Você já tentou subir o Pico Paraná em um fim de semana de sol? Pois é, não está sozinho. O ponto mais alto do Sul do Brasil virou febre entre trilheiros, escaladores e amantes da natureza, especialmente após a pandemia. Mas esse amor todo tem seu preço.
Entre 2021 e 2023, o número de visitantes nas unidades de conservação paranaenses explodiu: saltou de 192 mil para impressionantes 545 mil pessoas – um crescimento de 184%, segundo dados do Instituto Água e Terra (IAT). E o Pico Paraná, com seus imponentes 1.877 metros de altitude, está no epicentro dessa avalanche turística.
Só em junho deste ano, considerado alta temporada nas montanhas, mais de 3.500 pessoas passaram pela trilha do setor Caratuva. E olha que esse número representa menos da metade da visitação real, já que sensores instalados pelo IAT revelam que muita gente passa sem nem fazer registro.
O resultado? Trilhas erodidas, nascentes comprometidas, lixo espalhado, caminhos alternativos surgindo sem controle e até brigas entre diferentes grupos que frequentam o local. Um cenário que acendeu o alerta vermelho para autoridades ambientais.
Plano de Uso Público Emergencial
O Plano de Uso Público Emergencial (PUPe) é uma iniciativa inédita elaborada pelo IAT com apoio técnico e financeiro do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP). Pela primeira vez, o parque terá regras claras para ordenar a visitação.
O objetivo não é impedir que as pessoas conheçam essa maravilha natural. A ideia é justamente garantir que as futuras gerações também possam desfrutá-la, com uma experiência de qualidade e preservando o que torna o local tão especial.
Entre as novidades que vão mexer com a rotina dos montanhistas estão: cadastro online obrigatório, termo de ciência de riscos, sistema de reservas para camping (apenas em clareiras autorizadas), fechamento temporário de áreas degradadas, proibição de fogueiras e barulho em áreas sensíveis, e padronização da sinalização das trilhas.
Duas medidas chamam atenção pela inovação: a exigência do uso de kits para recolher dejetos durante pernoites e a obrigatoriedade de placas de identificação nas barracas, facilitando a fiscalização. Nunca antes uma unidade de conservação estadual do Paraná teve regras tão específicas.
“Queremos aprimorar ainda mais, criando um sistema de cadastro que atenda mais nossa necessidade, com mais funcionalidades e que permita uma melhor análise de dados”, comenta Marina Rampim, bióloga e chefe da Unidade de Conservação.
Por trás dessa iniciativa está um dos maiores programas de conservação em andamento no Brasil. O Programa Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP) nasceu como compensação ambiental pelo vazamento de óleo da Petrobras em 2001 e vai investir R$ 110 milhões ao longo de 10 anos na proteção da Mata Atlântica.
A coordenação é do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), com governança compartilhada entre instituições como SPVS, UFPR e ICMBio, sob supervisão do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Paraná.
Para que o plano realmente funcione, foi criado um conselho consultivo e um programa de voluntariado para monitoramento das trilhas. A Federação Paranaense de Montanhismo (FEPAM), criada em 2002 e filiada à Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, terá papel fundamental nesse processo, oferecendo capacitações e ações educativas.
“Teremos que unir esforços para executá-lo. Muitas mudanças exigirão tempo e adaptação por parte dos visitantes. Mas é uma transformação necessária para garantir a proteção do parque e das montanhas que fazem parte da nossa identidade”, diz a bióloga Marina Rampim.



