Buenos Aires como epicentro de um império pirata. A capital argentina foi escolhida como sede de marketing e vendas de uma rede internacional de gatonet que tinha o Brasil como principal alvo. O esquema, desmantelado recentemente, deixou milhares de brasileiros sem acesso aos serviços ilegais que transmitiam canais e conteúdos de streaming de forma clandestina.
A queda nos serviços começou no último fim de semana. Embora não existam números oficiais sobre quantas pessoas foram afetadas, as redes sociais e fóruns online foram inundados com centenas de reclamações de usuários desesperados.
A investigação, que corre sob sigilo judicial, revelou que o centro de comando da pirataria em Buenos Aires coordenava as estratégias de marketing e vendas para todo o mundo. Enquanto isso, a China abrigava os setores de administração, finanças e tecnologia da informação do esquema.
Por que a Argentina? Jorge Bacaloni, presidente da Alianza, associação que representa a indústria audiovisual e combate a pirataria na América Latina, explica que o país foi escolhido pela alta capacidade técnica disponível a custos relativamente acessíveis.
O Brasil representava o mercado mais lucrativo para o esquema, com impressionantes 4,6 milhões dos 6,2 milhões de assinantes em todo o mundo. Estima-se que o grupo movimentasse anualmente entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões (aproximadamente R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão) com a venda de assinaturas clandestinas.
A operação desativou dezenas de plataformas piratas utilizadas em TV boxes não homologadas pela Anatel. O Ministério Público argentino contou com o apoio da Alianza para derrubar serviços como My Family Cinema e Eppi Cinema, que funcionavam como “Netflix piratas”, e TV Express, que liberava ilegalmente centenas de canais de TV pagos.
Outros serviços afetados incluem Weiv TV, Cinefly, Red Play, Duna TV, Boto TV, Break TV, VTV, Blue TV, Super TV Premium, HOT, ONpix, PLUSTV, Mix, Venga TV, ALA TV, Pulse TV, Football Zone, Nossa TV, MegaTV+, Cineduo, Megamax+, GTV, Nebuplus e Onda TV.
Usuários do My Family Cinema se depararam com uma mensagem de despedida: “Devido a questões de direitos autorais, esta marca deve encerrar permanentemente seus serviços. Agradecemos sinceramente pela sua confiança e apoio ao longo dos anos”. No ReclameAqui, multiplicaram-se as queixas de clientes que haviam pago por planos anuais e ficaram sem acesso “de um dia para o outro”.
Como funciona o esquema de pirataria
As TV boxes piratas utilizam versões modificadas do sistema Android com aplicativos ilegais instalados, oferecendo acesso a conteúdos de streaming e TV paga sem autorização.
O pagamento é realizado por meio de planos mensais, semestrais ou anuais, criando uma falsa impressão de legalidade para muitos consumidores.
Por não passarem pelo processo de homologação da Anatel, esses aparelhos não são submetidos aos testes de segurança exigidos para comercialização legal no país.
Mesmo após operações de bloqueio, as organizações criminosas costumam atualizar seus servidores e restabelecer rapidamente o acesso, o que torna o combate ao “gatonet” um desafio constante para as autoridades.



