Corrida eleitoral começa a ganhar forma na internet

São Paulo – O ano eleitoral nem começou e os dois partidos mais cotados para disputar a presidência da República parecem ter dado início à briga política. PT e PSDB diziam há pouco tempo que ainda era cedo para falar em eleições, mas o conteúdo de seus sites na internet mostra uma mudança. Mesmo em uma semana geralmente marcada por um movimento fraco no meio político, as duas legendas aproveitaram para dizer que estão cada vez mais fortalecidas para a disputa e mostram que o tom da campanha poderá ser marcado pela estratégia do ataque e da defesa.

No geral, o site do PT tem destacado as realizações positivas do governo Lula, muitas vezes ressaltando que a administração federal tem feito um trabalho positivo apesar das denúncias de corrupção. Logo na primeira página do site, o partido faz referência a questões como os resultados do Bolsa-Família e da reforma agrária. Ao mesmo tempo, parece evitar ataques diretos a outras legendas, deixando as críticas a cargo de matérias atribuídas a grandes veículos de comunicação. Mas o PSDB, por outro lado, não tem poupado a legenda rival dos ataques online. O site tucano faz referências agressivas ao PT e ao próprio presidente, em geral lembrando o eleitor da gravidade das denúncias que pesam sobre o governo.

Hoje, por exemplo, a página do PT na internet mostra uma entrevista com seu presidente Ricardo Berzoini, na qual ele afirma que a legenda ainda detém a preferência do eleitorado, mesmo tendo atravessado a maior crise de sua história. Apoiada nos dados da pesquisa Datafolha divulgada ontem, a matéria ressalta que o PT continua forte, citado por 16% dos eleitores como o melhor partido. Enquanto isso, o PSDB estaria "na lanterna", com "apenas 5%". "A pesquisa mostra que a imagem do PT é forte e que, se a direção partidária trabalhar corretamente a real dimensão da crise, não permitindo que se destrua a história do partido, poderemos disputar as eleições de 2006 com grande viabilidade, tanto para os cargos proporcionais quanto para os majoritários", disse Berzoini na entrevista. O texto deixa de mencionar, no entanto, o fato de o PT ter perdido um terço de seu eleitorado, também apontado pela pesquisa Datafolha.

De qualquer forma, o enfoque dado pelo PSDB a esse tipo de informação é bem diferente. Também no destaque de página, o partido trouxe hoje uma avaliação sobre os acontecimentos de 2005, intitulada "2005: Um ano que Lula e o PT vão querer esquecer". No texto, a Agência Tucana destaca que a confiança e a popularidade da gestão petista foi minada, que o partido está "atolado na lama da corrupção" e que Lula termina o ano "alienado" e "distante da realidade". Já o PSDB estaria "cada vez mais fortalecido no pleito eleitoral do próximo ano, com os dois tucanos José Serra e Geraldo Alckmin com excelente desempenho não apenas nas pesquisas de intenção de voto, mas também com alta aprovação popular de suas gestões à frente da Prefeitura de São Paulo e do governo estadual, respectivamente".

Além das pesquisas, outros acontecimentos têm enfoques antagônicos nos dois sites. Com base em informações da Agência Brasil, o PT destacou por exemplo a garantia dada pelo presidente Lula no programa semanal de rádio de que o Brasil vai continuar crescendo. Enquanto isso, o PSDB mostrou declarações do deputado Bismarck Maia (CE) classificando o presidente de "o oportunista do dia" por seu discurso.

Ainda é cedo para saber ao certo qual será o tom das campanhas eleitorais, mas é provável que a crise política deixe espaço para que os discursos de ataque e defesa sejam prolongados ao longo dos próximos meses. Apesar de ressaltar que é preciso esperar pelo menos até abril para saber ao certo qual será a estratégia dos dois partidos, o cientista político Fernando Abrucio acredita que a campanha do ano que vem será provavelmente mais "virulenta" do que nas eleições anteriores.

"O tom da campanha ainda não está claro, mas pode ser que ela seja muito virulenta, voltada para o ataque e a defesa", disse Abrucio. Mesmo assim, o cientista insiste que uma estratégia como essa pode se tornar prejudicial tanto para o PT quanto para o PSDB. Segundo ele, o eleitorado que já foi bombardeado ao longo deste ano com os acontecimentos da crise política poderá se incomodar com esse tipo de discurso e demonstrar nas urnas sua insatisfação. "Vale lembrar que isso tudo pode cansar o eleitor."

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