plano, a propósito, a educação ocupa um papel fundamental, vista como fiscalização indireta, abrindo aos contabilistas novas perspectivas, indiscutivelmente um futuro melhor, o mesmo que gostaríamos de ver contemplando todos os brasileiros.

Paulo Caetano é contador, empresário da contabilidade e presidente do CRCPR; e-mail: pcaetano@pcaetano.com.br  

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