Diplomacia de choque

O presidente venezuelano Hugo Chávez ainda não pode comemorar por inteiro a admissão oficial do país no Mercado Comum do Sul (Mercosul), mas tem motivos para continuar sonhando com esse momento. Sinais nesse sentido foram emitidos pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, que aprovou esta semana, depois de cinco horas de discussão entre governo e oposição, a entrada da Venezuela no referido bloco.

A proposta de ingresso da Venezuela no Mercosul foi encaminhada ao Congresso por meio de mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, devendo ser submetida agora ao exame da Comissão de Constituição e Justiça, para a consideração técnica dos aspectos constitucionais da medida. A seguir, a mensagem passará pelo processo de discussão e votação no plenário e, aprovada na Câmara, fará o mesmo percurso no Senado da República.

Há algum tempo, o presidente Chávez criticou com visível impertinência o que considerava uma lentidão calculada do Congresso Nacional, ao procrastinar a votação da proposta do Executivo, agindo ?como papagaio do governo norte-americano?. A expressão acintosa de Chávez ensejou respostas duras de vários parlamentares brasileiros, que acabaram pagando a desfeita do presidente venezuelano com juros e correção monetária.

Talvez aconselhado pelo presidente Lula, o pretenso chefe da revolução bolivariana decidiu suavizar os arreganhos de sua diplomacia de choque, evitando a abertura de novos focos de conflito. A mensagem ganhou parecer favorável do deputado Dr. Rosinha (PT-PR), relator da matéria, que refutou os empecilhos de natureza ideológica levantados pela oposição. Seu parecer se fundamentou na interpretação de que quem está ingressando no Mercosul é o país e não o seu governante.

Deputados da oposição também rotularam de autoritarismo e agressão aos postulados da democracia as recentes declarações do presidente Hugo Chávez quanto à nacionalização de empresas, além do cancelamento da concessão da mais importante rede de televisão da Venezuela.

Contudo, a repercussão negativa mais intensa foi causada pelo fantasioso plano chavista de transformar a Bolívia num novo Vietnã, caso forças políticas antagônicas consigam desestabilizar o presidente Evo Morales. Bolívar e Guevara deram voltas no túmulo.

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