É a economia

A economia brasileira não permitia a comemoração de um feito tão extraordinário desde 1996. A motivação está no anúncio do crescimento de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre desse ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. A informação foi liberada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com um complemento deveras satisfatório: o acumulado de 12 meses cravou com exatidão o mesmo percentual, quebrando mais um recorde.

De acordo com os levantamentos realizados periodicamente pelo IBGE, a expansão da economia brasileira, muito embora já se percebam os primeiros indícios de provável arrefecimento do ritmo no segundo semestre, foi assegurada pelo crescimento da indústria (6,9%), investimentos (15,2%) e nível do consumo familiar (6,6%), que em conjunto deram o respaldo para o excelente resultado do primeiro trimestre. No aspecto do crescimento do consumo das famílias, o IBGE apurou uma realidade acima de qualquer contestação, verificando que o mesmo está em constante e segura evolução há 18 trimestres consecutivos. As causas mais visíveis da trajetória ascendente do consumo das famílias, conforme o IBGE, foi o acréscimo de quase 34% nas operações de crédito e o aumento de 6,9% da massa salarial.

Trata-se de um raciocínio de lógica elementar: com mais dinheiro no bolso, em grande medida obtido por meio dos empréstimos consignados para aposentados e pensionistas da rede pública ou da melhoria salarial que animou a massa de trabalhadores com menor poder aquisitivo, milhões de brasileiros tiveram pela primeira vez em muitas décadas a condição financeira de romper a barreira que os separava do consumo, e foram às compras. Para uma parcela exponencial, além da aquisição de bens de consumo durável, o dinheiro extra ajudou a realizar o sonho da casa própria, a reforma sempre adiada do imóvel de moradia, a melhoria do veículo familiar e até mesmo o pagamento de dívidas vencidas.

O IBGE apontou, ainda, um item não desprezível numa avaliação conjuntural, qual seja a notória expansão de 5,8% dos gastos públicos no primeiro trimestre, no comparativo com o mesmo período na temporada anterior. Nesse particular, é forçoso reconhecer que os executivos das três esferas da administração pública resolveram antecipar as despesas com projetos e obras de interesse popular, porquanto é sempre esse o argumento, embora fique confirmada em gênero e número a indiscutível vocação dos políticos tupiniquins em ano eleitoral.

Para muitos analistas de mercado, no entanto, sobretudo o governo federal persiste em protagonizar péssimo exemplo à sociedade ao aumentar seus gastos, à vista das medidas draconianas já delineadas pelo Banco Central para conter o ímpeto da inflação, cujo reaparecimento sempre ganha sangue novo com a dinamização dos índices de consumo. As preocupações se concentram também sobre as contas externas, pois no final do primeiro trimestre de 2007 o País tinha necessidade de financiamento externo menor que R$ 1 bilhão. Atualmente, a cifra evoluiu para R$ 21 bilhões, resultante da contínua defasagem das importações maiores que as exportações.

As tendências para o futuro imediato ainda estão ligadas ao crescimento das importações para o suprimento daquilo que os economistas chamam de ?absorção doméstica?, tanto no consumo quanto na atração de investimentos. Diante dessa perspectiva é que alguns analistas fundamentam a idéia da diminuição do ritmo de crescimento do PIB no segundo semestre, na verdade, uma espécie de dique para segurar os efeitos mais danosos da inflação. A freada que vem por aí é necessária, pregam os mais otimistas, a fim de estabelecer o equilíbrio instável entre os níveis de crescimento efetivo e potencial da economia brasileira. É ver para crer.

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