O sonho do corpo perfeito virou pesadelo. Uma mulher de 40 anos ficou com necroses extensas e deformidades permanentes depois de passar por uma série de cirurgias plásticas feitas em um único dia, em Florianópolis, Santa Catarina. O procedimento durou cerca de 12 horas, e a paciente precisou ficar internada por longo período por causa das complicações. O médico responsável, Marcelo Evandro dos Santos, foi condenado na semana passada por lesões corporais graves, segundo decisão da Justiça de Santa Catarina.
Para o Dr. Luiz Haroldo Pereira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e pioneiro da técnica de lipoaspiração no país, o caso é um exemplo de erro técnico associado à falta de critérios de segurança.
“Não é aceitável fazer 12 ou 15 cirurgias em um único paciente. Normalmente, podem ser feitas duas ou três, dependendo da estrutura hospitalar, da equipe e do tempo total de operação. O que não pode acontecer é ultrapassar o tempo seguro e colocar o paciente em risco”, afirma.
Técnica e tempo: os principais fatores de risco
Segundo o especialista, o tempo cirúrgico prolongado é um dos maiores fatores de complicação. “Uma cirurgia feita até quatro horas, em hospital, com anestesista e exames atualizados, é segura. Acima disso, o risco cresce muito”, explica.
O médico acrescenta que, na lipoaspiração, o limite seguro é retirar até 7% do peso corporal em gordura, sempre respeitando a anatomia. “Quando o profissional tenta exagerar no contorno, retira gordura demais ou faz enxertos de forma inadequada, o resultado deixa de ser estético e passa a ser destrutivo. Não existe beleza em uma cirurgia mal planejada”, diz.
“Não é risco cirúrgico, é erro técnico”
Para o Dr. Luiz Haroldo, casos como o de Florianópolis não podem ser tratados como acidentes inevitáveis. “Risco cirúrgico é algo imprevisível, que pode ocorrer mesmo com todos os cuidados. É como andar de avião: é super seguro se todas as precauções forem tomadas, mas uma fatalidade pode acontecer. O que aconteceu aqui não é isso. É erro técnico. Tempo exagerado, excesso de procedimentos e falta de domínio da técnica. Isso é evitável”, afirma.
Sequelas que podem durar para sempre
As consequências, segundo ele, são graves e de difícil reversão. “Quando a gordura é retirada demais, a pele fica colada na musculatura e perde a capacidade de regeneração. A paciente convive com cicatrizes e deformidades pelo resto da vida. Mesmo com experiência, há casos em que simplesmente não há o que fazer”, explica.
O especialista reforça que a escolha do cirurgião e do hospital é decisiva para a segurança. Ele orienta que “o paciente precisa confirmar se o médico é membro da SBCP, se o hospital tem estrutura adequada e se há equipe completa com anestesista e instrumentador. Cirurgia plástica é medicina, não é pacote de estética”, alerta.



