Chovendo na nossa horta

Para o povo, é muito mais simpático o presidente Lula estar no País e, nesta hora em que choveu aos cântaros em nossa horta, visitar as áreas mais atingidas, buscando dar ajuda às vítimas das enchentes. Não obstante, ele se tem dedicado a um sem-número de viagens internacionais, o que não é bem visto pela opinião pública. Primeiro, porque ele criticava as viagens internacionais de Fernando Henrique Cardoso e viaja mais ainda. Segundo, em razão de que não há suficiente compreensão da importância que um encontro em outro país pode ter para o Brasil. Excluídas uma e outra viagens internacionais que serviram só para discursos, para Lula conhecer e ser conhecido, a realidade é que um chefe de Estado moderno deve viajar e estar em contato freqüente com outros governos e povos, em busca de parcerias, procurando dirimir problemas e vendendo o nosso peixe, seja ganhando prestígio político para o País ou como divisas através do comércio exterior.

É caipirismo imaginar que o presidente de um país tão grande como o nosso tenha de ficar sentado no seu trono de Brasília. Provincianismo, também, estar em todas ou, como diziam em tom de crítica de um ex-ministro de Turismo do Uruguai, comparecer até a inaugurações de pizzarias.

Uma viagem presidencial deve ser muito bem pensada. E, desta vez, Lula decidiu visitar as áreas atingidas pelas enchentes, suspendendo qualquer outro compromisso, o que é bom e talvez até necessário, pois temos mais de cem mil desabrigados e vítimas fatais em todos os cantos do País. Inclusive no Nordeste, onde o flagelo da seca era um mal permanente e aflitivo e os maus humores de São Pedro, mandando água aos borbotões, pegou a tudo e a todos de surpresa.

O Brasil é desprevenido para esse tipo de tragédia e Lula não levará muito mais que consolo às vítimas e anunciará algumas providências meia-boca. Providências, aliás, que seu ministro Ciro Gomes poderia anunciar, dispensando uma comitiva presidencial. Sem duvidarmos da oportunidade desta viagem interna de Lula, vamos considerar que ele fica no País quando às tempestades climáticas se somam tempestades, se não sustos temporários no mercado financeiro. O risco-Brasil subiu, a bolsa caiu, o dólar subiu, a inflação ganhou fôlego e tudo poderia estar indicando mais um surto de desconfiança daqueles que viram praga num país em desenvolvimento como o Brasil.

Tudo parece haver se amainado, embora a pequena melhora sentida possa significar apenas realização de lucros por aqueles que ganharam com os sinais de desgraça na nossa economia. Temos de estar atentos para o fato de que o Brasil, que o “marketing” do governo insiste em dizer que vai muito bem, obrigado, na verdade continua frágil. Frágil na economia e até em suas relações com São Pedro. E, embora não devamos ser contra as viagens internacionais do presidente Lula, parece hora de ficar mais tempo por aqui, atento aos problemas e em busca de soluções, pois enquanto admirava, boquiaberto, o Taj Mahal, templo do amor na Índia, no Brasil poderiam surgir ódios e ranger de dentes, face a uma crise e intempéries que ele só estaria conhecendo pelo telefone.

É hora de muitos assuntos importantes que temos de tratar em outros países o sejam pelo ministro das Relações Exteriores e outros ministros do governo Lula. E que tenham poderes e competência para tanto, não se reservando apenas ao presidente da República o poder de representar e negociar em nome do Brasil.

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