Cautela orientou o Copom, que não aponta corte no juro

O Copom (Comitê de Política Monetária) voltou a colocar em dúvida o cumprimento da meta de inflação de 5,5% para este ano e, contrariando as expectativas do mercado, não deu sinais de que voltará a reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) em março. Após cortar os juros em 10 pontos percentuais entre junho e dezembro de 2003, o comitê decidiu na semana passada manter, pelo segundo mês consecutivo, a Selic em 16,5% ao ano.

Na ata da reunião, divulgada ontem, o Copom diz ter mantido o “diagnóstico” de janeiro de que “há uma probabilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas, o que requer cautela adicional na condução da política monetária”.

Estendida para março, essa “cautela adicional” frustaria as expectativas do mercado, que aposta em um corte de pelo menos 0,25 ponto percentual nos juros no próximo mês.

Corte “prematuro”

Na ata, o Copom reforça o discurso de que seria “prematuro” ter reduzido os juros em fevereiro e que ainda não foram totalmente sentidos os efeitos positivos dos cortes promovidos no ano passado.

“O retorno prematuro ao processo de flexibilização da política monetária, interrompido em janeiro, aumentaria significativamente o risco de que a inflação se desviasse da trajetória de metas e, portanto, de que se tornasse necessária uma mudança na política monetária no médio prazo, com fortes movimentos na taxa de juros e impactos significativos sobre a atividade. A manutenção da taxa básica de juros, por outro lado, embute um risco substancialmente menor de causar danos palpáveis ao processo em curso de recuperação da economia”, diz o documento.

Além disso, o comitê avalia abertamente que a inflação começou este ano com índices acima do previsto.

“O resultado de janeiro ficou acima do esperado e as informações preliminares de fevereiro sugerem que a inflação deste mês também será significativamente maior do que anteriormente antecipado.”

O Copom também reforça a avaliação de que a pressão sobre os preços possa não ser apenas sazonal e típica de janeiro. “Desde a reunião de janeiro, o Copom não identificou fatores que permitam descartar o cenário no qual a taxa de inflação permaneça elevada por um período mais longo que o indicado pelo padrão sazonal, capaz de colocar em risco o cumprimento da meta de 5,5% em 2003”.

Por último, prega cautela com os juros: “O cumprimento da meta de 5,5% em 2004 requererá maior cautela da política monetária do que o anteriormente previsto, tendo em vista o resultado de janeiro e as expectativas para o curto prazo, que apontam para uma inflação próxima a 2% no primeiro trimestre”.

Crescimento

A análise positiva do Copom ficou por conta do crescimento da economia brasileira neste ano, que até agora estaria ?em linha? com as previsões. Isso significa que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve ter expansão de 3,5%.

No entanto, o comitê avisa que o próprio crescimento poderia gerar inflação “caso tomasse corpo a impressão (de empresários) de que contariam com leniência da política monetária em um cenário de exacerbação do otimismo com a recuperação da economia em determinados setores”.

Telefone sobe mais, energia menos

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) reduziu sua estimativa para os reajustes de energia elétrica em 2004 ao mesmo tempo em que elevou as projeções para a alta da telefonia fixa.

Na ata da reunião da semana passada, divulgada somente ontem, o comitê prevê um aumento de 6,8% para a telefonia neste ano. Até o mês passado, a projeção de alta era de 6,6%.

Já as tarifas residenciais de energia elétrica devem ter um aumento médio de 6,3% em 2004. A projeção anterior era de 6,8%.

Por último, as projeções de aumento da gasolina e do gás de botijão foram mantidas em 9,5% e 10%, respectivamente.

Analistas acham que Selic será mantida

A retomada dos cortes na taxa básica de juros dificilmente acontecerá em março. Se tudo correr bem, o corte poderá vir em abril. Esse é o principal recado que analistas e gestores do mercado financeiro leram na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de fevereiro divulgada ontem.

O tom do Banco Central no tocante aos riscos do processo inflacionário foi menos conservador do que a ata da reunião de janeiro – quando a manutenção dos juros foi uma grande supresa – mas não veio “preparando terreno” para um pequeno corte já em março, como acreditava e precificava boa parte do mercado. “A ata aponta que dificilmente haverá espaço para um corte dos juros no mês que vem. O mercado tende a rever sua projeção nesse sentido”, avalia o economista-chefe do ABN Amro, Mário Mesquita.

“A ata não veio tão conservadora como a de janeiro, mas indica que o corte não vai vir em março. Quem sabe, em abril”, reforça o sócio-executivo do Pátria Hedge Fund, André Penalva.

Chamaram a atenção as constatações da autoridade monetária de que o balanço de riscos sobre a inflação não se alterou significativamente desde janeiro e que uma flexibilização prematura da política monetária implicaria em risco de descumprimento da meta de inflação.

Além disso, como lembra o economista Fábio Akira, do JP Morgan, o BC mostra-se confortável em manter a taxa Selic em 16,5% ao ano ao relatar que esse patamar não compromete a retomada da atividade econômica em curso.

Para os analistas, a retomada do desaperto monetário acontecerá somente quando houver sinais mais consistentes de queda nos núcleos de inflação dos principais índices, Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sobretudo, e também das pressões inflacionárias decorrentes da recuperação da atividade econômica, por exemplo, o fôlego dos repasses dos índices no atacado para o varejo. Sobre este último ponto, os analistas lembram que a ata foi clara no sentido de demonstrar que a leniência da política monetária aumentaria os riscos de que tais repasses seriam maiores.

Inflação

Mais do que uma obsessão em atingir o centro da meta de inflação, o Banco Central quis evitar uma retomada “precipitada” do otimismo sobre o comportamento dos preços com a ata da última reunião do Copom, avalia o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Em outras palavras, a autoridade monetária teve o objetivo de atuar sobre as expectativas dos agentes econômicos num momento em que os formadores de preços começam a tomar decisões sobre reajustes e remarcações.

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