Lula diz que política cambial não muda

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em São Paulo, que não vai atender a reivindicações de alguns setores da sociedade para interferir na política cambial por conta de um eventual risco na queda das exportações. ?Não há nenhuma incompatibilidade na nossa política de exportação e a nossa política de crescimento da economia. Todo o empresário sabe que o câmbio é um problema da política americana?, declarou. Antes do comentário, Lula sugeriu a ida de uma comitiva de empresários e políticos aos Estados Unidos para reclamar.

Segundo Lula, ?salvo alguns setores, o restante continua exportando muito bem?. O presidente não detalhou quais seriam esses setores, mas citou estatísticas de comércio exterior. Lula mencionou que o Brasil, nos últimos 12 meses até hoje, alcançou cerca de US$ 104 bilhões de exportações com o saldo comercial ao redor de US$ 37,6 bilhões. O presidente também disse que a balança de turismo teve um superávit de cerca de US$ 174 milhões no trimestre (de janeiro a março).

Segundo o presidente, os dados são resultado do trabalho de empresários e políticos que ?aprenderam a vender tudo de bom que o Brasil tem?.

Cobrança

Lula participou ontem pela manhã, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), da cerimônia de comemoração dos 15 milhões de veículos produzidos pela Volkswagen do Brasil.

Durante seu discurso, Lula mencionou a reforma sindical ao dizer que algumas reformas foram feitas e outras ainda precisam ser realizadas. ?É preciso que os sindicalistas me convoquem para discutir sobre isso?, acrescentou.

O presidente voltou a falar sobre os juros citando o cooperativismo de crédito como um exemplo bem-sucedido na estratégia de redução de juros pagos pelos empresários. ?É a melhor forma de baixar juros e não ficar dependente de vender o patrimônio para saldar uma duplicata?, comentou.

No evento, Lula foi cobrado pelos sindicalistas presentes, que pediam, entre outras coisas, uma política industrial para o setor automotivo e que o governo encampe a reforma sindical. ?A companheirada não pode viver de sobressalto, de crise em crise?, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, José Feijó.

Os discursos foram assistidos pelos trabalhadores da fábrica. Um grupo ergueu uma faixa em que estava escrito ?Lula, salário não é renda, 64% de correção já do IR?. Ainda durante o discurso, vários trabalhadores gritaram frases como ?Lula, arrocho?.

Fox exportação é fabricado em São Paulo

Dentre os 15 milhões de veículos montados pela Volkswagen do Brasil até hoje, a unidade de São José dos Pinhais, uma das cinco fábricas que produzem para a marca no País, tem um papel importante também no que se refere ao desempenho das exportações. Foi na unidade paranaense que as primeiras remessas do veículo Fox foram produzidas e mandadas para a Europa pelo Porto de Paranaguá. No início desta semana, a Volkswagen do Brasil totalizou 20 mil unidades do modelo provenientes de São José dos Pinhais embarcadas diretamente para a Alemanha.

Porém, o evento que marcou o início da produção do Fox Europa em São Paulo, ontem, serviu para anunciar que, a partir de agora, a unidade da montadora que estará focada nas exportações do modelo é a de São Bernardo do Campo. De acordo com a presidência da Volkswagen do Brasil, isso se tornou viável porque o governo de São Paulo tomou iniciativa inédita no País de reverter as alíquotas de ICMS em créditos para produções que visem ao mercado externo. O crédito somado pela empresa já chega aos R$ 259 milhões e será quase totalmente revertido para a produção do Fox Europa na fábrica da Via Anchieta. Diante dessa conveniência, a unidade paranaense continuará produzindo o Fox, mas para suprir somente o mercado doméstico.

?Esse é um assunto sensível?, disse o presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner. ?Quando falamos em divisas de volume, é possível dizer que ambas as unidades, de São José e São Bernardo, se beneficiaram muito. Mas não seria possível produzir tudo no Paraná, até por motivos fiscais?, justificou o presidente. Ele garantiu que os modelos Golf e Audi A3 continuarão sendo fabricados e exportados a partir da montadora paranaense, que, a partir de então, tem aí seu foco de mercado externo. ?Os modelos continuarão como estão, por enquanto. Em algum momento poderemos torná-los mais atraentes, mas não agora?, complementou.

A presidência da empresa confirmou que houve queda em abril da produção para o mercado doméstico, também em função da produção européia, mas garantiu que a situação será revertida neste mês. Até porque, diante das altas taxas de câmbio e a demanda excessiva por matéria-prima, as exportações não têm sido, até agora, fonte de lucro para a empresa tal como o mercado interno; como definiu o presidente Maergner, o foco principal será crescer no mercado doméstico e ter as exportações como ?o chantilly em cima do doce?. (Lígia Martoni, enviada especial a São Paulo)

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