Financiamento do déficit em conta preocupa analistas

Os números do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro, na proporção de 3,20% do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado de 12 meses até maio, e do saldo negativo na margem não representam o maior problema da economia brasileira, avalia o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. Em maio, a conta corrente registrou déficit de US$ 6,420 bilhões e no acumulado de 12 meses até maio, um saldo negativo de US$ 72,972 bilhões.

Para ele, é irrelevante no atual momento analistas se debruçarem sobre números conjunturais quando o problema econômico brasileiro é de ordem estrutural. “O problema das contas externas não é debater se a Petrobras, por exemplo, está importando mais ou menos no curto prazo”, avalia o economista do ABC Brasil. Mesmo porque, de acordo com ele, a estatal brasileira de petróleo está importando mais agora porque há uma série de plataformas em manutenção.

“A partir do segundo semestre, quando as plataformas voltarem a funcionar, a produção de petróleo vai se recuperar e as importações serão reduzidas”, prevê Souza Leal. Para ele, discutir déficit nas contas correntes na proporção de 3,20% do PIB é irrelevante porque se trata de um resultado financiável.

É claro, pondera o economista, que seria mais confortável se este déficit estivesse sendo financiado integralmente pelo ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) na economia, como era até pouco tempo atrás. Isso se tornaria mais relevante especialmente neste momento da economia brasileira em que o capital externo tem se tornado mais escasso.

“Tem gente comparando a situação das nossas contas externas com a da Turquia. Isso não faz sentido porque enquanto o nosso déficit é de 3% do PIB o deles é de 6%”, observa Souza Leal. O economista prevê que muito rapidamente o déficit na conta corrente poderá alcançar a proporção de 4% do PIB, o que reforça a necessidade de o governo passar a adotar medidas econômicas de cunho estrutural.

Mas, no curto prazo, de acordo com o chefe do Departamento Econômico do ABC, a situação é tranquila no que se diz respeito às contas externas porque na magnitude em que se encontra trata-se de um déficit financiável. A preocupação poderá crescer se os leilões de concessões programados para o segundo semestre não atraírem os investimentos. “São os leilões que vão medir o apetite dos investidores por Brasil”, afirmou.

J. Safra

Na opinião do economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, a despeito de o déficit na conta corrente estar se ampliando velozmente, até maio ele foi financiado com relativa tranquilidade pelo ingresso de Investimento Externo Direto e, também, pela entrada dos recursos captados pela Petrobras, à razão de US$ 11 bilhões.”O próprio fluxo do Banco Central mostra que a posição dos bancos passou a ser comprada, ou seja, absorveram os US$ 11 bilhões”, disse Kawall.

Para Kawall, junho é que pode representar alguma dificuldade porque estão ocorrendo adiamentos das captações externas. Além disso, a redução de 6% para zero do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre a entrada de recursos externos no País para investimentos em renda fixa não surtiu ainda o resultado esperado por causa da turbulência no mercado de juros, o que tem levado a autoridade monetária a ter de fazer leilões.

Soma-se a isso, diz ele, a posição do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Bem Bernanke, que foi mais “hawkish” do que esperava o mercado e à própria deterioração da economia interna. Dentre as várias sinalizações dadas pelo banqueiro central norte-americano, está a de que ele acredita que o Fed poderá deixar de comprar títulos, uma sinalização oficial de que a economia americana começa a retomar a trajetória de crescimento.

Outro ponto que se soma às preocupações de Kawall com a trajetória das contas externas é a expectativa dele de que os leilões de concessão nos segmentos de infraestrutura no segundo semestre não conseguirão reunir recursos suficientes para cobrir o déficit na conta corrente. De acordo com Kawall, o Brasil precisa se fortalecer mais e isso se daria pela melhoria da política fiscal.