Carreira

Paranaenses ocupam 70% das vagas para superqualificados

A guerra cambial poder ter roubado a cena na última semana em função da reunião do G20, porém, quando o assunto é a sustentação e a expansão da economia brasileira, os especialistas são uníssonos ao responder que não é esse “obstáculo de curto prazo” que os preocupa e, sim, a educação. O antigo gargalo que deixa o Brasil na 73.ª posição do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – colocação semelhante a países arrasados pela miséria como o Zimbábue – requer políticas de médio e longo prazo, e há algum tempo já está na pauta de qualquer empresário. Educação e formação profissional são assuntos complementares que, no momento, confrontam-se com o mar de oportunidades vislumbrado por boa parte do mercado.

Atualmente não se encontra pessoal para a execução de projetos e, quando surge um nome, geralmente, é alguém empregado. Diante disso, restam duas opções: investir na capacitação prévia, em iniciativas como universidades-empresas, ou travar mais um duelo na chamada “guerra de talentos” do mundo corporativo. E está cada vez mais comum nessa “guerra”, a contratação de serviços especializados em recrutamento e seleção de profissionais. Dependendo da empresa, são criados departamentos internos para cooptar os perfis ideais aos projetos em desenvolvimento. “Sem o profissional correto, muitos projetos simplesmente não saem do papel e o empresariado está consciente disso”, atesta a coordenadora de Recursos Humanos (RH) da E-Wave, Gélia Regina Gomes.

A multinacional israelense E-Wave, empresa provedora de softwares e soluções em Tecnologia da Informação (TI), há quatro anos se instalou no Brasil e escolheu Curitiba como sede. O CEO (sigla usada para diretores executivos em TI) da empresa, Nimrod Riftin, trouxe na época a cultura de valorização dos “profissionais que integram o time da empresa”. O resultado disso foi uma diferenciação natural no mercado, já que a empresa disponibiliza aos clientes o desenvolvimento de projetos em TI com uma equipe própria, ou seja, livre do problema da escassez de mão de obra qualificada. Claro que para isso, eles tiveram que formar sua própria estrutura de RH especializado em TI. “Apostar nesse diferencial deu tão certo que a empresa dobrou de tamanho, a ponto de estarmos procurando um novo endereço e mais uma profissional de RH especializada em TI para dar conta da demanda”, conta Gélia.

“Estou gastando mais tempo na busca por um profissional com as habilidades necessárias à área de RH em TI, do que o tempo que normalmente eu levo para garimpar talentos de tecnologia para os projetos desenvolvidos ou implementados pela E-Wave”, revela a coordenadora de RH. Para chegar a esse patamar profissional, Gélia precisou investir e ainda investe muito tempo e dinheiro em sua formação. “A graduação em Psicologia só foi meu ponto de partida, mas a atualização tem que ser continuada, ainda mais em TI”, aponta.

“Além disso, precisamos ser autogerenciáveis, saber negociar e lidar com diferentes tipos de perfis profissionais, formar um ótimo networking e ter uma visão ampla de todo o negócio para atendermos e superarmos as expectativas de quem nos contrata”, ensina a coordenadora de RH. Por último, Gélia também indica o uso profissional das redes sociais para garimpar talentos. “Aciono meus contatos reais e virtuais sempre que surge uma vaga de alta complexidade”.

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UniALL, criada em 2000, promove o treinamento de se,us profissionais. Em 2009 dois mil colaboradores se formaram.

Qualidades universais

As qualidades elencadas pela coordenadora de RH da E-Wave são válidas para os profissionais supervalorizados de qualquer segmento econômico. Uma pesquisa realizada com 35 mil empregadores de 36 países, pela consultoria Right Management, apontou que tal perfil combina uma formação específica em qualquer área do conhecimento humano (de biologia à engenharia), com experiência e a inteligência emocional necessária para a execução da função. O estudo consultou 35 mil empregadores de 36 países e indicou que, no Brasil, 64% dos empregadores reconheceram ter dificuldade em preencher cargos. No mundo, esse percentual é de 31%. No Brasil, no topo do ranking de profissionais mais difíceis de serem encontrados estão os engenheiros das mais diferentes áreas, seguidos pelos técnicos em TI e profissionais de vendas. Este último se deve ao crescimento da indústria de bens de consumo e do poder aquisitivo da população que, em boa parte, é destinado ao varejo e suas opções de produtos.

Iniciativas inovadoras

Como o País ainda engatinha em políticas capazes de prover a formação desse tipo de mão de obra, as empresas têm realizado a sua parte formando seus próprios quadros. A América Latina Logística (ALL), por exemplo, criou em 2000 a UniALL, com o objetivo de suprir as necessidades de formação de novos colaboradores, com treinamentos técnicos e de aperfeiçoamentos característicos ao sistema ferroviário, predominante nos serviços da companhia. A empresa investe R$ 9 milhões por ano em treinamentos para colaboradores e, em 2009, formou dois mil colaboradores. Neste ano, até outubro, mais 1,6 mil profissionais já haviam concluído seus cursos.

Na esfera pública, a Prefeitura de Curitiba, por meio do Tecnoparque fechou um termo de cooperação entre a Agência Curitiba e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Tal ação tem o objetivo de viabilizar o intercâmbio científico e tecnológico; o desenvolvimento de atividades de pesquisa e a formação e capacitação de pessoas.

Jovens locais preenchem vagas

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Ivan Voigt: “Já investi R$ 15 mil na minha formação”.

Para cada dez vagas em posições estratégicas, que utilizam empresas instaladas em Curitiba para prestar serviços especializados na busca de profissionais diferenciados, sete são preenchidas por profissionais do Paraná. Ter que buscar apenas 30% dos profissionais superqualificados em outros pólos do País, configura-se em um cenário favorável ao desenvolvimento econômico, já que a maioria dos estados da nação apresenta um déficit muito maior.

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Carlos Contar: “Profissionais de hoje estão focados”.

Esse panorama foi traçado por diversos profissionais procurados pela reportagem do O Estado, sendo que todos informaram o mesmo percentual de paranaenses (70%) ocupando tais vagas. “É uma evolução do ponto de vista da produção e fixação de talentos em território paranaense. Antigamente, era comum ao Estado perder seus principais nomes para os grandes centros, mas a diversificação da economia paranaense vem permitindo a retenção desses profissionais e, inclusive, o retorno de parte dos paranaenses”, conta o diretor regional Sul da Business Partners Consulting, Carlos Contar. “Isso porque os profissionais de hoje não estão focados apenas nos rendimentos, mas em uma soma de fatores que inclui desde os planos que a organização apresenta, até ganhos na qualidade de vida. E isso é um atrativo que as empresas de Curitiba,, por exemplo, têm a seu favor”, explica Contar.

No topo do mercado

O analista de sistema ABAP/SAP Ivan Roberto Voigt, de 26 anos, apesar da pouca idade, é um desses exemplos de profissionais raros e muito procurados pelo mercado. Foram meses de busca até chegarem ao analista e fecharem um acordo.

“O rendimento não foi o fator que mais contou e, sim, a oportunidade de evolução profissional. Isso foi o diferencial para a minha escolha”, disse Voigt que deixou seu antigo emprego para trabalhar em projetos internos de melhoria contínua.

Detalhe: ele passou a ganhar o dobro do que recebia na antiga empresa.

Vale destacar que para isso, desde os 18 anos ele traça e cumpre objetivos em sua carreira.

]“Cursei na universidade Sistemas de Informação e segui fazendo cursos. Já investi em torno de R$ 15 mil na minha formação. O resultado começa a aparecer agora, depois de muito empenho e dedicação”.

Talentos em números

– Os salários dos superprofissionais estão inflacionados e os especialistas têm dificuldades em revelar os números, pois cada vaga é negociada de modo específico. Tirando outros tipos de benefícios ofertados, o salário propriamente dito varia de R$ 5 mil a R$ 40 mil, dependendo do cargo e das habilidades do profissional;

– As empresas especializadas em RH levam, em média, de 30 a 90 dias para encontrar um profissional adequado aos planos do contratante.

– O Paraná possui uma situação privilegiada, visto que somente 30% das vagas não são preenchidas com profissionais daqui.

– Engenheiros de diversas áreas ocupam o topo do ranking dos profissionais mais difíceis de serem encontrado devido ao vácuo criado entre meados dos anos 90 e 2000, no período de estagnação da economia. Caiu-se a procura por esses cursos e, só em 2005, as pessoas passaram a ter interesse na área, ou seja, somente agora esses estudantes estão se formando.