O que era dor se transformou em amor no coração do paranaense Reniéslei Maciel, de 36 anos. Pela segunda vez, ele e o companheiro Marlon Walter, de 34 anos, comemoram o Dia dos Pais, neste domingo (10) ao lado dos filhos Christopher e Saymon.
Os irmãos de 11 e sete anos, respectivamente, foram adotados pelo casal em 2023, tornando real o sonho que Reniéslei nutriu ao longo de toda a vida. O coordenador de marketing natural de Maringá, no norte do Paraná, conta que a relação entre ele e o pai sempre foi conturbada, marcada por desprezo e desinteresse por parte do genitor.
A paternidade de Reniéslei só foi reconhecida quando ele tinha nove anos de idade, após a mãe entrar com um pedido na Justiça. Apesar de um ofício confirmar o laço entre eles, Reniéslei afirma que nada mudou na vida dele, visto que a distância entre os dois continuou a mesma.
“Depois de um tempo, acabou que eu mesmo abri mão dele, porque eu soube que ele nunca quis ser meu pai”, afirma.
Segundo o coordenador de marketing, aos 21 anos, ele decidiu escrever uma carta para o genitor. Nela, Reniéslei falou que ele estava liberado do “papel” de pai. A carta foi entregue em mãos junto de uma flor e, desde então, os dois nunca mais se viram.

Para Reniéslei, a vontade de ser pai sempre existiu. Porém, ele lembra que seu coração o guiou para a adoção. Ser pai de alguém que, de alguma forma poderia ter vivido essa ausência, tornava o laço ainda mais significativo.
“Eu sempre quis ser pai de uma criança que não tivesse pai, mesmo quando eu achava que era heterossexual. Eu sempre quis adotar, sempre tive esse desejo da adoção”, conta.
‘Oi, pai’
Reniéslei e Marlon se conheceram há nove anos. O coordenador de marketing lembra que, logo nos primeiros seis meses de relacionamento, uma amiga avisou que duas crianças da África precisavam de pessoas para ficarem com elas por um certo tempo.
Na época, ele conta que chegou a cogitar uma possível adoção, mas a ideia parecia muito precipitada para Marlon, que preferiu dar tempo ao tempo.
A decisão foi ganhando mais forma e se tornando um desejo mais concreto ao longo dos anos, até que, em 2022, o casal começou o processo de adoção. Para isso, é obrigatório a participação do programa de preparação para adoção previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Nele, os interessados passam a ter mais conhecimento sobre a adoção, tanto do ponto de vista jurídico, quanto psicossocial. De acordo com o programa, o objetivo é preparar os pretendentes para superar possíveis dificuldades que possam haver durante a convivência inicial com a criança/adolescente.

Após um ano de preparação, o casal entrou na fila de adoção. A intenção de Reniéslei e Marlon era adotar duas crianças, o que pode ser um fator que facilita o processo. Isso porque irmãos tendem a ficar mais tempo em casas de acolhimento, segundo dados do Tribunal de Justiça.
O casal pensou que levaria anos para que os filhos fossem para casa. Porém, em menos de dois meses, eles receberam uma ligação falando que dois irmãos, de nove e cinco anos, estavam aguardando adoção. Segundo Reniéslei, antes mesmo da chamada com as crianças, o quarto dos futuros filhos já estava começando a ser montado, diante de tanta ansiedade e expectativa.
Ao saber da possibilidade daquelas duas crianças serem sua família, ele teve certeza de que a partir daquele momento se tornaria um pai.
“Marcaram para uma outra semana nossa primeira videochamada com eles. Na hora que o Christopher atendeu, nosso filho mais velho, ele falou para mim: Oi, pai! Pronto, acabou. Logo em seguida, o Marlon entrou, e na hora que o Marlon entrou na chamada, o Christopher falou a mesma coisa. Aí o Marlon chorou a chamada inteira com eles. Eu também, foi muita emoção”, relembra.
Criando para o mundo
Há quase dois anos, a família de Reniéslei convive em meio a adaptações e laços cada vez mais fraternos. Desde janeiro, o casal e os filhos moram na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) devido a uma oportunidade de emprego do casal.
Segundo o coordenador de marketing, ser pai não é fácil. Para ele, é um desafio diário, mas que sempre vale a pena.
A relação criada com os filhos, também revelou uma admiração de Reniéslei pela mãe. Para ele, ela assumiu todas as responsabilidades para garantir qualidade de vida para ambos, mesmo diante de grandes dificuldades.
“Ela tirava de onde não tinha pra gente. Então eu tenho muito orgulho de quem ela foi, de quem ela é. Eu me espelho muito na minha mãe. Sempre tentou dar o melhor pra nós e eu acho que tenho muito desse jeito dela, de fazer para os meus filhos o melhor de mim”, explica.
Em relação aos preconceitos pelo casal ser homoafetivo, Reniéslei diz que há pessoas maldosas por todo canto, mas ele não cria os filhos para que eles saibam da maldade do mundo, mas sim da necessidade deles serem bons.

Quando mais novo, o próprio Reniéslei relata que tinha dúvidas em aceitar quem era. Ele conta que a vida foi e é um processo de descobertas contínuas. Hoje, diante da família que ele e Marlon construíram, ele garante que o foco é totalmente no lado positivo das conquistas.
“O que a gente tenta demonstrar para os nossos filhos não é tanto sobre como as outras pessoas são ruins, mas como nós devemos ser bons”, declara.
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