Terceirização na Marinha sob suspeita

Rio – Um dia depois do vazamento de vapor no porta-aviões São Paulo, que matou um tripulante e feriu outros dez, servidores civis da Marinha fizeram ontem uma passeata que paralisou o centro do Rio. Eles denunciaram a terceirização dos serviços de manutenção como causa de acidentes como o de terça-feira. A Marinha anunciou que um Inquérito Policial Militar foi instaurado, com prazo de 40 dias para apurar o acidente.

De acordo com o secretário-geral do Sindicato dos Servidores Civis nas Forças Armadas do Rio de Janeiro (Sinfa-RJ) Jaime de Bona, a maior parte dos serviços de manutenção de navios, submarinos e equipamentos no Arsenal da Marinha, no Rio, é feita por empresas terceirizadas que empregam profissionais sem a qualificação necessária. Além disso, ele reclama de más condições de trabalho.

?A terceirização começou no governo FHC e continua com Lula. Em vez de abrir concurso e utilizar nossa mão-de-obra, preparada para isso, os militares da reserva colocam lá empreiteiras para fazer o trabalho de manutenção. Os funcionários dessas empresas não estão preparados, não têm experiência?, afirmou o sindicalista. ?O governo ainda cortou pela metade as verbas das Forças Armadas e falta material para trabalhar. Com certeza esse acidente é reflexo desse sucateamento da função pública e outros podem acontecer.? O terceiro-sargento Anderson Fernandes do Nascimento foi enterrado ontem no cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio, com honras militares. Cinco dos dez militares feridos continuavam internados no Hospital Naval Marcílio Dias.

Os casos mais graves são os dos cabos Daniel Pires de Andrade e José Roberto da Silva Bahia. Com 50% do corpo atingido por queimaduras de segundo grau, Andrade está na Unidade de Pacientes Graves. Sedado, respira com a ajuda de aparelhos. Bahia sofreu queimaduras de segundo grau em 81% do corpo, mas respira sem aparelhos.

O quadro clínico dos cabos Erivelton dos Santos Coelho, Ângelo José Moraes dos Anjos e do marinheiro Felipe Machado da Rocha é ?regular estável?, diz a nota. Eles também sofreram queimaduras de segundo grau. A Marinha informou que o primeiro tem melhora progressiva. Anjos e Rocha ?evoluem satisfatoriamente?.

A manifestação dos servidores, marcada antes do acidente, tinha como principal objetivo reivindicar o enquadramento funcional da categoria e a definição de um plano de carreira que acabe com o pagamento de complemento salarial a quase 90% dos servidores que têm baixos vencimentos. De acordo com a direção do Sinfa-RJ, no Rio há 28 mil servidores civis nas três forças militares, a maior parte deles na Marinha. Eles ameaçam entrar em greve a partir do dia 2 de junho se não receberem uma proposta do governo.

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