Coalizão desalinhada

Não está sendo fácil a tarefa arrogada pelo presidente de costurar uma coalizão ampla o bastante para garantir uma gestão tranqüila até 2010. Lula está enfrentando dificuldades com as quais não contava, como a resistência da ala independente do PMDB, comandada pelo presidente nacional da legenda, deputado Michel Temer.

Os analistas acham que, por enquanto, se faz muita marola em Brasília, mas logo o vento vai acalmar e mesmo os mais arredios acabarão convergindo para o redil governista, onde o pasto e a água são fartos e garantidos. Dizem os mesmos analistas que o PMDB, que chegou ao exagero de pleitear a titularidade de cinco ministérios, sabe que ficará com os três que possui e fará festa. A briga interna será maior, pois o senador José Sarney trabalha duro para ver a filha Roseana, derrotada no Maranhão, ocupando um ministério.

Sarney não tem o menor pejo em disputar em causa própria um ministério pertencente ao espaço reservado ao PMDB, assim como batalhou pela nomeação de Silas Rondeau para o Ministério da Infra-Estrutura. Há quem diga que o apego extremado do ex-presidente na colocação de cabos eleitorais em cargos importantes da República o levaria a constranger Lula a conceder-lhe a quota de um ministério filial. Aliás, ele teve privilégio igual com FHC, que nomeou Zequinha ministro do Meio Ambiente.

Também os partidos de oposição fazem corpo mole em relação aos acenos do presidente. Na volta de Campo Grande, no começo da semana, aonde foi para o velório do ex-senador Ramez Tebet, Lula ofereceu carona ao senador tucano Arthur Virgílio, o qual relatou pormenores da conversa mantida com o chefe do governo.

A aceitação da carona e a própria conversa, que segundo Virgílio transcorreu em termos elevados, foram recebidas com muxoxos pelos caciques tucanos e pefelistas, que torceram o nariz, inclusive, para o gesto de abertura da criação do conselho de ex-presidentes, ao qual estaria integrado Fernando Henrique Cardoso.

Em sintonia fina com o momento, o governador mineiro Aécio Neves comentou que o PSDB deve assumir-se como oposição, pois para isso foi incumbido pelo eleitorado. O PMDB não se ressente desse prurido.

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