Mais segurança?

Grades ‘anti-mendigo’ são instaladas no Mercado Municipal

Guarda Municipal foi acionada na noite de domingo para que as grades fossem instaladas no Mercado Municipal. Foto: Camille Vieira /Defensoria Pública

Na tentativa de aumentar a segurança e diminuir a sujeira e o mau cheiro gerados por moradores de rua que passam as noites ali, grades começaram a ser instaladas nas marquises ao redor do Mercado de Municipal de Curitiba. O trabalho iniciou na última semana e gerou descontentamento da população de rua. Na noite de domingo (23), a Guarda Municipal (GM) chegou a ser acionada para acompanhar os trabalhadores que faziam a instalação das grades.

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De acordo com a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (SMAB) – responsável pela administração do mercado -, as desavenças começaram na noite da última quarta-feira (26), quando os funcionários que faziam a instalação teriam sido acuados. “Algumas pessoas começaram a ameaçar os funcionários”, afirma o secretário municipal Luiz Gusi, titular da pasta. Por isso,as rondas da GM no entorno do mercado se intensificaram. Alguns guardas, inclusive, foram destacados exclusivamente para acompanhar a instalação.

A presença da Guarda assustou os moradores de rua, como Sergio Ricardo Cezak, 58 anos, que se preparava para dormir debaixo da marquise do Mercado Municipal na noite de domingo e não tinha conhecimento das ameaças sofridas pelos trabalhadores. “Os guardas chegaram armados, mandando a gente dormir do outro lado da rua. Não machucaram ninguém, mas isso nos ofendeu porque não somos ladrões”, reclama.

Representantes de uma entidade religiosa distribuíam alimentos à população de rua no momento da abordagem e um dos voluntários solicitou a presença da Defensoria Pública no local. “Recebemos a ligação dessa entidade e também de representantes dos moradores de rua. Então fomos verificar o que estava acontecendo”, relata a defensora pública Camille Vieira.

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Comerciantes dizem que a grade vai aumentar a segurança no Mercado Municipal. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

 

Segundo Camille, cerca de 100 pessoas estavam acomodadas nas marquises do mercado na Rua General Carneiro e todas foram dormir do outro lado da rua durante a instalação do gradil. “Não foi relatada nenhuma situação de ameaça ou agressão. Apenas havia o receio de que aquelas pessoas fossem retiradas do local”, explica.

Reclamações

De acordo com a Associação dos Comerciantes do Mercado Municipal de Curitiba (ASCESME), a grade é uma reivindicação antiga dos permissionários. “Estamos pedindo isso há dez anos”, afirmou Rose Bezecry, diretora financeira da entidade.

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Segundo ela, a solicitação acontece, principalmente, pela falta de segurança no local. “O prédio já foi arrombado várias vezes devido à sua vulnerabilidade. Vários empresários que vendem produtos perecíveis também necessitam de sombra para proteger os itens, um fator que também será corrigido com o gradil”, aponta.

Grade no Mercado Municipal: área reúne grande quantidade de moradores de rua. Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Grade no Mercado Municipal: área reúne grande quantidade de moradores de rua. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Além disso, a mudança promete auxiliar o trabalho da equipe de limpeza do mercado e também de alguns comerciantes que lavam diariamente o piso e as paredes das marquises para tirar o mau cheiro de urina. “Às 5h da manhã nossos funcionários já estão esfregando o chão, juntando marmitas e limpando café derramado para que possamos atender os clientes com higiene a partir das 7h”, afirma a comerciante Fabiola Lima, de 41 anos.

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O morador de rua Sergio Ricardo Cezak confirma a situação. “Sempre tem alguns no meio que acabam urinando aqui. A gente briga com eles porque é só ir na rodoviária, do outro lado da rua, e usar o banheiro de lá. Mas não tem como evitarmos”, diz.

O projeto também prevê pintura e outras mudanças no Mercado Municipal. O projeto foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e será inteiramente custeado pela ASCESME e permissionários.

De acordo com a SMAB, a instalação da grade deve ser concluída até 20 de outubro e reuniões com representantes da pasta, do Mercado Municipal, da Guarda Municipal e da Fundação de Ação Social (FAS) devem ocorrer com frequência para analisar o andamento do trabalho. O último encontro foi na manhã desta segunda-feira (24).

Durante a instalação das grade domingo, moradores de rua tiveram de ir para o outro lado da rua no Mercado Municipal. Camille Vieira/Defensoria Pública
Durante a instalação das grade domingo, moradores de rua tiveram de ir para o outro lado da rua no Mercado Municipal. Foto: Camille Vieira/Defensoria Pública

Serviço social

O defensor público Antonio Barbosa – colaborador do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública – afirma que a instalação dos portões ocorre dentro da legalidade e que não há nenhum processo em trâmite para evitar que o serviço seja realizado.

No entanto, o serviço abre discussões a respeito da falta de moradia e apoio para a população de rua que usa o espaço como abrigo. “O que se questiona é se existem políticas públicas para atender as pessoas que usam o Mercado Municipal para dormir e se proteger da chuva. É um problema social”, pontua.

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Segundo a FAS, educadores sociais percorrem as ruas do entorno do Mercado Municipal diariamente orientando as pessoas em situação de rua tentando convencê-las a se vincular a uma unidade de atendimento. Esse trabalho de convencimento é necessário porque os colaboradores não podem obrigar nenhum morador de rua a dormir nos abrigos.

Atualmente, Curitiba conta com 1.028 vagas para pessoas em situação de rua nas unidades de atendimento, valor abaixo do necessário, já que dados do Cadastro Único da FAS mostram que a capital possui 1.660 moradores de rua, dos quais, 60% circulam pela região central.

Ainda segundo a fundação, essa oferta de vagas é suficiente para “atender a demanda da população de rua que procura espontaneamente ou aceita o encaminhamento para o serviço durante as abordagens sociais”.

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