1º fim de semana

Fechados, restaurantes de Curitiba calculam perdas com a volta da quarentena

Restaurantes fechados em Curitiba
Desde sábado (27), os restaurantes de Curitiba não podem atender presencialmente, apenas delivery, drive-thru e balcão/take away. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo

O primeiro final de semana de quarentena mais rigorosa em todo o Paraná provocou perdas difíceis de serem equalizadas pelo menos no curto prazo, e a previsão de mais uma semana sem clientes nos salões já faz os restaurantes reverem as planilhas de contas. O decreto que aumentou as restrições de circulação nas cidades do estado desde sexta-feira (26) fechou o comércio e serviços não essenciais, e permitiu aos estabelecimentos venderem apenas pela modalidade de entrega ou balcão, sem consumo no local.

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Uma situação que pegou os empreendedores de surpresa pela rigidez com que está tratando os restaurantes, mesmo seguindo todos os protocolos sanitários para se evitar o contágio do coronavírus. Para muitos dos que conseguiram se manter em pé do ano passado para cá, este “lockdown” (embora o governo do estado chame apenas de quarentena) provoca temores de não conseguir mais ter fôlego em caixa para continuar servindo.

Délio Canabrava, que comanda os restaurantes Cantina do Délio e Bella Banoffi, afirmou na semana passada que conseguiria pagar os mais de R$ 300 mil que tomou em empréstimos se nenhuma decisão mais drástica fosse tomada neste ano. Dois dias depois, o anúncio da quarentena já mudou todo o planejamento – agora sem uma previsão certa, pois o governo não descarta a possibilidade de prorrogação se necessário.

“Operar dez dias somente no delivery me trará um prejuízo de mais de R$ 100 mil em faturamento, pois também forneço doces para outros restaurantes, empórios e padarias. Eu pago em torno de R$ 25 mil todos os meses, seria fundamental agora os financiamentos também terem uma carência”, conta.

Já Silvana Fetter, proprietária do Vindouro Vinhos e Bistrô, aprofundou a análise dos números para retratar as perdas que teve neste final de semana e que terá até o dia 8. Sem entrar em detalhes de valores, ela relata que a receita vinda pelo delivery não responde a 15% do faturamento normal do restaurante.

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“Imagina ficar 1/3 do mês com 15% do seu faturamento habitual. Não há quem aguente. E não há uma única medida de ajuda efetiva aos restaurantes. Para pagar salários temos que aderir a empréstimos. Pra pagar impostos temos que aderir a Refis sem isenção de multa ou juros”, diz.

Por outro lado, nos três restaurantes do empresário Beto Madalosso, Carlo e Madá Centro e Ecoville, o fim de semana representou R$ 100 mil a menos em receita. Para o experiente restaurateur da conhecida família de empreendedores de alimentação, a atual situação vivida é de tristeza.

“Falta uma coordenação nacional alinhada a governos e prefeituras. Acho triste”, diz.

Sem mais caixa

Prejuízo na casa dos seis dígitos também tem a chef Gabriela Carvalho, que tem no seu Quintana Gastronomia o movimento maior no almoço dos finais de semana. Só nestes dois últimos dias, ela deixou de faturar R$ 80 mil, mas o acumulado dos dez dias fechado fará a conta ficar R$ 150 mil mais negativa.

Desde o início da pandemia, há quase um ano, ela vem injetando dinheiro para manter o restaurante aberto. Mas, a cada nova decisão de quarentena, as planilhas ficam ainda mais vermelhas.

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“Eu comentei com os meus colaboradores que o Quintana continua na média negativa todo mês, mas estávamos caminhando para zerar daqui a, talvez, quatro meses, não mais tendo que investir para trabalhar. E agora, com essa nova realidade, eu continuo com todos os custos fixos e variáveis, sendo uns R$ 30 mil de alimentos, e boa parte deles perecíveis que não tem como estocar”, conta.

Ela conta que essa decisão de fechar tudo gera um prejuízo não apenas moral sem histórico, mas também para a própria sobrevivência dos funcionários. É das vendas no salão que eles tiram parte do salário que vai pagar as contas de casa, explica a chef.

Até mesmo restaurantes ainda menores e mais simples também calculam as perdas na ponta do lápis, e sem enxergar muito futuro. Gerente executivo do Rigoletto Ristorante, Leandro Motta já calcula em R$ 32 mil a perda de receita nos dez dias em que deixará de servir o buffet de almoço em um pequeno chalé no bairro do Bigorrilho.

Ele passou o primeiro ano de pandemia queimando as reservas que tinha para não precisar pegar dinheiro emprestado no banco. Mas, agora, já não vê mais como ficar em pé só com o que tem.

“Estava conseguindo recuperar o movimento aos poucos. Antes da pandemia vendia 220 almoços ao dia, depois caiu vertiginosamente e, na última quinta, estava em torno de 140. Já na sexta, dia do decreto, só vendi metade, e agora vou entregar por delivery nas redondezas e balcão”, diz.

O almoço também é uma importante geração de caixa para Paulo Passos, proprietário da pizzaria Mercatu Gourmet. Neste horário ele servia um buffet de pizzas e comida por quilo, mas sem nenhum tipo de entrega. Agora, a receita vai a zero, e a noite terá de pagar a conta de toda a operação apenas com delivery.

“O salão vendia apenas 20% e o delivery 80%. Agora, deve cair a 50% [e sem salão]. Durante a pandemia tive a redução no número de garçons de seis para somente dois”, conta relatando o quanto perdeu.

Sem café da tarde

O atendimento nos finais de semana também é importante para os negócios da Geórgia Franco, proprietária do Lucca Cafés Especiais. Ela tem no café das tardes de sábado e domingo uma importante fonte de receitas, e estava inclusive ampliando o espaço da cafeteria, para poder seguir ainda melhor os protocolos sanitários.

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Georgia conta que foi pega de surpresa com a mudança de protocolo com menos de 24 horas de antecedência, e que perdeu a produção de uma semana de alguns produtos. Para ela, além do prejuízo financeiro, há ainda o agravante psicológico.

“É difícil manter as equipes motivadas. Todos os nossos colaboradores já cumpriram suas férias e teremos que adiantar mais uma vez, mesmo sem saber se vamos poder mantê-los no quadro”, lamenta.

Só neste primeiro final de semana, as perdas ficaram na casa dos R$ 30 mil, que vão se agravar pelos próximos dias de portas fechadas. Geórgia ressalta que nenhum dos colaboradores foi infectado pela Covid-19, e todos que tiveram suspeita da doença foram afastados e testados.

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Para a chef Ana Luiza Torricillas, da Sugar Bakery, o fim de semana sem trabalhar representou R$ 12 mil a menos nas contas do mês. Ela também faz o delivery, mas o rendimento é pouco na comparação com o atendimento presencial, e é agravado com uma taxa de 27% sobre cada pedido.

“Porque compramos insumos para suprir duas lojas, e não somente uma. Aliás meia, porque, pra mim, a loja do Batel somente no delivery e sábado é muito pouco”, diz ela sobre as compras feitas na sexta para trabalhar no final de semana.

Reparação

Na sexta (26), dia em que o decreto de quarentena entrou em vigor, a seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) pediu aos empresários que guardem as notas fiscais das compras do final de semana para que sejam anexadas a um processo por reparação. A entidade diz que entrará na justiça para que os gastos sejam ressarcidos.

E vai pedir, ainda, reparação por outros gastos ocorridos durante a pandemia, como aluguéis, contas do dia a dia e tributos. A entidade se uniu a pelo menos outras 14 em um movimento para mostrar à população o quanto o setor foi afetado pelos decretos sanitários que restringiram o movimento e o funcionamento do comércio nos últimos 11 meses em Curitiba, alegando que os empreendedores sempre se comprometeram a propor e a seguir os protocolos de segurança para poder atender sem correr o risco de contaminação.