Postos interditados

Polícia investiga possível relação entre denúncia de fraudes em postos e morte de fiscal

A Polícia Civil ainda não confirma se a morte do fiscal Fabrizzio Machado da Silva, de 34 anos, na noite da última quinta-feira (23), em Curitiba, tem relação com o esquema de fraudes a bombas de combustíveis investigado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). Ele era o presidente da Associação Brasileira de Combate a Fraudes de Combustíveis (ABCFC) – entidade que denunciou a existência de ao menos duas organizações criminosas atuando em Curitiba e Região Metropolitana (RMC). A suspeita é a de que o crime possa ter sido motivado por vingança.

Segundo o delegado Francisco Caricati, diretor do Departamento de Inteligência do Estado do Paraná (Diep), as informações foram recebidas pela Promotoria de Justiça e Defesa do Consumidor, do MP, que começou a apurar o caso. Até que, no sábado (25), o Diep deflagrou a operação “Pane Seca”, que levou à interdição de nove postos de combustíveis e à prisão temporária de seis pessoas, além de diversas apreensões. “As equipes fizeram buscas e coletaram muitas provas que agora vão ser analisadas pela perícia”.

O Diep é um órgão ligado à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp). E, segundo o que foi apurado até o momento, os bandidos lucravam bastante por meio do prejuízo que causavam aos consumidores. Além dos presos, outras seis pessoas estão foragidas e são procuradas pela Polícia Civil.

Execução na frente de casa

Fabrizzio foi morto na frente da casa onde morava, no bairro Capão da Imbuia. Imagens de câmeras de monitoramento mostram o momento em que o carro da vítima chegava ao imóvel, por volta das 22 horas, e entrava na garagem, quando foi atingido na traseira por um veículo vermelho. Ao descer para ver o que havia acontecido, o empresário foi executado com tiros na região da cabeça.

Uma ambulância do Siate chegou a ser acionada, mas o homem morreu antes da chegada do socorro médico. O atirador fugiu em marcha ré e agora a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga o caso.

O presidente da ABCFC atuou em uma série de fiscalizações que fecharam postos de combustíveis nos últimos meses e era conhecido pelo rigor que aplicava nos testes feitos em estabelecimentos do ramo na cidade. Ele também havia participado de operações da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), que interditou e multou diversos bares e casas noturnas da capital.

Colaboração em reportagem

Nos últimos dias, Fabrizzio também estava em contato com uma equipe do programa Fantástico e auxiliava em mais uma reportagem sobre fraudes em postos. O último contato dele com os repórteres foi registrado três horas antes do assassinato.

Essa não é a primeira vez que o programa apura esse tipo de esquema no Paraná. Em 2012, uma reportagem especial mostrou como os consumidores eram furtados sem perceber em várias partes do país, inclusive na Grande Curitiba, ao abastecerem o carro. Com um controle remoto, os golpistas faziam a bomba agir da forma que queriam e os clientes, mesmo que desconfiassem, nada podiam provar já que, com o mesmo dispositivo, a bomba rapidamente voltava ao normal.

O esquema do combustível

Para cometer as fraudes nos postos de combustíveis, as duas quadrilhas identificadas agora contavam com a ajuda da tecnologia. “Os dispositivos eletrônicos instalados nas bombas cortavam o fluxo de efetivamente expelido dos equipamentos sem que a medição fosse interrompida”. Com isso, os volumes de etanol, gasolina ou diesel de fato inseridos nos tanques dos veículos era sempre inferior ao registrado – o que fazia com que os clientes pagassem valores acima dos realmente devidos em cada abastecimento.

Ainda conforme as investigações, os dispositivos fraudadores podiam ser ativados remotamente, ou seja, conforme a vontade dos criminosos e de acordo com o momento mais propício. Isso acabava dificultando a atuação dos órgãos fiscalizadores.

Cálculos preliminares do Diep apontam que a fraude impactava em uma quebra de 6% até 8% no volume de combustível que entrava nos tanques dos veículos. Assim, um reservatório de 50 litros, por exemplo, recebia em torno de 46 apenas. Considerando o litro da gasolina a R$ 3,29, em média, o prejuízo ao consumidor seria de R$ 13,16 a cada abastecimento. E em um cenário hipotético de 100 atendimentos por dia, isso levaria a um lucro indevido de mais de R$ 1 mil.

Postos secos

Dos nove postos de combustíveis, seis ficam em Curitiba e dois na Região Metropolitana (RMC), sendo um em São José dos Pinhais e outro em Colombo. Mas devido à lucratividade do esquema, a suspeita da polícia é de que a quadrilha já esteja presente e atuante em outros Estados do país, como São Paulo e Santa Catarina.

Durante a ação deste sábado, 14 mandados de busca e apreensão foram cumpridos e os agentes flagraram diversas placas de bombas que eram usadas para a fraude. As equipes encontraram ainda mais de R$ 800 em cheques, R$ 1,5 mil em espécie, computadores e pendrives possivelmente utilizados nas irregularidades e propostas de transações de bens que totalizam R$ 60 milhões.

Os manda-chuvas

Ainda conforme a investigação do Diep, uma das duas organizações criminosas era chefiada por Eugênio Rosa da Silva e o filho dele, Genisson Rosa. Eles são donos de três postos e de uma conhecida churrascaria de Curitiba aparentemente usada para os negócios da quadrilha. O pai foi preso na noite da última sexta-feira (24) no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, ao desembarcar de um avião. Genisson está foragido.

“A outra organização criminosa atuava em outros postos de combustíveis, dentre os quais quatro são de propriedade de Onildo Cordova II, que ainda não foi encontrado”. A ação policial também apura a participação de empresas que prestavam serviços de manutenção aos estabelecimentos.

Presos

Os seis presos foram levados para o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), e de lá foram transferidos para a Casa de Custódia de Piraquara (CCP), na RMC. As prisões têm validade de cinco dias, mas podem ser prorrogadas.

Postos lacrados por determinação judicial

Curitiba

Posto Master Tingui – Rua Monteiro Tourinho, número 110;
Posto Varejista Itaipu – Avenida Presidente Kennedy , número 3.374;
Posto Karwell Petróleo e Participações Ltda – Avenida Victor Ferreira do Amaral, número 2.628;
Posto GRC Comércio de Combustíveis – Rua Doutor Leão Mocellin, número 28;
Posto JPS – Rua Cid Marcondes de Albuquerque, número 2.357;
Auto Posto Midas Uberaba – Rua Capitão Leônidas Marques, número 2.199.

São José dos Pinhais

Posto Via Aeroporto – Avenida Rocha Pombo, número 3.413.

Colombo

Posto Comércio de Combustíveis RUBI – Rodovia da Uva, número 1.832;
Posto Comércio de Combustíveis Colina – BR-116, KM 83, s/n.