Lula obtém apoio de Bush para destravar Doha

Foto; Arquivo/O Estado

Lula: conversa de 20 minutos com Bush e o apoio.

Depois de sete meses de insistência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve um sinal positivo do seu colega George W. Bush, dos Estados Unidos, a uma reunião de líderes mundiais para arrematar, com decisões políticas, a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que discute liberalização comercial. Bush ressalvou, porém, que o encontro deverá acontecer apenas se falharem os esforços agendados para o dia 29, em Genebra, quando os ministros dos países mais influentes na OMC teriam de concluir os capítulos industrial e agrícola.

O sinal verde surgiu durante uma conversa de 20 minutos, por telefone, entre os dois presidentes, iniciada às 8h30 de ontem. O telefonema de Washington obrigou o presidente Lula a cancelar seu discurso na abertura de um encontro sobre Bolsa Família, em Brasília. Mas, a iniciativa tinha partido do Palácio do Planalto. Na semana passada, havia sido acertada uma conversa de Lula com Bush, que acabou adiada na última hora por causa da visita surpresa do presidente americano ao Iraque.

Fontes do Palácio do Planalto informaram que, na conversa, Lula mostrou-se preocupado com os atuais impasses na OMC e cético com relação a soluções em nível ministerial. A rigor, o sucesso da Rodada Doha depende de uma corrida contra o tempo. Os países envolvidos deverão apresentar suas propostas definitivas sobre agricultura, indústria e serviços até o próximo dia 30 de julho para que o acordo final possa ser consolidado até o final deste ano.

?O Brasil está pronto para dar sua contribuição se os outros parceiros fizerem o mesmo?, afirmou Lula a Bush, ao indicar que a proposta de abertura do mercado industrial brasileiro poderá ser mais ?generosa? se houver correspondência nas posições da Europa e dos Estados Unidos. ?Os vários participantes da Rodada devem fazer sua parte e respeitar o princípio da proporcionalidade?, insistiu.

Bush, por sua vez, lembrou o presidente brasileiro que os negociadores americanos encaram com seriedade a reunião ministerial do dia 29, em Genebra, e levarão consigo mensagens claras do interesse de Washington de concluir a Rodada Doha a bom termo. O presidente americano não detalhou se será apresentado um projeto mais substancial de redução dos subsídios agrícolas. Indicou que espera êxito nesse encontro. Mas que, se fracassar, o encontro de chefes de Estado e de governo deverá ser organizado.

O presidente Lula trabalha essa proposta desde novembro do ano passado, antes da Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong. Bush foi um dos primeiros a ouvir os apelos de Lula. Mas, até o momento, nenhuma resposta havia saído da Casa Branca. Os primeiros-ministros da Alemanha, Angela Merkel, e da Grã-Bretanha, Tony Blair, haviam se mostrado mais afáveis. Porém nunca bateram o martelo. Também interpelado por Lula, Jacques Chirac, presidente da França, escapou de tal compromisso.

Em uma última tentativa de emplacar a idéia, Lula defendeu que a Rodada Doha seja tratada na reunião ampliada do G-8 (as economias mais ricas, incluindo a Rússia), em São Petersburgo, entre 15 e 17 de julho. Se não, pelo menos em um encontro paralelo. Conforme defendeu, essa seria a última chance de um acerto político para impulsionar a negociação antes do prazo de 30 de julho.

O dilema da Rodada está no limite da proposta de cada um dos três principais atores. A União Européia resiste a apresentar uma oferta de maior abertura de seu comércio agrícola – e bate nos americanos por não colocarem sobre a mesa uma nova proposta de redução dos subsídios domésticos. Os Estados Unidos alegam que, sem a abertura agrícola européia, não podem cortar subvenções a seus agropecuaristas. Ambos se aliam apenas para criticar a posição reticente do G-20, grupo de países em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia, em termos de liberalização do comércio de bens industriais e de serviços.

O G-20 reclama que os sacrifícios dos países devem ser proporcionais a seu nível de desenvolvimento. Amanhã (20), em Genebra, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reúne-se com representantes do G-20 para afinar as posições para essa etapa crucial da Rodada. Na noite de hoje, tratou dos impasses nas negociações com o diretor-geral da OMC, o francês Pascal Lamy.

Voltar ao topo