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Etanol pode passar dos R$ 2 em Curitiba

O litro do etanol nos postos de Curitiba voltou a subir e já ameaça romper a barreira dos R$ 2. Muitos estabelecimentos, que até sexta-feira (19) trabalhavam com valores entre R$ 1,79 e R$ 1,89 para o combustível, alteraram a bandeira em pelo menos R$ 0,10. A gasolina acompanhou o reajuste, em partes, pelo aumento no valor do álcool anidro, mas também pela recomposição do preço, que há anos está descolado do cenário internacional.

Para o consumidor, o litro do etanol em um patamar semelhante ao que foi observado na entressafra causa indignação. “Desta vez abasteci por descuido com álcool, porque não tinha visto que subiu, mas a esse preço não dá para optar pelo etanol, é um absurdo”, classificou o marceneiro e montador Elias Jessé Roberto, que encheu o tanque com o litro do etanol a R$ 1,99 nesta segunda-feira (22). Como ele faz montagem de móveis, na semana, chega a percorrer entre 50 e 70 quilômetros. “Vou usar a gasolina até baixar, porque um tanque com álcool rende três dias e na gasolina quatro”, calcula.

Os funcionários dos postos confirmam esta resistência ao preço do etanol. “Só quem levanta a bandeira do combustível não poluente que acaba pagando por essa conta, mas a maioria repudia, é um protesto silencioso”, assegura o gerente do Auto Posto Napoli, Elias Evangelista Barbosa. “Sem aumentar a produção de cana, não vejo como o álcool voltar a valores mais atraentes”, avalia.

A explicação de Barbosa encontra respaldo em quem integra a cadeia produtiva do combustível. O superintendente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), José Adriano da Silva Dias, reconhece uma alta média de R$ 0,6 vinda da usina por conta da dificuldade encontrada na colheita de cana, nas últimas semanas, devido à chuva e pela menor pressão dos compromissos de pagamento do meio do mês. “O produtor fica mais pressionado no fim do mês, quando as contas vencem e ele vai com mais vontade para o mercado. Se isso se somar a melhora no tempo para a colheita da cana, o preço cede novamente”, explica.

Política de incentivo

Claro que a sazonalidade é só uma parte do problema de preço no combustível. A lacuna entre aumento de demanda, por conta da venda de carros flex, e ausência de investimentos para o aumento na produção gerou essa situação de incerteza e pressão nos preços  do combustível, que antes ficavam pressionados ao período de entressafra. “Estamos trabalhando com cana velha que tem um rendimento menor por hectare”, diz o superintendente. Segundo ele, se antigamente um hectare de área cultivada chegava a produzir 90 toneladas de cana-de-açúcar, nesta safra, a produtividade ficou em 70 toneladas. “Estamos importando etanol e, se não houver uma política séria de incentivo, para tentar reverter esse quadro em três anos, isso não mudará, pois o ciclo da cana é longo e é elevado o custo da renovação dos canaviais”, aponta.

Ele projeta que para normalizar o abastecimento seria necessário aumentar em 50% a área de cana, hoje em 7,8 milhões de hectares no Brasil. Contudo, o custo do plantio de cana por hectare está orçado em R$ 7 mil. “É um investimento elevado, que o produtor não vai bancar sem apoio ou uma linha de crédito a juros competitivos”, alerta.