PF localiza elo entre PT, dinheiro e dossiê

Cuiabá (AE) – Após um dia de intensas buscas em casas de câmbio, bancos e instituições financeiras de São Paulo, a Polícia Federal (PF) encontrou a prova definitiva que liga o PT ao dinheiro – R$ 1,75 milhão – arrecadado pelo partido para pagar a família Vedoin pela compra e divulgação do dossiê anti José Serra. A PF já tem os nomes de todos os envolvidos na operação de recolhimento do dinheiro – R$ 1,16 milhão e US$ 248,8 mil – e sua entrega em duas remessas aos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, que foram presos quando estavam hospedados no Hotel Ibis, próximo ao aeroporto de Congonhas.

A PF descobriu que pelo menos dois emissários designados pelo Diretório Nacional do PT ficaram encarregados de resgatar os dólares nessas casas de câmbio e os reais em agências de três bancos em São Paulo e no Rio. Esses emissários são o elo para fechar toda a cadeia de comando da operação.

Até agora, sete petistas estão formalmente investigados como suspeitos de envolvimento direto com o escândalo. As diligências de ontem podem levar ao indiciamento de ao menos outros cinco integrantes do partido. Eles devem responder a processo por crime eleitoral, ocultação de documentos de interesse da Justiça, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A divulgação das informações, com os nomes dos responsáveis e a tipificação dos crimes de cada um, todavia, depende de uma checagem final que está sendo feita pelo Ministério Público e a PF, além de uma consulta ao juiz federal Marcos Alves Tavares, ao qual o processo está submetido, uma vez que o caso corre sob segredo de Justiça.

A identificação da procedência dos dólares foi facilitada porque as cédulas eram virgens, estavam em série numerada e os dois maços em que foram encontradas eram embalados em fitas do Bureau of Engraving and Printing (BEP), espécie de Casa da Moeda americana.

Quanto à parte do dinheiro em reais (R$ 1,16 milhão), o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informou que só deverá esclarecer sua origem depois da eleição. Até agora só se sabe da origem de R$ 25 mil, dos quais R$ 15 mil foram sacados na agência do Bradesco no bairro da Barra Funda, em São Paulo; R$ 5 mil na agência do BankBoston na Lapa e R$ 5 mil no Banco Safra.

Dólares rastreados

A Polícia Federal identificou também na noite de ontem o banco que recebeu legalmente os dólares que seriam usados por petistas na suposta compra de um dossiê contra os candidatos do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e a presidente, Geraldo Alckmin. Os US$ 248 mil apreendidos com Gedimar Passos e Valdebran Padilha chegaram ao Brasil por intermédio do banco Sofisa, de São Paulo. O banco teria recebido os dólares e distribuído pela transportadora Brinks para corretoras, agências de viagens e doleiros.

Partido pede punição para procurador

Brasília (AE) – O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), protocolou ontem no Conselho Nacional do Ministério Público uma reclamação contra o procurador da República Mário Lúcio Avelar, lotado no Mato Grosso, que investiga a participação de petistas na compra do chamado dossiê Vedoin. Na ação, o PT pediu a abertura de procedimento administrativo e disciplinar contra Mário Lúcio, acusando-o de ?abuso? e ?arbitrariedade?. A Justiça Federal acolheu os pedidos.

Mário Lúcio foi o responsável pelo pedido de prisão de seis petistas, três deles diretamente vinculados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Freud Godoy, ex-assessor especial de Lula; Oswaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho e coordenador do programa de trabalho e emprego da campanha à reeleição; e Jorge Lorenzetti, churrasqueiro do presidente e ex-chefe do serviço de inteligência do comitê de campanha. Também estão com a prisão decretada Expedito Afonso Veloso, ex-diretor da área de riscos do Banco do Brasil; o advogado Gedimar Passos, que trabalhava no comitê de Lula; e o empresário Valdebran Padilha, que cuidava da arrecadação de dinheiro para o PT de Mato Grosso.

Na reclamação, o PT afirmou que Mário Lúcio agiu com ?abuso, arbitrariedade, violência e descomedimento de insinuações desprovidas de embasamento fático que, além de politizar ainda mais um procedimento investigativo, violam direitos e garantias fundamentais e, desse modo, desbordam e abusam da competência do membro do Ministério Público?.

Prisão

Ricardo Berzoini também criticou ontem a decisão da Justiça Federal de Cuiabá de decretar a prisão de seis petistas envolvidos com a compra do dossiê Vedoin. ?Foi uma decisão absolutamente midiática, sem nenhum efeito prático, porque a lei eleitoral diz que eles nem podem ser presos?, afirmou Berzoini. ?Foi decidida por uma juíza substituta, quando o titular já havia negado a decretação da prisão?, criticou Berzoini. ?E, prisão, para quê? Todo mundo tem endereço conhecido, todo mundo está colaborando com a Polícia Federal?, afirmou.

Voltar ao topo