Governo descarta racionamento de gás

A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, afirmou que o racionamento de gás natural ainda não começou e que o governo federal prepara um plano de contingenciamento para postergar ao máximo a redução no abastecimento. Dilma também disse que o ministério prepara um levantamento dos consumidores para estudar em que áreas será possível substituir o insumo por outros combustíveis.

A ministra ainda afirmou que espera um ?desenlace rápido? para a crise na Bolívia e que, no cenário que o ministério trabalha, o Brasil poderia agüentar por cerca de 15 dias. O País importa da Bolívia cerca de 24 milhões de metros cúbicos de gás/dia, sendo que, pelo menos 40% é consumido no Estado de São Paulo, com destaque para a região metropolitana da capital.

?Não começou nenhum racionamento. Nós estamos fazendo um movimento de postergar a necessidade de qualquer contingenciamento de gás. Como? Se não for necessário usar gás, por exemplo, na energia elétrica, não se usa?, disse a ministra, durante entrevista à imprensa, ontem, após reunião do Conselho de Infra-Estrutura da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

?Como nós estamos num momento de alta hidraulicidade (nível de abastecimento das comportas), nós não estamos precisando usar a geração térmica por razões energéticas?, disse a ministra.

Ela acrescentou que, nas áreas onde realmente for necessária a utilização das termelétricas para o fornecimento de energia, vai ser estudada a substituição do gás por óleo combustível, ?sempre que for possível?.

A ministra também afirmou que o governo trabalha com cenários para um possível agravamento da crise na Bolívia, com interrupção no curto e no médio prazos.

?No horizonte que nós estamos trabalhando, com um cenário médio, nós achamos que temos condição ainda de contornar esse problema por mais de duas semanas?, afirmou.

Dilma disse, ainda, que o governo brasileiro não trabalha com a expectativa de uma elevação nos preços do gás natural boliviano, seja por conta dos distúrbios políticos, seja devido aos planos de uma elevação da cobrança de impostos sobre a atividade de produtoras de gás naquele país, entre elas a Petrobras. Dilma acrescentou também que a possibilidade de ocorrer uma nacionalização das empresas de petróleo e gás que atuam na Bolívia ?não parece significar que a Petrobras será expulsa do país?.

Dilma lembrou que o contrato firmado na década passada entre os governos brasileiro e boliviano visando a importação do gás produzido na Bolívia pelo Brasil é de longo prazo, ?com preços e condições claras?.

Erro na dependência externa

O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, considera que foi equivocada a decisão de construir um gasoduto no Brasil dependente da produção de gás de outro país. ?Estamos hoje tratando de uma situação decorrente de uma decisão que foi tomada décadas atrás: (ter) um bem estratégico (o gás) produzido no exterior. Isso é um erro estratégico. Uma decisão estrategicamente errada.?

O diretor fez a avaliação ao ser questionado sobre a crítica que o secretário estadual de Energia, Petróleo e Indústria Naval do Rio de Janeiro, Wagner Victer, de que a Petrobras estaria demorando muito para tomar providências diante da crise da Bolívia que já era anunciada desde o ano passado e que pode, segundo ele, comprometer o abastecimento de gás no Brasil.

Guilherme Estrella ponderou que os problemas da Bolívia são políticos e internos e se deve preservar a soberania do povo daquele país, mas garantiu que a Petrobras tem um plano em que foram analisados vários cenários econômicos e informou que a empresa está em condições de responder a qualquer necessidade que se apresentar. ?A empresa está preparada para fazer o possível para atenuar qualquer tipo de situação que venha ocorrer, para que os impactos sejam os menores possíveis.?

Produto não vai faltar para uso doméstico

A Petrobras e o Ministério de Minas e Energia (MME) divulgaram uma nota garantindo o abastecimento de gás natural residencial à população, independentemente de medidas emergenciais que possam ser tomadas em função da crise na Bolívia. No entanto, o governo está preparando um plano de contingência e, caso a situação se agrave, os principais cortes deverão ocorrer no abastecimento de gás natural veicular (GNV) e de refinarias e térmicas.

Na nota, a Petrobras diz que o ?o plano considera a utilização de combustíveis substitutos como uma das principais alternativas para gerenciar uma situação temporária de redução no fornecimento do insumo proveniente da Bolívia?.

O Brasil importa, atualmente, cerca de 24 milhões de metros cúbicos por dia de gás da Bolívia, mais da metade de seu consumo total de 44 milhões de metros cúbicos diários.

As medidas contingenciais já tiveram início nas refinarias da estatal e serão estendidas às usinas térmicas. A Petrobras destaca que não haverá qualquer alteração no fornecimento de GLP (gás de botijão), já que sua disponibilidade não depende das importações do país vizinho. Além disso, a empresa ressalta que os reservatórios das usinas hidrelétricas estão com níveis elevados de água, o que assegura o fornecimento de energia elétrica ao País.

O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, afirmou ontem que, se houver restrição da Petrobras à venda de gás natural veicular (GNV), ela não será técnica. Segundo o secretário, não é possível desligar a saída do gás dos dutos que chegam aos postos de abastecimento de veículos, uma vez que eles são os mesmos que levam o combustível às residências.

Petrobras já escolheu local para nova unidade

Caraguatatuba (AE) – A Unidade Processadora de Gás Natural projetada pela Petrobras para a exploração do gás descoberto na Bacia de Santos deverá ser instalada em Caraguatatuba, no litoral norte paulista. A informação é da assessoria de imprensa da Prefeitura local. Técnicos e diretores da Petrobras visitaram o município anteontem para informar ao prefeito José Pereira de Aguilar (PSDB) sobre a intenção da empresa de instalar a base na cidade.

De acordo com Aguilar, a intenção da empresa é acelerar a exploração do campo de Mexilhão para evitar qualquer problema com a distribuição de gás no País, como a atual crise da Bolívia. O país fornece por dia 24 milhões de metros cúbicos de gás para o Brasil.

A reserva foi descoberta no ano passado e é alvo de disputa dos municípios de São Sebastião e Caraguatatuba. De acordo com o projeto elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Caraguatatuba, a cidade tem os aspectos geográficos, geológicos e ambientais mais favoráveis da região litorânea para receber a obra, avaliada em US$ 1 bilhão. ?Temos as condições mais favoráveis, pois o gás é proveniente do campo de Mexilhão e tem de ser levado até Taubaté pelos dutos que, preferencialmente devem estar em linha reta?, explicou o prefeito.

O campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, tem um potencial exploratório de gás natural cujo volume chega a aproximadamente 420 bilhões de metros cúbicos. Além de gás, essa bacia tem volumes de óleo que estão sendo avaliados pela companhia. A previsão é de que por dia haja uma vazão de 15 milhões de metros cúbicos. O gás sairá da Bacia de Santos seguindo um gasoduto submarino de 165 quilômetros de extensão e 34 polegadas de diâmetro.

Depois do tratamento, na unidade de processamento em Caraguatatuba, o gás natural segue por outro gasoduto, de 32 polegadas, percorrendo uma distância de 68 quilômetros até Taubaté. Do Vale do Paraíba, segue para a malha sudeste de gasodutos.

O projeto básico da instalação, que vem sendo elaborado pela Petrobras, deverá ser finalizado no início do ano que vem. Uma comissão especial está sendo montada na Prefeitura para realizar estudos e acompanhar os trabalhos da Petrobras. ?O objetivo será, inicialmente, promover a qualificação de moradores da cidade para atuarem na Base de Gás, além de realizar estudos para o controle da migração na cidade?, disse Aguilar, adiantando que na próxima semana a Petrobras vai anunciar oficialmente a base em Caraguatatuba.

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