Dirigismo à frente

Apesar de toda a luta intestina que pôs em campos antagônicos antigos companheiros abrigados sob a estrela do Partido dos Trabalhadores, tido como figura exponencial do grupo dominante substituído na executiva nacional, o deputado José Dirceu mostra que seu comando manteve-se praticamente inalterado desde o destampatório de Roberto Jefferson.

Quando a crise atingiu o zênite, caíram o chefe da Casa Civil e a cúpula petista (José Genoino, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno), sendo estes últimos substituídos por homens da confiança do presidente Lula: Tarso Genro, Ricardo Berzoini, Humberto Costa e José Pimentel.

Tarso iniciou a transição para o novo PT – o partido da refundação – segundo seu jargão de intelectual reconhecido. Em andamento face à legislação eleitoral, o planejamento da eleição direta (PED) para a escolha do novo diretório nacional, em 18 de setembro, passou a ser usado pelo presidente interino como alicerce para a campanha de depuração.

O processo de reconstrução da ética petista, jogada às traças, no balanço do ex-ministro da Educação sugeria como medida primacial a retirada de José Dirceu da chapa formada pelo Campo Majoritário. Foi inevitável, a partir da premissa, o braço-de-ferro entre os dois principais pares do reino petista.

Nos últimos dias, o desgaste da autoridade tarsiana ganhou dimensão facilmente percebida, vindo o desfecho no final da semana, em Porto Alegre, onde o político gaúcho decidiu afastar-se da presidência interina e abrir mão da candidatura à sucessão.

Para atestar que alguma orquestração esteve mesmo no ar e que o gesto fora aguardado com sofreguidão, o secretário-geral Ricardo Berzoini, ato contínuo, anunciou-se como ocupante da vaga, além de defender a permanência de José Dirceu na chapa.

Ficou patente aos olhos de todos a quem se subordina a tropa majoritária do partido. A formulação produzida por Tarso à luz da mais escorreita ciência política, terreno que domina, não foi suficiente para mudar o pensamento do aparelho concebido por José Dirceu, que segue distribuindo as cartas.

O PT fez opção preferencial pelo dirigismo autoritário, que muitos observadores identificam como melancólica herança do stalinismo, arquivando a proposta subscrita por cultores da política como expressão da inteligência. Coisa que o PT parece não levar a sério.

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