Nossos pais e avós sempre souberam: não existe vassoura como a de sorgo. Firme, eficiente e duradoura, ela atravessou gerações e ainda conquista quem valoriza o jeito tradicional de limpar a casa. Para atender essa clientela fiel, o paranaense Juarez Neves Cavalheiro percorre, todos os meses, cerca de 450 quilômetros de Alvorada do Sul, no extremo norte do estado, até Curitiba, trazendo, de Kombi, vassouras de palha feitas à mão. Desde o cultivo do sorgo até a montagem final, tudo passa por suas mãos há 25 anos.
“Uns conhecidos meus mexiam com as vassouras de palha. Na época, comecei a trabalhar com um colega. Com o tempo, falei: ‘vou trabalhar pra mim mesmo’”, relembra Juarez. Desde que tomou a iniciativa de seguir carreira solo, as companheiras são um alicate, uma corda para montar os feixes que compõem a vassoura e longas horas da estrada escutando uma das canções gravadas pela filha Luiza da Silva Cavalheiro, a música “Ora Vem Senhor Jesus”. “Não tem máquina, tudo é a gente que produz”, resume.
De volta à fronteira com São Paulo, a produção é um negócio de família. A esposa, o filho e a filha ajudam na montagem dos feixes e na amarração das vassouras que seguem para a capital. Em Alvorada do Sul, outras famílias também mantêm a tradição, o que garante renda e trabalho para a região.
O sorgo vassoura, matéria-prima usada por Juarez, teve seu auge no Paraná em 2004, com cerca de 40 mil toneladas produzidas em 15 mil hectares, segundo o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná). Na época, o estado ocupava o terceiro lugar no ranking nacional. As lavouras se concentravam nas regiões norte e noroeste, em solos arenosos do Arenito Caiuá, o equivalente a 15% do território paranaense.
Em nível nacional, o sorgo segue relevante. Segundo dados recentes do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), a cultura representou 9% da safra brasileira de grãos em 2025, quase o dobro do percentual registrado no ano anterior de 5,7%. O Paraná aparece como segundo maior produtor de cereais e grãos do país, responsável por 13,5% da produção total, ficando atrás apenas de Minas Gerais.







Clientela fiel
Na prática, os números são prenúncio de bons negócios. Juarez atende principalmente pequenos comércios da cidade, entre lojas de materiais de construção, produtos de limpeza e aviários espalhados pela Região Metropolitana. Quando as encomendas diminuem ou sobram produtos da leva, ele complementa a renda com vendas diretas nas ruas, aproveitando o boca a boca para ampliar a clientela.
A maioria dos pedidos chega por WhatsApp, de compradores que já conhecem o trabalho de Juarez e indicam o produto a outros. A clientela é fiel e, em muitos casos, passa o costume adiante. “Tem muitas pessoas novas aprendendo com os avós e com os antigos a usar essas vassouras de palha. Depois que ela pega o gosto e aprende a usar, não consegue usar outro tipo de vassoura”, conta.
E ele garante: quem não gostou, é porque usou errado. Quando manuseadas de forma adequada, as vassouras de sorgo limpam bem e duram muito mais do que as sintéticas. “Não tem isso de não poder molhar. Se souber usar, pode até esfregar com ela lavando a calçada e deixar no sol que não vai estragar”, explica com a tranquilidade de quem conhece o ofício.
Entre os que não abrem mão da tradição, cresce também o reconhecimento do valor da mão de obra. Cada dúzia de vassouras de palha em Curitiba é vendida, em média, por R$ 260, cerca de R$ 21,66 por unidade. Em outros pontos de venda, a unidade sozinha chega a custar entre R$ 30 e R$ 35, que é o valor pago pelo consumidor final.
O preço reflete o tempo de trabalho e o esforço manual. “O valor é em conta para quem trabalha na revenda. Muitos acham que é fácil, mas ficamos de 30 a 40 dias para cortar um alqueire. Depois, ainda temos que secar, tirar a semente e selecionar para amarrar, porque não dá para ser de qualquer jeito”, explica Juarez.
Cadeia produtiva – Da plantação até a venda
Para dar conta da lavoura e da montagem das vassouras, Juarez precisou diversificar o modelo de produção. Além das peças feitas por ele e pela família, passou a trazer à capital vassouras de palha já prontas de outros produtores locais de Alvorada do Sul. A parceria entre vizinhos fortalece o comércio da região e mantém o fluxo de trabalho ativo durante todo o ano.
A estratégia permite manter a frequência das viagens ao Leste do Paraná, feitas a cada 20 dias. Nessas idas e vindas, a van de Juarez leva o sustento da família e ajuda a movimentar a economia da pequena cidade ao norte de Londrina.
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