Bush e o terrorismo de Estado

A invasão anglo-americana no Iraque está servindo para desmoralizar a capenga democracia dos EUA. Um presidente eleito pelo colégio eleitoral sem a maioria do voto popular, e numa eleição com suspeita de fraudes na Flórida, jogou a maior potência militar do planeta numa aventura bélica injustificada e se equiparou ao inimigo. Ninguém questiona o fato de que Saddam Hussein é um tirano sanguinário, que mata e mutila seus opositores. Mas George W. Bush, com seu messianismo fundamentalista, está matando, ferindo e mutilando civis inocentes, inclusive mulheres, crianças e jornalistas estrangeiros. E, em seu próprio país, com a truculência típica das ditaduras de republiqueta de bananas, está usando a força policial para agredir e prender pacifistas, uma violação gritante aos direitos humanos.

A invasão do Iraque é uma continuidade da suposta campanha contra o terror, que tirou a milícia islâmica Talibã do poder no Afeganistão, também à custa de milhares de vidas de inocentes. Isso tem nome: é terrorismo de Estado. A característica básica do terror é justamente ter como alvo pessoas inocentes. Estamos cansados de ver exemplos de terrorismo de Estado na Terra Santa. As ações do exército de Israel (não por acaso o principal aliado dos EUA no Oriente Médio) contra crianças palestinas não são menos terroristas que os atentados suicidas cometidos por homens-bomba palestinos, que atingem civis inocentes israelenses.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 às torres gêmeas do World Trade Center e ao Pentágono teriam sido uma retaliação ao apoio incondicional dos EUA às atrocidades cometidas por Israel contra o povo palestino. Claro que nada justifica um ataque terrorista. Mas, ao invés de tirar uma lição do episódio, repensando seu papel no conflito, o governo americano interpretou a tragédia como uma ofensa ao orgulho nacional e logo apelou para uma demonstração de força, elegendo um inimigo de plantão. O escolhido foi um antigo aliado na luta contra a ocupação soviética no Afeganistão: o saudita Osama bin Laden, líder da organização terrorista Al-Qaeda. O regime opressor dos talibãs, que vinha cometendo uma série de bestialidades com a condescendência do Ocidente, só passou a ser combatido porque dava abrigo a Osama e à Al-Qaeda.

Deposto o governo do Talibã, os EUA precisavam de novos inimigos, identificando logo um suposto “eixo do mal”, constituído pelo Iraque, Irã e Coréia do Norte. Sob o pretexto de que o Iraque seria uma ameaça à paz mundial, por não estar cumprindo as resoluções da ONU para a eliminação das armas de destruição em massa, George W. Bush voltou suas atenções para Saddam Hussein, velho inimigo de Bush pai. O que ninguém questiona é se as armas de destruição em massa em poder dos americanos não representariam também uma ameaça à paz mundial.

Hoje, Saddam está aniquilado. E agora? Quem será o próximo alvo dos princípios “cristãos” e “democráticos” de George W. Bush.

Ari Silveira (cidades@parana-online.com.br) é chefe de Reportagem em O Estado.

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