O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu a sua versão sobre o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em um pronunciamento oficial na tarde desta sexta-feira (24). Ao lado dos ministros, Bolsonaro falou por 45 minutos e rebateu as graves acusações feita por Moro, nesta manhã, na coletiva que selou sua saída do governo.

continua após a publicidade

“Você não vai me chamar de mentiroso. Não existe uma acusação mais grave que um homem cristão, militar e presidente da República. Não posso aceitar minha autoridade confrontada por qualquer ministro”, respondeu Bolsonaro.

VEJA MAIS – Acusado por Moro de interferir na PF, Bolsonaro pode responder por cinco crimes

Sergio Moro deixou o governo após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal (PF), o delegado Maurício Leite Valeixo, homem de confiança de Moro. O governo federal ainda não definiu quem vai ser o novo ministro. O ex-ministro revelou: “o presidente me disse mais de uma vez que queria alguém que ele pudesse ligar e pegar informações”.

continua após a publicidade

Bolsonaro respondeu as acusações, defendeu que Valeixo queria deixar o cargo de diretor-geral e acusou Moro de exigir que ele fosse recomendado para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, em novembro, quando se abre uma vaga para a cadeira do STF.

LEIA MAIS – Cloroquina no tratamento da covid-19 ainda não é recomendação do Ministério da Saúde

continua após a publicidade

“O Moro disse para mim: ‘você pode trocar o Valeixo, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal’. Eu falei me desculpe, não é por aí”. disse Bolsonaro. “Falaram em interferência, mas se posso trocar o ministro, porque não posso trocar o diretor? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém”, completou o presidente. “Moro disse que poderia fazer a troca, mas ele teria que indicar. Mas por que tem que ser o seu indicado e não o meu? Por que não vamos pegar os que têm condições e fazer um sorteio?”, questionou o presidente.

Logo após o pronunciamento, Sergio Moro negou em sua conta no Twitter que a permanência de Valeixo foi usada como moeda de troca. “Se esse fosse o meu objetivo, teria concordado com a substituição do diretor-geral da PF”, afirmou Moro.

Caso Marielle Franco

Bolsonaro também acusou de Moro de dar prioridade às investigações do assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL), morta em março de 2018, ao invés da Polícia Federal investigar a facada que o presidente sofreu quando ainda era candidato, na eleição de 2018.

O atentado foi cometido durante um comício, em Juiz de Fora, Minas Gerais, e o autor do crime, Adélio Bispo de Oliveira, foi preso em flagrante. “A PF se preocupou mais com Marielle do que com seu chefe supremo”, reclamou Bolsonaro.

LEIA AINDA – Lojistas tentam reverter fechamento do PolloShop para manter empregos

Bolsonaro também citou as acusações feitas contra ele na investigação do morte Marielle. Durante o pronunciamento, Bolsonaro disse que seu filho foi acusado de namorar a filha de um dos acusados do crime, o sargento reformado da Polícia Militar, Ronnie Lessa.

“Apareceu que meu filho 04 teria namorado a filha desse ex-sargento. Eu chamei o meu filho, abre o jogo. Ele respondeu. “Pai, eu sai com metade do condomínio, eu nem lembro quem era”, externou Bolsonaro.

Não alinhado com o governo

Bolsonaro também criticou Moro por não estar alinhado ao governo. Ele chamou o ex-juiz federal de desarmamentista e criticou a postura dele durante a pandemia do coronavírus, por acreditar ser arbitrária a decisão dos governadores e prefeitos de restringir a mobilidade das pessoas por conta do isolamento social. “Os ministros têm obrigação de seguir o que prometi durante a campanha. Se não, ele não está no governo certo”, cravou o presidente.

LEIA TAMBÉM – Jair Bolsonaro demite Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal

Por fim, Bolsonaro leu uma carta em que ele fala que está decepcionado com Moro.

“Estou decepcionado e surpreso com o seu comportamento, não me procurou e preferiu uma coletiva de imprensa para comunicar a suas decisões. E não são verdadeiras as insinuações que eu queria interferir nas investigações que estavam sendo realizadas”, finalizou.