Quem tem apenas um pé tem desconto na hora de comprar sapatos? É possível comprar apenas um tênis? As perguntas podem parecer simples, mas essa situação não é tão comum quanto o questionamento. No Paraná, não existe uma legislação específica que garanta benefícios a esse público. Mas, se depender do Projeto Ímpar, tênis, sapatos e chinelos não custarão nada — serão doados.

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Em julho, o influenciador digital curitibano Rui Morschel compartilhou o projeto em suas redes sociais. Ele conheceu a iniciativa durante uma viagem a Birigui, no interior de São Paulo. Confira o vídeo abaixo:

Há quatro anos, Rui percorre o Brasil produzindo conteúdo sobre Indicações Geográficas (IGs) e produtos locais. No Paraná, já visitou mais de 40 cidades. Agora, expandiu o roteiro para outras regiões do país.

Em 2023, Birigui foi reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) com o selo de IG na categoria Indicação de Procedência (IP), pelo destaque na produção de calçados infantis. Foi esse reconhecimento que motivou a viagem de Rui à cidade, apelidada de “capital dos calçados infantis”.

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As IGs são concedidas a produtores e prestadores de serviços organizados, geralmente, em entidades representativas. No caso de Birigui, o título pertence ao Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui (SINBI), que apresentou o projeto social ao influenciador.

“Fui conhecer o sindicato e acabei descobrindo esse braço social deles. Fiquei apaixonado. É uma das iniciativas mais geniais que vi nos últimos tempos. Quando voltei, ainda editando os conteúdos principais, pensei: ‘preciso divulgar isso o mais rápido possível’”, conta.

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A curiosidade em torno de uma solução para um problema invisível no Brasil fez o vídeo viralizar. Em menos de uma semana, a publicação ultrapassou 900 mil visualizações. “Todos os dias, o pessoal do projeto está falando comigo sobre o que está acontecendo. Virei uma corrente de WhatsApp já”, brinca Rui.

Projeto entrega calçados no Paraná

O interesse vai além das redes: desde a publicação, o número de pedidos de calçados ao projeto também aumentou. Somente em 2025, o projeto já recebeu 31 solicitações de pessoas unípedes da Região Sul. No Paraná, dez pessoas foram atendidas nesse período.

Os modelos enviados variam conforme a necessidade de quem solicita. O projeto atua como ponte entre quem quer doar, sejam empresas, indústrias ou pessoas físicas, e quem precisa receber. “Quando vamos enviar os calçados, procuramos entender a história de cada pessoa. Nem sempre aquele sapato padrão vai ser útil. Por isso, ouvimos e enviamos também outros pares que possam agregar mais”, explica a coordenadora do projeto, Simone Permagnani.

Em 2024, mais de 400 pessoas foram atendidas. Os envios somaram mais de 1.050 pares, já que cada beneficiado costuma receber ao menos dois calçados, dependendo da situação. “Mesmo que alguém peça só um chinelo, por exemplo, se for algo para uso diário, entendemos que há necessidade de mais de um”, completa Simone.

Além das entregas individuais, uma parceria com a Associação Sorocaba Futebol de Amputados (ASFA) tem incentivado a prática esportiva entre pessoas com deficiência. Cerca de 150 atletas do clube São Bento recebem chuteiras para jogar futebol e futsal.

Corrente do bem 

O projeto nasceu a partir de uma atitude simples. Elida Rodrigues, moradora de Belo Horizonte, percebeu que havia sapatos novos sendo jogados no lixo próximo à sua casa. Ao investigar, descobriu que um vizinho unípede descartava sempre o pé que não usaria. Uma corrente do bem iniciada por ela destinou os sapatos a outros donos, evitando o desperdício e tornando-os úteis.

Inspirado nesse gesto, o SINBI abraçou a causa. “Somos a capital brasileira do calçado infantil. E, do ponto de vista social e sustentável, vimos que muitas dessas peças, que são amostras ou calçados de representantes, iriam para o lixo. Hoje, esses produtos são destinados ao sindicato e distribuídos”, explica Simone.

Mateus Cyborg (@maateuscyborg) recebe os calçados do projeto Impar desde bebê. Atualmente, ele representa o projeto como figura infantil. Imagem: Arquivo Pessoal.

Todos os pares são gratuitos. O frete, essencial para que o projeto atenda pessoas em todo o país, é custeado por empresas parceiras. Pessoas físicas também podem apoiar, doando calçados novos ou patrocinando os envios.

O que diz a lei?

A falta de uma legislação estadual e nacional específica indica uma realidade desconhecida. Na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 485/2024 propõe a obrigatoriedade da venda de apenas um calçado para pessoas unípedes, sem restrições de modelo. O texto também determina que o valor cobrado não poderá ultrapassar 50% do preço de um par completo. Além disso, pares com numerações diferentes deverão ter o mesmo valor que os de numeração igual.

De autoria do deputado Josenildo (PDT/AP), o projeto já foi aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CPD) e pela Comissão de Indústria, Comércio e Serviços (CICS). Agora, aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) para seguir à votação.

Como doar ao projeto Ímpar ou receber?

Para doar, basta acessar o site do projeto e clicar em “Doe Agora”, no topo da página. Será necessário preencher um cadastro com nome, CPF, endereço e meios de contato. No último campo, deve-se informar o tipo de doação, seja calçados ou valor em dinheiro. Após o envio do formulário, a equipe do projeto entra em contato para dar sequência.

Quem deseja receber um calçado também deve acessar o site e clicar no botão “Adquirir”, em destaque na cor azul. Na nova aba, é preciso informar o gênero, qual pé será usado, o número e o tipo de calçado. Depois, é só preencher o cadastro com os dados pessoais. O prazo médio de envio é de 30 dias. A cada dois meses, é possível fazer uma nova solicitação. Confira aqui o site do projeto Ímpar.

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