Projeto do Futuro muda a vida de jovens da periferia

Aos 14 anos, Thaís Santiago vive um período de mudanças. Não apenas porque está na adolescência, mas também porque, por meio do esporte, alterou a rotina e o comportamento. Thaís trocou o tempo gasto na rua pelas quadras do programa Portal do Futuro, mantido pela Prefeitura de Curitiba. Graças ao desempenho como atleta, ganhou uma bolsa de estudos em um dos melhores colégios particulares de Curitiba, tornando-se um exemplo de como o esporte pode ser transformador na vida de crianças, adolescentes e jovens.

Thaís joga basquete à noite no Portal do Futuro Cajuru, uma das três unidades implantadas em 2013 pela Prefeitura (as outras ficam no Boqueirão e no Bairro Novo). Só no Cajuru, em três meses de atividades foram realizados aproximadamente 20 mil atendimentos a jovens.

O programa é destinado a adolescentes e jovens de 12 a 29 anos e visa ajudá-los a se tornarem protagonistas das próprias vidas. São oferecidas atividades nas áreas do esporte e da cultura e cursos de aperfeiçoamento focados na economia criativa.

Para jovens como Thaís Santiago, o programa representa acesso a oportunidades que não teriam de outra forma. “Eu era terrível, ficava na rua até altas horas só aprontando. Depois que comecei a participar do projeto, mudei pra melhor”, diz Thaís, que, além de praticar basquete no Portal, treina vôlei no Círculo Militar do Paraná duas vezes por semana.

Segundo ela, até na escola a convivência melhorou. “Antes eu só brigava, discutia até com professores e diretor. Passei a ter mais paciência e a ser mais educada. Estou aprendendo muito no projeto, inclusive a ter uma alimentação mais saudável”, conta.

“O esporte trouxe disciplina para a Thaís. A comunidade e os familiares dela já notaram a diferença no comportamento”, afirma Grace Kelly Ferreira Rosa, gestora do Portal Cajuru.

Dario Messias e Thaisa Brione, ambos com 12 anos, também observaram mudanças positivas a partir das atividades promovidas pelo Portal do Futuro. Moradores na região, eles viviam sem estrutura de esporte, lazer e cultura e se habituaram a passar boa parte do tempo na rua, expostos a situações perigosas. “Eu era briguento e ficava na rua bagunçando. Agora, até minhas notas na escola melhoraram”, comentou Dario. “O Dario também era terrível no começo e melhorou muito no convívio com outros participantes do portal e na escola”, diz a gestora do Portal.

Thaise se adaptou tão bem ao projeto que agora é a maior incentivadora do irmão a também procurar atividades no Portal do Futuro. “Aqui é mais seguro. Não tem brigas. Minha mãe também está aqui no Portal e ficamos mais tempo juntas”, diz a adolescente, que faz aulas de natação.

O agente de saúde Marcelo Arialdo Pereira, que trabalha diretamente com jovens e esporte voluntário há quase duas décadas, afirma que o programa teve um impacto positivo na comunidade. “O número de jovens que ficam na rua, sem atividade, diminuiu bastante na região”, afirmou.

Uberaba

O Portal do Futuro também começa a provocar mudanças na vida de jovens das Vilas Icaraí, Audi e União, no bairro Uberaba, locais praticamente sem opção de entretenimento, esporte e cultura. “A realidade deles era totalmente diferente antes do Portal. As crianças e jovens daqui estão acostumados à violência e muitos servem como laranjas para traficantes. O Portal do Futuro transformou-se numa referência para a comunidade, um espaço seguro”, afirma a líder comunitária Edna Paixão, moradora há 15 anos na localidade, que acompanha e auxilia o programa na região.

Programa

Aberto no fim de setembro, o Portal do Futuro Cajuru foi o primeiro implantado. Depois vieram os do Boqueirão e do Bairro Alto. A meta é ter uma unidade em cada regional da cidade até o final de 2016.

Além de oferecer atividades à noite e nos fins de semana, o programa se diferencia de iniciativas anteriores por adotar um modelo de gestão que envolve jovens da comunidade na decisão sobre quais cursos, oficinas, atividades esportivas e culturais serão ofertados. Com a gestão compartilhada, os jovens envolvidos no programa tornam-se corresponsáveis pelo local, colaborando para deixá-lo em condições de uso para a comunidade.

“Ampliamos a oferta de atividades para a população jovem e o atendimento está sendo feito em outro formato, muito mais participativo, ouvindo a opinião da comunidade”, afirma a coordenadora de políticas públicas para a juventude da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude, Luciane Mendes.

Segundo Luciane, os relatos de pais sobre a mudança de comportamento dos filhos, confirmando que os jovens estão mais envolvidos com o esporte e a cultura e menos ligados à rua, são indicativos de que o programa está caminhando bem. “Oferecer alternativas para os jovens é uma forma de dar nova perspectiva à vida deles. O Portal pode evitar que se envolvam em situações de risco”, afirma.