Iniciativas

Redes de apoio em Curitiba ajudam profissionais a vencer a crise do coronavírus

Kit da rede Liga na Causa. Foto: divulgação.

Com a paralisação de atendimento presencial por causa do coronavírus, profissionais autônomos ou pequenos comerciantes do setor alimentício se viram em um beco sem saída. Com pouco dinheiro em caixa, precisaram migrar exclusivamente para a entrega à domicílio. E mais que a logística, a divulgação do serviço tem sido um gargalo que muitos enfrentam.

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Mas tempos de crise também são tempos de solidariedade: diversas iniciativas surgiram em menos de uma semana, como um aplicativo totalmente gratuito em Santa Catarina, uma página de Instagram para divulgar gratuitamente os pequenos negócios e uma distribuidora de produtos que está reorganizando seu fluxo de trabalho para incluir mais produtos e passar a atender ao consumidor em vez do varejista.

Divulgação gratuita

Em Curitiba, um grupo de amigos publicitários lançou o Fortalece CWB, um perfil de divulgação gratuita de pequenos comércios de Curitiba. O trabalho dos 13 amigos é voluntário e reúne desde redatores, designers e arte-finalistas. Os interessados devem cadastrar seu negócio através de um formulário on-line, e o perfil faz a divulgação gratuita. Por enquanto, há 250 negócios cadastrados e 37 posts.

“Se pudermos colaborar com uma venda a mais, já valeu a pena”, avalia Carlos Franco, um dos idealizadores do Fortalece. O perfil divulga todas as iniciativas de profissional autônomo ou pequeno comércio, não necessariamente ligados à gastronomia – inclusive serviços de motoboy. Em cinco dias, o retorno tem sido satisfatório, diz o publicitário: “Já entraram em contato para nos dizer que bateram o recorde de lasanhas vendidas”, comemora.

Além de Curitiba, o modelo do Fortalece foi replicado em São Paulo, Porto Alegre, Goiânia, Jundiaí, Cajamar, ABC Paulista, Colombo, Aracaju e chegou além-mar, na cidade de Porto.

Instagram do perfil Fortalece Curitiba. Imagem: reprodução.

Zerando a taxa

O aplicativo Amo Delivery conecta entregadores e comerciantes gratuitamente e o consumidor paga uma taxa de entrega de acordo com o estabelecido pelos dois profissionais. “A única taxa [para o comerciante] que não conseguimos zerar é a do cartão do banco, de 2,5%”, detalha Diogo Machado, um dos idealizadores do Amo Delivery.

Assim que o lockdown foi decretado em Santa Catarina, na terça (17), os comerciantes de Florianópolis sentiram a queda brusca no movimento. Machado ouviu de um amigo seu que o movimento diminuiu 90% logo no primeiro dia. “Comentei com ele sobre delivery, mas ele me disse que era inviável para ele. As taxas chegam a 27% e ele já estava trabalhando no prejuízo para diminuir estoque”, conta Machado, CEO da Original.Market.

Com cinco anos de experiência em desenvolvimento de novos produtos e serviços, Diogo levou o problema a um grupo de discussão em inovação. Em poucas horas, 50 pessoas haviam se envolvido e criaram o Amo Delivery, um catálogo de estabelecimentos de alimentação em Florianópolis, que em breve se expandirá para outras cidades, como Curitiba e Joinville.

A empresa Amo Ofertas, de Chapecó, disponibilizou gratuitamente a plataforma e o servidor. Diferentes profissionais se voluntariaram para dar suporte ao cadastramento das empresas e outros serviços necessários, como logística, tecnologia da informação, comunicação e marketing. “Na crise, a gente precisa achar soluções de baixo custo”, afirma. Quando a crise passar, a ideia é cobrar uma taxa, mas que fique bem abaixo da média praticada atualmente. “Se não for baixa, não adiantaria. Muitos deles ainda estarão se reestruturando”, completa.

Mudança de público

Com a chegada do coronavírus, o estudante de administração Matheus Krauze viu boa parte de seus fornecedores ficarem sem saber para onde escoar sua produção. Matheus é sócio de Luiz Mileck na Melhor Local, distribuidora que representa apenas pequenos produtores da região de Curitiba. O escritório funciona n’O Locavorista, um misto de restaurante, cafeteria e mercearia de produtos locais, que reúne gastronomia, design e moda.

Diante da inviabilidade de manter a loja aberta e não tendo para onde escoar os produtos que representa durante o período de isolamento social, Krauze e Mileck decidiram mudar o destino final e passar a entregar ao consumidor. De portas fechadas desde terça (17), o salão d’O Locavorista virou um centro de montagem e distribuição de kits que mesclam os diferentes produtos.

Na sexta (20), lançaram o site Liga Emergencial dos Pequenos Negócios para receber cadastro de outros pequenos produtores da cidade que precisam aumentar seus canais de distribuição. Por ora, são 18 marcas e 8 voluntários que cuidarão da higienização, montagem de kits e entrega. Os preços serão de R$ 35, R$ 60 e R$ 100 e devem começar em meados de abril.

“No momento vivemos uma crise de saúde e a retomada da economia vai se dar daqui uns meses. Em abril estaremos no pico da crise, muitos produtores estarão sem giro”, explica Krauze.

Serviço

Delivery com Amor – amo.delivery/comamor
Fortalece CWB – www.instagram.com/fortalece.cwb/
Liga na Causa – www.liganacausa.com.br